O Canal Panda, denominador comum de gerações de miúdos portugueses, faz 25 anos
A geração TV Cabo conheceu-o em 1996 e com ele se enturmou com o Noddy, o Pocoyo e a Ovelha Choné, foi ao seu primeiro festival ver os Caricas – e fez muitas compras. A directora de programas do canal fala ao PÚBLICO das “famílias Panda”, da publicidade e do streaming.
Há várias gerações portuguesas que já não vêem o panda como um simples animal. O Canal Panda nasceu há 25 anos e hoje é um denominador comum para aqueles que cresceram com ele em casa. Mas, mais do que um canal, é uma marca com um festival, um musical, uma revista e muito merchandising. Um fazedor de êxitos junto das “famílias Panda”, como lhes chama a directora do canal, Susana Gomes.
O canal, que nasceu a 1 de Abril de 1996 sob o nome de Panda Club, já foi líder no seu segmento em Portugal, batendo chancelas internacionais como a gigante Disney e muitos outros canais na televisão por subscrição. Hoje, porém, o Disney Channel, o Cartoon Network e o Nickelodeon roubam-lhe atenção. Mas está sempre no top 20 dos mais vistos, com “muitos milhares de crianças” em frente ao televisor, diz Susana Gomes. A responsável pega no mês de Março para garantir: “O Canal Panda foi o canal pré-escolar mais visto do cabo, à frente dos seus concorrentes directos.”
Numa entrevista por email, Susana Gomes fala ao PÚBLICO deste 25.º aniversário em tempos de streaming, da produção nacional – o Panda conta com mais de 20 produções próprias – e da estreia que esta quinta-feira dá início à festa de anos do canal: A Ilha do Panda, apresentada como a sua maior produção própria, “o maior investimento de sempre”, filmado em 4K pela SP Entertainment na Tapada de Mafra e na Arrábida. “[Damos] muita importância à produção local, uma vez que já se comprovou que funciona, pelo reconhecimento e pela proximidade que gera nas nossas crianças”, explica a programadora, vincando o desejo do canal de desempenhar “um papel activo também no seu desenvolvimento” e de ser “um porto seguro” para o seu público-alvo. “Tentamos ter entre uma a duas produções próprias por ano e sabemos que é uma boa aposta.”
Em exclusivo ou partilhando-os com outros canais, da RTP2 aos concorrentes directos entre os canais temáticos, o canal Panda trouxe a muitos miúdos êxitos que a geração TV Cabo conhece bem – são o que Susana Gomes apelida de “clássicos que nunca desapontaram”, em versão original ou remake. “Programas como o Noddy, Heidi, Abelha Maia e Porquinha Peppa são um contínuo sucesso. O Ruca, Pocoyo e Ovelha Choné são outros exemplos de séries que consolidaram a sua marca no nosso canal”, elenca, completando com sucessos mais recentes como “Super Wings, Masha e o Urso, Ricky Zoom, Wally, Simão ou O Lobo”. Brevemente, no dia 12, o canal estreará em Portugal a versão animada do boneco italiano Topo Gigio, que marcou a geração de 1970 e 80 em Portugal.
Como se mede o sucesso desses desenhos animados ou programas de acção real? Pelas audiências, pelas conversas e brincadeiras das crianças, mas também pela proliferação de merchandising – de material escolar a brinquedos, passando por cromos ou roupas – nas vidas das “famílias Panda”. Questionada pelo PÚBLICO sobre o peso do potencial de mercado na escolha dos programas que passam no canal, mas também na sustentabilidade do Panda – sendo que o próprio Panda é um produto infinitamente replicável –, Susana Gomes diz: “Mais do que trazer marcas comercialmente fortes, queremos que as mesmas sejam seguras e tenham em conta todos os critérios que valorizamos, que sabemos que os pais e filhos vão identificar como essenciais no desenvolvimento dos mais novos.”
E a programadora atribui ao Panda uma autonomia imaginária, a condizer com o seu peso e protagonismo. “Para além disso, temos o Panda como principal anfitrião. Sabemos o quanto ele gosta de ter esse papel activo na vida das crianças e o quanto é acarinhado por todas. Por isso mesmo, queremos que elas sintam que ele está diariamente presente nas suas casas.”
Os temas da pedagogia e do desenvolvimento infantil são uma constante no discurso da directora de programas do canal. “Programar um canal infantil é mesmo ter responsabilidade sobre a evolução e o desenvolvimento da aprendizagem e da sensibilidade das crianças”, responde. Todos os conteúdos comprados, garante Susana Gomes, “são criteriosamente visionados”: “Sabemos o desenrolar das histórias, temos acesso aos guiões para entender se tudo é seguro e confortável para filhos e pais. Queremos ter connosco séries que promovem a aprendizagem, mas também os valores de respeito, união, entreajuda, espírito de equipa, força e resiliência.” Neste âmbito, menciona “aquelas que são consideradas as melhores séries pré-escolares do ano: Esme & Roy (dos mesmos criadores da Rua Sésamo) e também Onde Está o Wally”.
Um mercado em mudança
Sentados ou a dançar frente ao televisor, os mini-espectadores do Panda e os seus pais também vêem publicidade. Recentemente surgiram no canal anúncios a suplementos de melatonina, quando há especialistas que criticam o uso crescente desses produtos em crianças. “A publicidade do Canal Panda é comercializada pela Nos Publicidade” e cumpre as regras legais, responde Susana Gomes. “Não temos argumentos para os proibir. Quando existem dúvidas, pedimos sempre um parecer jurídico e, no caso que mencionam, para além de existir esse parecer que autorizava a sua emissão, o spot já estava a passar nos restantes canais infantis. Mas mesmo assim, por ser um caso sensível, solicitámos a sua retirada e tivemos toda a colaboração tanto do anunciante como da Nos Publicidade”, diz a responsável por email.
As cantorias da banda Panda e os Caricas ou de Xana Toc Toc saltaram do televisor e do YouTube em 2008 com o nascimento do Festival Panda; o musical com os Caricas marca os Natais de muitas famílias. Foi “um passo natural”, diz Susana Gomes, porque “as crianças adoram música, dançar e cantar” e “tendo em conta o elevado repertório” do canal. Sobre os planos para o futuro destes espectáculos no pós-pandemia, Susana Gomes diz apenas que “a música continuará, sem dúvida, a ser aposta forte do Canal Panda”.
O mercado dos canais e da programação infantis é competitivo e nos últimos anos a fasquia subiu e acelerou com o streaming, seja com a Netflix ou mais recentemente com a Disney+ e o seu catálogo de décadas para várias idades – o Panda também criou um irmão mais velho, o Panda Biggs, em 2009. “Estamos muito atentos. Reconhecemos que existem vários desafios”, diz Susana Gomes, que sublinha que mais importante do que a concorrência no segmento infantil é que “o mercado televisivo está a mudar e a tornar-se cada vez mais digital”. Confiantes no saber acumulado, os responsáveis do canal farão “essa adaptação com calma e sem pressas”, até porque a responsabilidade é maior quando se trata “de adaptar o digital às crianças, sobretudo por questões de segurança”.