Cabo Delgado: polícia encontra 12 corpos decapitados que acredita serem de estrangeiros

Os indivíduos de raça branca terão sido mortos no ataque à vila de Palma. Líderes da SADC decidem enviar missão técnica ao Norte de Moçambique. Nova cimeira agendada para daqui a três semanas.

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Centro de acolhimento temporário de deslocados LUIS MIGUEL FONSECA/EPA

Os corpos decapitados de 12 homens, que a polícia moçambicana acredita serem de estrangeiros, foram encontrados em Palma, numa altura em que forças governamentais voltaram a assumir o controlo da capital de distrito atacada por insurgentes jihadistas a 24 de Março.

“Eram brancas, 12 pessoas de raça branca. Eram todos estrangeiros, não sei, não posso dizer as nacionalidades”, afirmou Pedro da Silva, comandante da polícia local em entrevista à Televisão de Moçambique (TVM).

A notícia foi confirmada ao mesmo canal pelo brigadeiro Chongo Vidal, porta-voz do Teatro Operacional Norte, referindo que uma equipa forense já foi chamada com carácter de urgência para a devida identificação dos restos mortais.

“Estavam amarrados e decapitados”, explica Pedro da Silva, que levou a equipa de televisão ao local onde diz que enterrou os corpos.

As imagens da televisão foram feitas junto ao Hotel Amarula, onde se refugiaram muitos estrangeiros e figuras da administração local no dia do ataque dos jihadistas a Palma, a 24 de Março. Tentando fugir do local, uma caravana de automóveis acabaria por ser apanhada numa emboscada, da qual resultaram sete mortos, todos estrangeiros.

A notícia chega numa altura em que alguns chefes de Estado da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) – os da chamada Dupla Troika da organização regional – reuniram de urgência em Maputo, numa cimeira em que, mais uma vez, Moçambique não pediu a intervenção de tropas de outros países para auxiliar as suas forças no combate à insurreição armada de carácter jihadista que enfrenta em Cabo Delgado.

“Não é uma questão de orgulho, mas de soberania”, afirmara na quarta-feira o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi. Esta quinta-feira, na cimeira, o chefe de Estado moçambicano pediu, isso sim, maior controlo fronteiriço por parte dos seus vizinhos, de modo a impedir que combatentes estrangeiros venham engrossar as fileiras do Al-Shabaab moçambicano (que nada tem a ver o Al-Shabaab somali e que pouco terá a ver com o Daesh).

Entre as “medidas concretas que os países da SADC devem implementar para o combate ao terrorismo está o reforço do controlo fronteiriço entre os países”, disse Nyusi, acrescentando que os países da SADC devem também partilhar informação entre si.

“São os nossos cidadãos que se juntam aos cidadãos de outros países, com estes usando falsas identidades, para moverem acções de terrorismo nos nossos países, o que demonstra a importância na partilha de informações entre os Estados”, afirmou.

Os seis presidentes de países da SADC (Moçambique, Malawi, Tanzânia, África do Sul Botswana e Zimbabwé) acordaram, por agora, enviar apenas uma equipa “técnica” para Maputo para analisar a situação, sem especificar quais são as tarefas a realizar nem a sua composição.

Classificando os ataques de Palma, que mataram mais de 50 pessoas e obrigaram 13 mil a fugir como “hediondos” que “não podem continuar a ser permitidos sem a proporcional resposta regional”, os líderes da SADC marcaram uma cimeira extraordinária do Órgão da Troika para o dia 29.

ONU actualiza número de deslocados

Mais de duas semanas depois do ataque a Palma, e apesar das Forças de Defesa e Segurança já terem garantido o controlo da vila, o fluxo de gente que foge da violência na localidade do extremo Norte de Cabo Delgado mantém-se.

As Nações Unidas já contabilizaram até agora 12.800 deslocados, dos quais 43% são crianças, segundo os números avançados esta quinta-feira por Stéphane Dujarric, porta-voz do secretário-geral da ONU, numa conferência de imprensa em Nova Iorque.

Dujarric acrescentou ainda que a ONU e parceiros internacionais estão “a seguir de perto e com profunda preocupação” novos relatos de violência contra civis, “incluindo alegadas decapitações e relatos não confirmados do uso de crianças-soldados”.

A Organização Internacional das Migrações avança com números ainda maiores em termos de deslocados de Palma, falando em 16.444 pessoas, embora concordando na percentagem de crianças: 43%.

Segundo a Oikos, nos centros de acolhimentos dos refugiados “falta de tudo para suprir as necessidades básicas: alimentação, higiene e abrigo, sem esquecer a necessidade de apoio à protecção, nomeadamente da violência [contra] meninas e mulheres e às crianças no geral”. 

“É uma zona onde a insegurança alimentar aguda persiste”, acrescenta a Oikos em comunicado. “A maioria das famílias muito pobres esgotou as suas reservas de alimentos e as mais vulneráveis estão a envolver-se em estratégias de sobrevivência, incluindo o consumo de alimentos silvestres”, acrescenta. 

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