País da novela: Portugal e SP Televisão entre os maiores produtores de horas de ficção televisiva da UE
A produtora de Nazaré ou Terra Brava é a sétima que mais horas de ficção realizou em 2019 no conjunto dos então 28 países, espelhando o peso das novelas em Portugal. Relatório pré-pandemia mostra crescimento das séries e da produção para streaming.
Antes de a pandemia abrandar o ritmo, diminuindo a produtividade e aumentando os custos da produção de ficção televisiva, o sector estava em pleno crescimento na Europa. Um relatório divulgado esta quinta-feira mostra que Portugal foi o quarto país europeu que mais horas de ficção audiovisual produziu em 2019 e o segundo em que as novelas tiveram maior peso no período compreendido entre 2015 e 2019. Graças a isso, a produtora SP Televisão está no número sete do Top 20 de empresas europeias com mais horas de ficção feitas em 2019, ano em que foram produzidos cerca de mil títulos, entre telefilmes, séries, mini-séries e novelas, e 12.500 horas de ficção televisiva na União Europeia.
O relatório do Observatório Europeu do Audiovisual (OEA) data de Fevereiro de 2020 mas só agora foi disponibilizado ao público e revela o cenário pré-covid-19 que transpirava optimismo e um crescimento contínuo da ficção de TV em geral e do formato série de dois a 13 episódios em particular – se em 2015 eram 422, em 2019 já eram 637 as séries produzidas na UE. Em contraste, os telefilmes estão em queda acentuada (menos 30%), tendo passado dos 396 produzidos em 2015 para apenas 280 quatro anos depois.
A estabilidade encontra-se nas novelas (mais de 52 capítulos) e nas séries longas (entre 14 e 52 episódios). A aposta nas séries faz com que se tenham produzido menos horas e menos episódios de ficção televisiva em 2019. Um pouco mais de metade das séries (52%), assinala o relatório assinado por Marta Jiménez Pumares, corresponde a novas temporadas de títulos pré-existentes.
Portugal não figura nos tops de países com mais produção de séries curtas, dominado por países com tradição nesse formato como Reino Unido (os dados respeitam ao pré-"/Brexit” e à UE a 28), Alemanha e França; a Alemanha é a maior produtora de telefilmes e de ficção audiovisual no geral. Mas a sétima maior produtora da UE em número de horas produzidas em 2019 é portuguesa, a SP Televisão, numa lista encimada pela Warner Media (detentora da HBO, da HBO Europe ou da HBO Portugal), do grupo RTL alemão ou da EndemolShine. Em 2019 a SP Televisão fez as novelas Terra Brava e Nazaré para a SIC e Alguém Perdeu para a CMTV, além de Conta-me Como Foi para a RTP1.
No retrato feito pelo observatório, Portugal continua a ser o país das telenovelas, num universo de países em que são os canais generalistas privados os principais produtores (ou encomendadores) da ficção televisiva; no que toca especificamente às séries mais curtas, são os canais públicos os grandes impulsionadores. Em 2018, Portugal era o terceiro país que mais horas produzia.
Os serviços de streaming ou vídeo on demand (VOD) eram em 2019 apenas uma alínea desta realidade, embora em crescimento. Em 2015 produziram na UE sete séries curtas e há dois anos já eram responsáveis por 56. A transposição da chamada “directiva Netflix” para a legislação dos Estados membros da UE está entretanto em curso e prevê-se que aumente a produção local das plataformas de streaming. A primeira série Netflix portuguesa, Glória, já foi filmada e a co-produção 3 Caminos esteve na Amazon Prime antes de se estrear na RTP. A SIC lançou em Novembro de 2020 o seu serviço de streaming por assinatura e é lá que está a estrear as suas séries de ficção como Esperança, O Clube, Generala ou a iminente Prisão Domiciliária.
Ao lado de Portugal na sua preferência pelas novelas estão a Hungria, a Polónia, Espanha e Grécia. Os países que mais horas produzem são Alemanha, Espanha, Reino Unido e Portugal. A Alemanha é o país com maior equilíbrio entre os géneros produzidos, com as séries com mais de 52 episódios a dominar logo seguidas das séries curtas e das séries de 14-52 episódios; os telefilmes alemães estão em queda mas ainda assim têm naquele mercado a maior expressão dos 28 países.
As co-produções caíram em 2019, depois de quatro anos sempre a subir. Havia nesse ano cerca de 1200 produtoras em actividade na UE – mas 39% de toda a produção estava nas mãos de cerca de 20 produtoras.
No período abrangido por este estudo, cerca de 10 mil argumentistas e 4400 realizadores trabalhavam em ficção televisiva; 44% dos realizadores de televisão já trabalharam em cinema; a maior parte dos argumentistas trabalha em grupo, com as salas de guionistas europeias a ter uma média de 2,6 profissionais a assinar um episódio de uma série.
O estudo tem por base informação do European Metadata Group, que analisa 176 canais e plataformas a operar na UE em busca de ficção europeia original, bem como dados do próprio OEA.