Moçambique: dezenas de civis “indefesos” foram mortos nos ataques em Palma
Governo moçambicano confirma as sete mortes de civis durante uma operação de resgate, mas o balanço das vítimas dos últimos ataques jihadistas em Cabo Delgado continua por fazer.
Dezenas de civis moçambicanos, incluindo sete pessoas que tentavam fugir do principal hotel de Palma, no norte da província moçambicana de Cabo Delgado, foram mortos pelos combatentes que começaram a atacar a vila na quarta-feira, afirmou este domingo o Governo de Maputo.
“Um grupo de terroristas penetrou, dissimuladamente, na vila sede do distrito de Palma e desencadeou acções que culminaram com o assassinato cobarde de dezenas de pessoas indefesas e danos materiais em infra-estruturas do Governo”, disse Omar Saranga, porta-voz do Ministério da Defesa, que leu um comunicado aos jornalistas na capital, sem responder a perguntas.
“As FDS [Forças de Defesa e Segurança] registaram com pesar a perda de sete vidas de um grupo de cidadãos que se precipitou numa coluna de viaturas saída do hotel Amarula, que foi emboscada pelos terroristas”, acrescentou o porta-voz, confirmando assim a notícia de pelo menos sete mortos num ataque às operações de resgate dos que se tinham abrigado no Amarula. Entre estes contavam-se cerca de 200 estrangeiros que trabalham nos projectos de gás natural, incluindo um sul-africano que morreu e o português que ficou ferido e já está na África do Sul.
O número exacto de vítimas ou desaparecidos permanece por esclarecer, quando a maioria das comunicações com Palma está por restabelecer e as forças governamentais “continuam a clarificar as zonas de Palma por forma a garantir um regresso seguro das populações”.
Sabe-se que milhares de habitantes fugiram para a floresta e daí tentaram chegar a Afungi, onde a petrolífera Total tem as suas instalações, a seis quilómetros de Palma. Alguns tiveram a sorte de conseguir lugar no barco que chegou a para Pemba, capital de Cabo Delgado, com 1800 pessoas em fuga, incluindo os trabalhadores estrangeiros entretanto resgatados do Amarula.
Várias testemunhas ouvidas pela organização não-governamental Human Rights Watch dizem ter visto corpos no chão e descrevem como os insurrectos “dispararam indiscriminadamente contra pessoas e edifícios”. “As autoridades moçambicanas devem apressar-se a proteger os civis”, apelou o director da ONG na África do Sul, Dewa Mayhinga.
“O objectivo claro desta incursão por parte dos terroristas era o de aterrorizar as populações e ameaçar o desenvolvimento de infra-estruturas que vão propiciar uma melhoria das condições de vida no país e das populações locais, em particular”, afirmou ainda Omar Saranga, em Maputo.
Palma tem sido poupada à violência que assola Cabo Delgado desde 2017, e milhares de pessoas em fuga de outras zonas chegaram a procurar ali refúgio. Estes ataques foram lançados logo depois de a Total anunciar o regresso gradual aos trabalhos de construção da sua fábrica de gás natural liquefeito (GNL), interrompidos por causa de um ataque de menores dimensões, em Dezembro.
A petrolífera francesa é a principal investidora de um projecto local, estimado em 20 mil milhões de euros, que representa mesmo o maior investimento privado actual no continente africano.
O Daesh chegou a reivindicar alguns dos ataques entre Junho de 2019 e Novembro de 2020 em Cabo Delgado, mas tem estado em silêncio desde então. A violência no Norte de Moçambique já provocou já uma gigantesca crise humanitária, com perto de 700 mil moçambicanos a viver em campos improvisados, e pelo menos 2600 pessoas mortas, incluindo 1300 civis.