Centeno mais optimista: regresso do PIB ao nível pré-crise será já em 2022
Depois de uma crise de dimensões inéditas, o Banco de Portugal confia numa retoma económica feita de forma relativamente rápida, com regresso à tendência de convergência face à média da zona euro. Os resultados serão no entanto desiguais entre sectores.
Um desempenho menos negativo do que o previsto no final do ano passado, combinado com a expectativa de um ritmo de recuperação mais rápido principalmente no próximo ano, tornaram o Banco de Portugal, no espaço de três meses, mais optimista em relação à capacidade da economia portuguesa regressar rapidamente ao nível em que se encontrava antes da pandemia.
Nas novas projecções que apresentou para a economia portuguesa esta sexta-feira, a entidade liderada por Mário Centeno mantém, para este ano, a mesma estimativa de crescimento que já tinha em Dezembro passado: 3,9%. Mas fê-lo ao mesmo tempo que reviu em alta o resultado do ano passado, passando a contracção do PIB de 8,1% para 7,6%, e melhorou também a perspectiva de crescimento para 2022, de 4,5% para 5,2%.
Feitas as contas, ao contrário do que acontecia nas anteriores previsões, as projecções do Banco de Portugal apontam agora para que o PIB atinja o nível que tinha em 2019 já no próximo ano. Uma recuperação mais rápida que irá acontecer, acredita o banco central, a par daquilo que acontece na zona euro.
Depois de, no ano passado, a economia portuguesa ter registado uma queda maior do que a média europeia, a expectativa é que em 2021 o ritmo de crescimento seja praticamente o mesmo e, a partir de 2022 Portugal acelere, regressando à tendência de convergência. “No final do horizonte, o crescimento acumulado desde o final de 2019 é idêntico em Portugal e na área do euro”, afirma o relatório publicado pelo Banco de Portugal.
Tal como acontece por diversas vezes no relatório do Banco de Portugal, o seu governador, Mário Centeno, salientou, na conferência de imprensa de divulgação do documento, que as previsões estão ainda sujeitas a níveis muito elevados de incerteza, relacionados com a evolução da pandemia. E num cenário que o banco classifica como “adverso”, a retoma projectada é feita de forma bem mais lenta, adiando para 2023, o regresso aos níveis pré-crise.
No entanto, a nota dominante foi, claramente, a de confiança na capacidade da economia portuguesa resistir melhor a esta crise do que à anterior e regressar de forma relativamente rápida aos níveis do passado, assim que a situação sanitária permita o fim das medidas de confinamento.
A resposta dada pelas autoridades públicas, nacionais e europeias, desempenha um papel importante neste processo. “O início do processo de vacinação veio reforçar a confiança na recuperação económica, que está também ancorada na manutenção de uma orientação favorável das políticas monetária e orçamental”, diz o relatório. No que diz respeito ao fundo de recuperação europeu em particular, o banco central confia que os seus impactos podem fazer-se sentir a longo prazo. Uma análise preliminar realizada com os dados disponíveis até ao momento conclui que o nível do PIB em 2026 pode vir a ser entre 1,1% e 2,0% superior ao que ocorreria na ausência do Plano de Recuperação e Resiliência.
Mário Centeno, no entanto, salientou a importância de, tanto a nível interno como externo, “não se desenharem cenários de precipício para as medidas de apoio à economia”. “Em 2020, reagimos a uma crise inédita, de dimensões quase sísmicas, sem outra preparação que não fosse o instinto de conceder liquidez a todos os agentes da economia e registou-se a coordenação da política monetária e orçamental, algo que não aconteceu nas crises anteriores. Agora o que se tem de fazer é adaptar as políticas às novas situações, não deitar a perder estas conquistas”, afirmou.
Nas suas previsões, o banco central assinala contudo que a recuperação rápida que se espera a seguir ao levantamento das medidas de confinamento irá acontecer de forma “desigual entre sectores”. Por um lado, a indústria terá uma retoma mais imediata aos valores do passado, do outro, o sector dos serviços, em particular as actividades ligadas ao turismo, cultura e entretenimento, verão o regresso à normalidade ser feito de forma “mais gradual”. Ainda assim, Mário Centeno mostrou confiança que a presente crise não deixe danos permanentes a alguns dos sectores mais afectados, como o do turismo. “Não temos evidência que nos permita começar a trabalhar em cenários de alterações significativas na estrutura da economia nacional”, disse.
Na análise que é feita à resposta dada pela economia, é ainda salientada a resistência revelada por indicadores como o investimento, o rendimento disponível (que de acordo com o Banco de Portugal registará sempre variações anuais positivas até 2023, incluindo no ano passado) ou o emprego.
Aliás, nas previsões para o mercado de trabalho, é também evidente a melhoria das projecções do Banco de Portugal face a Dezembro. Enquanto há três meses antecipava que a taxa de desemprego chegasse aos 8,8% este ano, caindo para 8,1% no ano seguinte, agora apenas prevê um máximo de 7,7% para este indicador em 2021, seguido de diminuições moderadas nos anos seguintes.