Primeiro-ministro holandês sobrevive a moção de censura
Mark Rutte foi acusado de mentir durante as negociações para a formação do próximo Governo e de planear oferecer um cargo a um deputado crítico.
As negociações para a formação de um novo Governo nos Países Baixos, lideradas por Mark Rutte, estiveram seriamente em risco, depois de o Parlamento ter apresentado uma moção de censura ao primeiro-ministro holandês na quinta-feira, argumentado que “não tinha falado a verdade” durante as discussões com os partidos. A moção foi, no entanto, chumbada já na madrugada desta sexta-feira.
“O Parlamento enviou-me uma mensagem séria e vou dar o meu melhor para reconquistar a sua confiança”, disse Rutte aos jornalistas, depois do debate. “Tratou-se de uma questão muito grave e por isso peço desculpa”. Ainda não é, no entanto, claro, quando e de que forma é que as negociações para a formação do Governo vão ser retomadas.
O Partido para a Liberdade e Democracia (VVD), de Rutte, obteve uma vitória clara nas eleições legislativas de 17 de Março, vistas pelos analistas como um referendo à forma com o Governo holandês tem lidado com a crise pandémica.
Mark Rutte exerce o cargo de primeiro-ministro há mais de 10 anos.
Sigrid Kaag, líder do D66 – o segundo partido mais representado no Parlamento – disse que ainda não sabia se iria juntar-se ao executivo de Rutte.
“Se eu fosse ele [Rutte], não continuaria”, afirmou, depois de questionada sobre a actuação do primeiro-ministro.
A crise começou na quinta-feira, depois de Rutte ter assumido a existência de conversas privadas sobre que cargo poderia ser atribuído ao deputado Pieter Omtzigt, do Apelo Democrata Cristão (CDA), que já integrou coligações com o VVD.
Omtzigt é um dos principais críticos do primeiro-ministro e ajudou a expor o escândalo com abonos de família que precipitou a queda do Governo.
As discussões para a formação do executivo foram subitamente interrompidas no dia 25 de Março, depois de uma das responsáveis pelas negociações ter revelado inadvertidamente um documento sensível a um fotojornalista, quando saía do Parlamento à pressa.
O documento mostrava que os negociadores estavam a discutir a atribuição de um cargo “em qualquer lado” a Omtzigt. A referência foi interpretada no sentido de que se estaria a pensar num posto fora do Parlamento ou fora dos Países Baixos, de forma a retirar o deputado do espaço mediático.
Omtzigt reagiu duramente, dizendo que uma discussão sobre o seu possível afastamento era “uma afronta ao eleitor holandês”.