Apresenta-nos a tua publicação.
Era uma vez Héracles, deus grego, que pedira ajuda a outro deus da mitologia grega de seu nome Atlas. Héracles solicitou a Atlas para segurar o mundo para assim poder guardar as maças de ouro, tarefa que lhe fora incumbida por Euristeu. Desde então o deus Atlas fora condenado a carregar o mundo às costas, tarefa árdua e penosa, mas valiosa.
Atlas Fanzine inspira-se na história da mitologia grega e é um projecto que nasce nos anos de intervenção da troika em Portugal. Deste modo, a fanzine Atlas tem um trabalho árduo, embora não tão duro como o do deus Atlas, de promover a cultura num período delicado para as artes. Inclusive, a imprensa nacional começava também ela a reduzir ou inclusive acabar com o editorial ligado às artes. A Atlas Fanzine nasce assim com a vontade de preencher lacunas, espaços vazios e pretende ser um espaço de divulgação e de crítica artística. Nestes termos, é imperioso e fundamental para as artes a sua divulgação e consequente crítica.
O próprio nome Atlas também nos remete para os livros de imagens e mapas geográficos. Neste caso pretendeu-se conceber uma plataforma de ideias mentais e mapas que cruzam diferentes áreas da cultura; arquitectura, cinema, literatura, artes plásticas, escultura e música. Atlas Fanzine dialoga para o público mas também pretende ser uma plataforma de ensaio e de apoio aos artistas. Inspirados no Atlas Mnémosyne, de Aby Warburg, investimos numa fanzine imagética e com conteúdos visuais que apresentam as obras e as exploram cruzando autores e trabalhos de modo a conceber narrativas visuais novas e inéditas. Atlas Fanzine é ensaiado como que um museu e os seus autores são curadores que ensaiam múltiplas abordagens das obras apresentadas.
Quem são os autores?
A Atlas Fanzine é fruto dos diálogos entre amigos arquitectos e designers que necessitam de discursos culturais, referências de diversos autores que são âncoras para o seu pensamento profissional. Na arquitectura, durante o decurso de um projecto, sentimos necessidade de buscar referências que impulsionam as nossas decisões ou nos esclarecem. Por isso, é recorrente abordar diferentes autores e temas mais ou menos relacionados com as artes. E nestes diálogos o director editorial, Pedro Colaço Leal, lançou o projecto por sentir ser interessante buscar informação de diferentes autores para além daquilo que existe nos livros ou nas páginas de internet. É diferente ler e observar o trabalho de autor e fazermos nós próprios as perguntas directamente a esse mesmo autor e perceber as paixões discretas que alimentaram os processos e que não estão visíveis. Também o Miguel Salvador, arquitecto e colega de profissão e que promovia tertúlias de arte (Projecto T.Arte), ajudou a impulsionar a ideia de construir uma plataforma física e o Nelson Luís, designer, contribuiu no design editorial da revista e auxiliou na estruturação dos conteúdos.
O projecto foi magnífico para os autores poderem ensaiar novas ideias. O Pedro Leal construía os conteúdos e as narrativas da Atlas Fanzine, os textos são da sua autoria. O Nelson ajudou a criar as narrativas visuais que a Atlas pretendia e explorou um design editorial sem nos preocuparmos com patrocínios - esta é uma publicação totalmente independente que nos dá liberdade para explorar novas abordagens estéticas e conceber uma estrutura completamente livre. Pese embora, os diminutos recursos financeiros fazem-nos encurtar o número de páginas e não podemos apresentar todo o conteúdo que queremos. Temos liberdade mas também alguns condicionalismos. Este processo é muito interessante: planear os conteúdos também de um ponto de vista prático financeiro. Por isso, a Atlas é uma fanzine, mas pretende-se que seja uma semente que flua para algo com uma escala maior para não perdermos conteúdos que podem ser relevantes tornarem-se públicos.
Do que quiseste falar?
Como primeiro objectivo queremos divulgar os autores e, em segundo, promover o trabalho e as ideias. Depois temos dois públicos-alvo: o público artístico que já está habituado a consumir conteúdos críticos de arte e, por isso, é um público especializado; e pretende-se que a Atlas Fanzine possa também comunicar com o espectador ou consumidor de arte. Deste modo, ensaiamos muito a linguagem da Atlas. Queremos comunicar de um modo simples e claro e pretende-se que a Atlas possa ser lida, por exemplo, pelas crianças. Não queríamos conceber um projecto que ficasse absorto nas guildas do museu mas antes uma plataforma penetrável por diferentes públicos e o tipo de linguagem usado é muito cuidado para se tornar acessível e que não perca valor científico.
