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A pistola de Ana Miguel “ganha vida” e só pára quando nascem tapetes cheios de cor
O novelo vai-se desfazendo mais rápido do que Ana Miguel Silva se apercebe. Quando se dá conta, os últimos centímetros de linha já estão a passar-lhe por cima do ombro e a sair disparados pela ponta da pistola, transformando as linhas pretas que desenhou na tela num pedaço de lã colorido. Quando isso acontece, é altura de pousar a pistola, desempacotar mais dois novelos, colocar cada um numa caixa e fazer as pontas de ambos unirem-se e passarem por uma argola pendurada num cabide. De lá, puxa-os até entrarem na pistola, que é encostada a uma tela tão esticada “como um tambor”. Depois, é só seguir as linhas. E se de um lado só vemos os pontos, do outro já vemos um tapete a nascer.
No dia em o P3 a visita, em Vila Nova de Famalicão, está a começar um tapete. O desenho já está feito: é criado a partir de referências de pinturas, de cores, de imagens que vai encontrando e gosta. Depois, é projectado numa tela e transposto. A partir daí, é só começar a disparar.
Licenciada em Design de Produto, Ana Miguel achava que a sua vocação estava ligada aos interiores, até pela ligação da mãe e da avó à área. A garagem onde agora cria os tapetes foi, outrora, o atelier onde as duas se dedicavam à criação, é uma espécie de incubadora criativa da família. O estágio mostrou-lhe que, afinal, “não era bem aquilo” que se imaginava a fazer. E, em Agosto de 2020, descobriu que era na tapeçaria que queria investir. “O meu namorado queria oferecer-me um tapete. Andámos à procura e percebemos que, se calhar, a solução seria nós fazermos o tapete, em vez de comprá-lo”, conta ao P3. Tratou de comprar todo o material — a lã, a tela, a pistola —, e começou a aprender como fazer tapetes.
Agora, nem um ano depois, já trabalha dois segmentos diferentes: tem a sua própria linha, onde cria tapetes mais abstractos, marcados por cores coloridas; e uma linha de tapetes personalizados, onde os clientes indicam o desenho que querem ver transposto para um tapete. E as encomendas já lhe ocupam grande parte da vida: “A pistola agora é a minha companheira. De dia e de noite. Às vezes ganha vida e não pára”, ri. A elas junta-se Sílvia Gonçalves, a mãe de Ana Miguel. “Há sempre um voluntário para ajudar no processo de criação”, garante Sílvia. “Que é a mãe. Os outros fogem sempre”, completa a jovem de 25 anos.
E o projecto não se esgota aqui: Ana Miguel quer criar um atelier de arte, onde pessoas que dominem diferentes técnicas se juntem e partilhem conhecimentos. Afinal, sabe como é produtivo trabalhar num espaço que já carrega tantas inspirações. Para já, continua agarrada à pistola. E já não se vê a fazer outra coisa. “As duas temos feito estas obras bonitas.”