Qual o número de novos casos hoje? O pânico no ar...

Por favor, tratem-nos como gente adulta e séria, com informação sensata e pragmática que tenha em vista a aceitação de algum risco com preservação de vidas e de convivência essencial, e não mero cálculo de novos doentes.

A pandemia por covid-19 provocou uma situação de catástrofe sanitária, económica, política e social de proporções que ninguém imaginaria possíveis há pouco mais de um ano. Durante anos receávamos que pudessem cair bombas e começar guerras com grande destruição de vidas e bens, e foi afinal um agente quase invisível, mesmo com microscópios poderosos, que alterou a vida humana como a conhecíamos, a nível mundial!

Todos os países foram gravemente afectados, com mortalidade dos grupos etários e sociais mais vulneráveis, bem como saturação dos serviços de saúde e tremendas consequências económicas.

Felizmente a ciência conseguiu superar-se e desenvolver, em tempo recorde, várias vacinas com recurso até a tecnologias inovadoras, mais depressa ainda do que medicamentos de eficácia comprovada para “matar o bicho”. O enorme esforço científico e industrial permitiu que programas de vacinação maciça tenham sido rapidamente implementados (ainda que mais devagar do que todos desejaríamos), primariamente nos grupos etários de maior risco. Isso explica uma significativa diminuição da mortalidade, ainda que o número de novos casos de infecção tenha flutuações inevitáveis à medida que se vão aliviando as restrições à mobilidade e socialização das populações. Reabrir as escolas significaria inevitavelmente aumento do número de infecções pelo movimento na rua e transportes públicos que implicaria.

Ainda que as crianças sejam factores pouco significativos de transmissão da infecção ou da sua gravidade, são susceptíveis de ser contagiados por adultos e contam para o total de novas infecções diárias. Igualmente, a reabertura da actividade profissional e comercial tem inerentes riscos de novos casos, apesar das recomendadas medidas de protecção. No entanto, é evidente que o benefício social, educativo e económico dessa reabertura tem importância enorme que justifica o risco calculado e aceitável.

Todavia, num momento em que parte significativa da população idosa, sanitária e docente começa a estar protegida, reduzindo razoavelmente o risco de novos contágios e, sobretudo, de doença grave, seria sensato começar a incluir nos cálculos sanitários e epidemiológicos, o factor gravidade. Diariamente lemos os números de novas infecções, mortalidade, internamentos em enfermaria e em cuidados intensivos, bem como o famoso Rt, que nos transformam a todos em epidemiologistas-comentadores. Todavia, a matriz que mede o risco colectivo não tem uma 3.ª dimensão – gravidade – essencial para avaliar se os novos casos estão também a significar aumento do risco de mortalidade. Já todos percebemos que a infecção pelo novo coronavírus não vai desaparecer “depois de amanhã” e que teremos de conviver com ele como já fazemos com muitos outros agentes infecciosos correntes. A infecção em grupos etários mais jovens tem algum risco, mas bastante menor do que a população idosa que foi gravemente afectada nos dias mais negros das repetidas vagas da pandemia.

Se aplicássemos a mesma matriz de risco à gripe sazonal, estaríamos provavelmente em confinamento há muitos anos, pois regularmente há períodos de grande número de casos, com elevada taxa de contágio, significativa morbilidade e até mortalidade.

A continuação do esforço vacinal generalizado deve levar-nos a uma nova atitude de convivência cautelosa com este novo risco infeccioso, mas em termos sensatos, sem alimentar o enorme pânico público até que todos os casos tenham desaparecido.

Precisamos de retomar uma nova normalidade, mais avisada e cautelosa, sem dúvida, mas também com boa dose de sensatez perante a inevitabilidade do cenário que perdurará ainda por bastante tempo.

Por favor, tratem-nos como gente adulta e séria, com informação sensata e pragmática que tenha em vista a aceitação de algum risco com preservação de vidas e de convivência essencial, e não mero cálculo de novos doentes.

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