Exposição leva às ruas de Lisboa “o outro lado” do confinamento de 12 artistas
Há obras de 12 artistas de Portugal, Argentina, Brasil, Espanha e Moçambique espalhados pelas ruas de Lisboa durante o mês de Abril. Falam sobre as relações do ser humano com a natureza e as suas invenções e querem converter os transeuntes em apreciadores de arte.
A exposição Do Outro Lado vai levar fotografias de 12 artistas a painéis das ruas de Lisboa, para mostrar imagens, ao longo do mês de Abril, sobre as relações do ser humano com a natureza e com as suas invenções.
Organizada pela Art Dispersion, a exposição fotográfica reúne criações de 12 artistas de Portugal, Argentina, Brasil, Espanha e Moçambique, num projecto que contou com a curadoria de Bruna Lobo e a participação do Instituto Moreira Salles.
O deslocamento da arte da galeria para os painéis de rua “é uma audácia que contribui para a conversão momentânea dos transeuntes em apreciadores de arte, comprometidos unicamente com o sentir daquilo que está tão próximo”, afirma a curadora, citada, em comunicado, pela organização.
Rodrigo Bettencourt da Câmara apresenta a obra Museu em Montagem, sobre a nostalgia dos bastidores da produção artística, numa imagem sobrecarregada de objectos e de movimento que dá a conhecer o esforço de produzir os espaços das artes em contexto de pandemia.
Por seu turno, Filipe Branquinho, em Neblina, funde as paisagens através da natureza na sua totalidade, fruto de uma reflexão sobre o impacto de toda a actividade humana no meio ambiente, um tema também explorado por Bruno Veiga, que mostra como os elementos construídos pelo homem, para tornar a vida mais confortável, dominam a paisagem.
As relações entre o homem e a natureza, numa fotografia com um ramo vegetal florido, mas preso num herbário e meticulosamente dominado, da autoria da artista Teresa Palma Rodrigues, sob o título Corriola (Convolvulus), evoca também a necessidade humana de dominar a natureza.
Contudo em Los runners, do argentino Alberto Natan, há um alerta da perspectiva do “olhar tímido por entre os galhos das árvores das pessoas na rua, que pode ser as grades da natureza na qual estamos subordinados”.
Por seu turno, em Concierto para el Bioceno de Eugenio Ampudia, mais de 2292 plantas ocupam o lugar dos espectadores no Teatro El Liceu de Barcelona para assistirem ao concerto da peça Crisantemi, de Giacomo Puccini, numa imagem que desenvolve o antigo pensamento de que não é a natureza que é cega e sim o homem.
Esse homem é representado no seu auge em Selfie Me, de João Lobo, imagem do momento de uma selfie, da relação do homem com suas invenções: “Hoje, tirar fotografias é um modo de atestar uma experiência voyeurista. Ainda acreditamos que é a prova incontestável de nossa existência na terra”, afirma a curadoria.
A questão da importância da existência é levantada em Família no Enterro, de Evandro Teixeira, uma imagem que “estremece as bases existenciais”, enquanto o artista Thales Trigo fotografou a cumplicidade e harmonia em Somos Iguais, uma “imagem simples de um dos sentimentos mais nobres, o amor”.
A luta, na imagem de João Miguel Barros, é o desporto, mas transferido para o conceito de luta pela sobrevivência em tempos de pandemia, enquanto o portão trancado, pintado com a bandeira de Portugal, concilia esse momento do actual estado da nação.