Numa terceira parte, planeamos os autores que deveriam ser abordados. O objectivo imperioso é divulgar a arte nacional, mas não nos restringimos a autores nacionais e exploramos também autores estrangeiros para que a Atlas seja uma plataforma internacional. Só assim, ao aproximar autores de diferentes latitudes, podemos conceber um projecto editorial que apoia as artes de um modo amplo e transversal. Inclusive ajudamos a que os artistas nacionais conheçam outros autores de latitudes longínquas e ajudamos a que os autores estrangeiros nos conheçam.
Abordamos autores nacionais tais como a artista plástica Ana Pérez-Quiroga num momento em que a autora estava a passar uma temporada no Porto e a desenvolver o seu projecto “?De que casa eres? Los niños de Rusia, episódios de um quotidiano”. Foi muito interessante abordar o trabalho da artista e o modo como essa abordagem foi feita. Tivemos vários pontos de entrevista em diferentes lugares do Porto. A entrevista foi quase como que uma actividade performática.
Também abordamos outros autores nacionais como é o caso dos FAHR 021.3, um escritório de arquitectura fundado pelos arquitectos Filipa Frois Almeida e pelo Hugo Reis. Nesta abordagem a uma das suas obras, foi relevante observar o raciocínio dos arquitectos que muitas das vezes não são divulgados. É-nos relevante abordar as obras de um ponto de vista de divulgação mas também promover a sua crítica e cruzar estes dois objectivos.
O Projecto 23 Milhas, cujo curador é o Luís Sousa Ferreira, tornou-se num exercício de perceber a concepção de um projecto artístico, como se constroem os programas e conteúdos. No que concerne aos autores internacionais, salientamos a artista Dara Vandor, do Canadá, Zohra Orchestra, do Afeganistão e a Fatma Shanan ,de Israel. Procuramos desvendar artistas internacionais cujo trabalho artístico tem um peso social forte, como é o caso do grupo musical Zohra Orchestra. No dia da entrevista, via Skype, ao falarmos com o director Ahmad Sarmaste, ele falava-nos que tudo era incerto e não sabia se após a entrevista iria sofrer um atentado à bomba. Impressiona o facto de a arte não ser completamente acessível no mundo.
Actualmente, estamos a desenvolver a terceira edição da Atlas Fanzine em que iremos abordar autores como o arquitecto João Paulo Rapagão ou o escultor Rui Chafes.
Questões técnicas: quais os materiais usados, quantas páginas tem, qual a tiragem e que cores foram utilizadas?
A Atlas Fanzine nº 1 foi escrita pelo director editorial Pedro Colaço Leal e Miguel Salvador e o design editorial também foi da autoria do Pedro Leal. A Atlas nº 2 foi escrita pelo seu director editorial e o design editorial é da autoria do designer Nelson Luis.
De dimensão A5, ambas as edições apostam num formato pequeno e de fácil manuseamento. Impressas a cores ambas as edições em que no Atlas Fanzine nº 2 a aposta na cor amarela prevalece. Ambas as edições são realizadas em impressão digital. A tiragem média de cada edição é de 100 exemplares.
Onde está à venda e qual o preço?
A Atlas Fanzine nº 2 encontra-se à venda via email (atlasfz@sapo.pt) e custa 10 euros.
Porquê fazer e lançar edições hoje em dia?
O suporte físico é um meio offline que ainda tem um significado relevante. O acto de manusear a obra e a podermos ler na viagem de comboio ou num lugar onde não tenhamos rede de internet é interessante. Pese embora os meios online são vertiginosamente mais divulgados, porém o tempo flui de um modo mais rápido e a necessidade recorrente de actualizar conteúdos é galopante. Pelo contrário, uma edição impressa tem um tempo mais demorado e transforma-se num objecto estético que podemos adquirir no espaço físico.
Recomenda-nos uma edição de autor recente lançada em Portugal.
Destacamos o livro Team Tem Farwest: Guimarães 2017, Barcelona 2018, publicado pela editora Circo de Ideias e com edição de Pedro Baía. É uma obra de revisão histórica indispensável para percepcionar de um ponto de vista ibérico o legado do Team 10, fundamental para a história da arquitectura internacional.