Moçambique: dezenas de civis “indefesos” foram mortos nos ataques em Palma

Governo moçambicano confirma as sete mortes de civis durante uma operação de resgate, mas o balanço das vítimas dos últimos ataques jihadistas em Cabo Delgado continua por fazer.

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A maioria das quase 700 mil pessoas deslocadas pela violência em Cabo Delgado vivem em campos improvisados RICARDO FRANCO/EPA

Dezenas de civis moçambicanos, incluindo sete pessoas que tentavam fugir do principal hotel de Palma, no norte da província moçambicana de Cabo Delgado, foram mortos pelos combatentes que começaram a atacar a vila na quarta-feira, afirmou este domingo o Governo de Maputo.

“Um grupo de terroristas penetrou, dissimuladamente, na vila sede do distrito de Palma e desencadeou acções que culminaram com o assassinato cobarde de dezenas de pessoas indefesas e danos materiais em infra-estruturas do Governo”, disse Omar Saranga, porta-voz do Ministério da Defesa, que leu um comunicado aos jornalistas na capital, sem responder a perguntas.

“As FDS [Forças de Defesa e Segurança] registaram com pesar a perda de sete vidas de um grupo de cidadãos que se precipitou numa coluna de viaturas saída do hotel Amarula, que foi emboscada pelos terroristas”, acrescentou o porta-voz, confirmando assim a notícia de pelo menos sete mortos num ataque às operações de resgate dos que se tinham abrigado no Amarula. Entre estes contavam-se cerca de 200 estrangeiros que trabalham nos projectos de gás natural, incluindo um sul-africano que morreu e o português que ficou ferido e já está na África do Sul.

O número exacto de vítimas ou desaparecidos permanece por esclarecer, quando a maioria das comunicações com Palma está por restabelecer e as forças governamentais “continuam a clarificar as zonas de Palma por forma a garantir um regresso seguro das populações”.

Sabe-se que milhares de habitantes fugiram para a floresta e daí tentaram chegar a Afungi, onde a petrolífera Total tem as suas instalações, a seis quilómetros de Palma. Alguns tiveram a sorte de conseguir lugar no barco que chegou a para Pemba, capital de Cabo Delgado, com 1800 pessoas em fuga, incluindo os trabalhadores estrangeiros entretanto resgatados do Amarula.

Várias testemunhas ouvidas pela organização não-governamental Human Rights Watch dizem ter visto corpos no chão e descrevem como os insurrectos “dispararam indiscriminadamente contra pessoas e edifícios. “As autoridades moçambicanas devem apressar-se a proteger os civis”, apelou o director da ONG na África do Sul, Dewa Mayhinga.

“O objectivo claro desta incursão por parte dos terroristas era o de aterrorizar as populações e ameaçar o desenvolvimento de infra-estruturas que vão propiciar uma melhoria das condições de vida no país e das populações locais, em particular”, afirmou ainda Omar Saranga, em Maputo.

Palma tem sido poupada à violência que assola Cabo Delgado desde 2017, e milhares de pessoas em fuga de outras zonas chegaram a procurar ali refúgio. Estes ataques foram lançados logo depois de a Total anunciar o regresso gradual aos trabalhos de construção da sua fábrica de gás natural liquefeito (GNL), interrompidos por causa de um ataque de menores dimensões, em Dezembro.

A petrolífera francesa é a principal investidora de um projecto local, estimado em 20 mil milhões de euros, que representa mesmo o maior investimento privado actual no continente africano.

O Daesh chegou a reivindicar alguns dos ataques entre Junho de 2019 e Novembro de 2020 em Cabo Delgado, mas tem estado em silêncio desde então. A violência no Norte de Moçambique já provocou já uma gigantesca crise humanitária, com perto de 700 mil moçambicanos a viver em campos improvisados, e pelo menos 2600 pessoas mortas, incluindo 1300 civis.

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