Demissões na polícia não acalmam protestos pela morte de Daunte Wright

O chefe da polícia de Brooklyn Center e a agente que disparou contra o jovem afro-americano apresentaram a demissão, mas o presidente da câmara da cidade admite ser ele a despedi-los. Mais de 60 pessoas foram detidas na terceira noite de protestos.

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A polícia usou gás lacrimogéneo para dispersar a multidão Reuters/LEAH MILLIS

Pela terceira noite consecutiva, centenas de pessoas protestaram em frente à esquadra da polícia de Brooklyn Center, no estado norte-americano do Minnesota, para exigirem reformas no policiamento após a morte de mais um cidadão negro durante uma operação policial. Na terça-feira, o chefe da polícia local e a agente que disparou contra Daunte Wright apresentaram a demissão, mas os confrontos prosseguiram e na última noite foram detidas mais 60 pessoas.

A notícia da demissão de Kim Potter e Tim Gannon foi dada pelo presidente da câmara de Brooklyn Center, Mike Elliott, um dia depois de o chefe da polícia ter sugerido que a agente sacou da arma por engano, quando a sua intenção era usar o Taser.

Elliott disse que o Conselho Municipal de Brooklyn Center aprovou uma resolução que pedia a demissão dos dois responsáveis, mas sublinhou que ainda não aceitou os pedidos – deixando em aberto a hipótese de despedir Potter e Gannon, o que teria consequências para as suas pensões de reforma e futuras oportunidades de trabalho nas forças de segurança.

“Eu espero que isto traga um pouco de calma à comunidade”, disse Elliott. “Queremos enviar a mensagem de que estamos a levar isto muito a sério.”

Nascido na Libéria, Elliott é o primeiro afro-americano a ser eleito presidente da câmara de Brooklyn Center. Desde a noite de domingo, o responsável tem manifestado o seu apoio à comunidade e compreensão pelos protestos na cidade.

“Todos estes jovens são parecidos com Daunte”, disse Elliott. "Eu sinto a dor deles. Sinto a raiva deles. E sinto o medo deles.”

60 detenções 

As demissões ocorreram após duas noites de protestos e confrontos entre manifestantes e a polícia em Brooklyn Center, parte de uma região já em estado de alerta por causa do julgamento de Derek Chauvin, o ex-agente de Mineápolis acusado de matar George Floyd em Maio de 2020.

Floyd, de 46 anos, morreu algemado e com o pescoço sob o joelho de Chauvin, e tornou-se no rosto dos protestos contra o racismo e a brutalidade policial que varreram os Estados Unidos no Verão passado.

Após o anoitecer de terça-feira, vários manifestantes atiraram garrafas e outros projécteis por cima de uma cerca em frente esquadra da polícia.

Os agentes ordenaram que os manifestantes se afastassem e começaram a avançar sobre a multidão, disparando gás lacrimogéneo e tiros não letais.

Numa conferência de imprensa, na terça-feira, a polícia disse que mais de 60 pessoas foram detidas na terceira noite de protestos.

Família de Floyd

Familiares e amigos de Daunte Wright, de 20 anos, juntaram-se nas imediações do tribunal de Mineápolis onde Derek Chauvin está a ser julgado.

Wright, que abandonou o ensino secundário por causa de uma deficiência de aprendizagem, foi recordado como um homem bondoso que trabalhava em vários sítios para sustentar a filho de dois anos.

Os dois irmãos e a namorada de George Floyd apareceram na conferência de imprensa e abraçaram a mãe de Daunte Wright, Katie Wright. A namorada de Floyd, Courteney Ross, disse que foi professora de Daunte Wright na escola.

As recordações da mãe de Wright e de outros familiares centraram-se nos últimos momentos de vida do jovem.

Katie Wright disse que o filho lhe telefonou depois de ter sido mandado parar numa operação de trânsito e que ela se ofereceu para mediar a situação com a polícia. Durante a chamada, ouviu a polícia ordenar que o seu filho saísse do veículo, seguindo-se um som de escaramuças.

Depois, a namorada de Wright telefonou-lhe a disse-lhe que o seu filho tinha sido morto. "Ela apontou o telefone para o banco do condutor e o meu filho estava lá deitado, sem responder. Foi a última vez que vi o meu filho.”

Pistola ou Taser

Daunte Wright, de 20 anos, seguia no carro com a namorada quando foi mandado parar por conduzir com um objecto pendurado no espelho retrovisor (um ambientador de cheiro, segundo a família) – uma infracção das regras de trânsito no Minnesota que, segundo a organização de defesa dos direitos civis ACLU, “é usada como pretexto para mandar parar jovens negros”.

De acordo com a polícia, o seguro do automóvel de Wright estava caducado e os agentes descobriram que havia um mandado de detenção em nome do jovem. Segundo o jornal The New York Times, o mandado foi passado por um juiz no ano passado, depois de Wright não ter comparecido em tribunal por duas infracções menores não especificadas.

Nas imagens divulgadas pela polícia, na segunda-feira, vê-se Wright a libertar-se do agente que estava a tentar algemá-lo e a entrar no carro. O mesmo agente tenta retirar o jovem do banco do condutor e ouve-se uma voz a gritar: “Taser! Taser! Taser!”

“Merda, dei-lhe um tiro”, diz a agente, mais tarde identificada como Kim Potter, uma veterana há 26 anos na polícia de Brooklyn Center. Wright ainda acelerou e fugiu do local, mas o automóvel acabou por chocar com outro veículo mais à frente.