Partidos reagem a recurso ao TC e falam em “Governo isolado”, “querela política” e “soluções criativas”
Adão Silva (PSD), Cecília Anacoreta Correia (CDS), Pedro Filipe Soares (BE), João Oliveira (PCP), Inês Sousa Real (PAN), André Ventura (Chega) e João Cotrim de Figueiredo (Iniciativa Liberal) reagiram de imediato ao anúncio de António Costa de que leis dos apoios sociais serão enviadas para fiscalização sucessiva.
Os partidos reagiram no Parlamento às declarações de António Costa sobre as leis dos apoios sociais, que o Governo decidiu enviar para fiscalização sucessiva do Tribunal Constitucional. Enquanto o PSD exigiu “soluções criativas” ao executivo, o Bloco preferiu falar na “querela política” que está aberta com o Parlamento e o PCP aludiu aos “obstáculos para travar medidas de apoio” encontrados pelo executivo. O Chega fez questão de notar que o Governo está cada vez mais isolado.
O líder parlamentar do PSD, Adão Silva, assumiu a concordância com a posição do Presidente da República, argumentou com a “situação excepcional” que se vive para sustentar a necessidade de distribuir os apoios aprovados no Parlamento, mas evitou pronunciar-se sobre se as medidas violam a Constituição.
“O primeiro-ministro vem dizer que o Presidente da República tem uma visão criativa da Constituição, o PSD reclama que tenha soluções criativas para os problemas das populações. É essencial encontrar soluções boas, promotoras, integradoras das famílias, dos trabalhadores e empresas”, afirmou aos jornalistas no Parlamento.
Adão Silva comentava a decisão de o Governo enviar para o Tribunal Constitucional três diplomas que alargam os apoios sociais e que foram aprovados na Assembleia da República e promulgados por Marcelo Rebelo de Sousa.
Os jornalistas insistiram em saber se o PSD também concorda com a ideia de que os diplomas violam a norma-travão da Constituição, mas o líder da bancada do PSD não se pronunciou sobre esse exercício. “Neste momento, nesta circunstância tão extrema, tão delicada, o inadiável é mesmo resolver o problema das pessoas. Mesmo que o Tribunal Constitucional viesse dar razão ao Governo, sobrava o essencial, a resolução dos problemas”, afirmou, defendendo que o Governo “está no seu direito” em recorrer ao Palácio Ratton, mas a situação é de “excepção”.
O CDS-PP, pela voz de Cecília Anacoreta Correia, também coloca a questão mais como política do que jurídica, apontando as as fragilidades da solução governativa à esquerda.
“Remeter para o Tribunal Constitucional o destino das soluções em vez de procurar o diálogo e o compromisso para encontrar respostas é o maior gesto de falência política que o Governo poderia ter. Esta postura não augura nada de bom para o futuro dificílimo que vamos ter que enfrentar todos juntos e este braço de ferro entre um Governo que é minoritário e os partidos que no parlamento o viabilizaram deixa em todos nós, os portugueses, as maiores dúvidas acerca da viabilidade desta solução governativa neste contexto tão difícil que vivemos”, destacou a porta-voz do partido num vídeo divulgado à comunicação social.
Nas bancadas à esquerda, o líder da bancada do BE assinalou que as declarações do ministro das Finanças e do primeiro-ministro mostram que não se trata de um problema de dinheiro. “A única coisa que resta é que há uma querela política com o Parlamento, um jogo partidário que não ajuda nada a dar segurança às pessoas”, afirmou Pedro Filipe Soares, defendendo que o Governo “tem de pagar os apoios sociais decididos na Assembleia da República.
O deputado considerou que “não há violação da Constituição” e que há espaço de manobra na lei-travão. “O Governo tem provado ter sempre uma gestão da orçamental abaixo do que lhe é permitido pela Assembleia da República”, argumentou.
Por seu turno, o líder da bancada do PCP apontou a decisão do Governo como um “erro”. “O que devia estar concentrado era nos apoios necessários e não em preocupar-se em encontrar obstáculos para adiar, atrasar as medidas que são necessárias”, afirmou João Oliveira. O deputado comunista argumentou que “o Governo tem base no Orçamento do Estado”.
Apesar de “não secundarizar” as questões constitucionais, João Oliveira lembra que “quando o ministro das Finanças diz que é possível acomodar as medidas no orçamento é porque elas encaixam”.
Questionado sobre como vê o braço de ferro entre Governo e Parlamento, o líder da bancada comunista considerou que “o verdadeiro conflito é com os portugueses, com todos aqueles que estão a necessitar de apoio”.
Outro dos partidos que é parceiro do Governo, o PAN, também apontou o dedo ao executivo pela decisão tomada.
“Parece-nos perfeitamente irrazoável esta teima por parte do Governo (..) É uma opção precipitada e que revela alguma teimosia por parte do Governo e que terá que, mais tarde ou mais cedo, recuar para encontrarmos soluções para o país”, criticou a líder da bancada parlamentar Inês Sousa Real.
André Ventura, líder do Chega, salientou não só o “desconforto” e a “conflitualidade” entre o Governo e o Presidente da República como o isolamento do PS na Assembleia da República.
Em declarações na Assembleia da República, o deputado considerou que na base da decisão anunciada pelo primeiro-ministro está a falta de dinheiro para pagar os apoios sociais aprovados à revelia do PS. “O primeiro-ministro está a fazer isto por uma birra política e por não ter verbas para pagar”, disse, relacionando a situação com o “atraso nos fundos europeus”. Já sobre a constitucionalidade dos diplomas, André Ventura usou o mesmo argumento do PSD de que Portugal vive um “estado excepcional” e que os apoios são “justos e proporcionais”.
Numa nota enviada aos jornalistas, João Cotrim de Figueiredo, da Iniciativa Liberal, partilhou um dos argumentos do Presidente da República sobre a necessidade de haver maior diálogo entre o Governo e o Parlamento. “Ao contrário do que tantas vezes aconteceu no passado recente, o Governo do PS não antecipou a discussão parlamentar apresentando iniciativas legislativas que colmatassem as lacunas dos apoios e utilizando a flexibilidade de reafectação de verbas que fez aprovar no Orçamento de Estado para 2021, antes preferindo assumir a confrontação com o Parlamento e o Presidente da República. É mais uma manifestação da arrogância do PS que se comporta como se fosse o ‘dono disto tudo'”, apontou o deputado único da Iniciativa Liberal.