No Dia Mundial do Teatro, uma carrinha velha contará a sua história no Palácio de Belém

A Carrinha Velha é a velha Ford que há muitos anos transporta actores e materiais de palco até às aldeias e vilas a que a Comédias do Minho leva os seus espectáculos. A companhia minhota foi escolhida pela Presidência da República para assinalar o Dia Mundial do Teatro, este sábado, no Palácio de Belém.

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É na "carrinha velha" que se transportam cenários e figurinos, por montanhas e vales, para chegar às aldeias mais isoladas DR

A intenção passou por escolher uma companhia fora dos grandes centros, que agisse junto da comunidade no interior do país. Tendo isso em conta, para assinalar o Dia Mundial do Teatro que se cumpre este sábado, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, lançou o convite a uma estrutura que cumpre na perfeição tais requisitos. Dia 27 de Março, pelas 15h, a Comédias do Minho, sedeada em Paredes de Coura, abandonará o confinamento de meses a criar para o digital e voltará ao contacto com o público. Mas, desta vez, no Palácio de Belém.

Nascida de um esforço colaborativo entre os municípios de Melgaço, Monção, Paredes de Coura, Valença e Vila Nova de Cerveira, a Comédias do Minho surgiu há 17 anos com o objectivo de “dotar o Vale do Minho de um projecto cultural próprio, adaptado à realidade socioeconómica e com um enfoque especial no envolvimento das populações”, escreve a directora artística da companhia, Magda Henriques, no comunicado publicado na página oficial da Presidência da República. Para além das apresentações que leva às vilas e aldeias dos cinco municípios, a Comédias do Minho dinamiza o Projecto Pedagógico, através do qual as artes performativas são trabalhadas com as comunidades educativas da região (oficinas criativas, apresentações em escolas, bibliotecas ou museus), e com o Projecto Comunitário, envolve no seu trabalho associações locais e cinco grupos de teatro amadores, com os quais os actores residentes da companhia desenvolvem novas criações e, em conjunto, organizam o FITAVALE – Festival Itinerante de Teatro de Amadores do Vale do Minho.

“Embora provisoriamente sem público, o teatro continua vivo, nos centros urbanos e fora deles, como acontece no Alto Minho”, lê-se no comunicado da Presidência da República. A pandemia que (quase) tudo parou, o teatro que nunca deixa de acontecer. As duas dimensões são indirectamente convocadas para o espectáculo que a Comédias do Minho preparou. Terá cerca de 20 minutos de duração, ao ar livre e, naturalmente, será presenciado por um número reduzido de convidados.

Em palco, dois dos actores residentes da companhia, Luís Filipe Silva e Joana Magalhães, apresentarão A Carrinha Velha, de Tânia de Almeida. Trata-se de uma adaptação a palco de um dos episódios do podcast ficcional A Tua Mesa Odeia-te, criado durante o período de confinamento e apresentado na plataforma digital criada pela companhia, Comédias Takeaway. Nos episódios do podcast, dá-se voz aos objectos inanimados que fazem a história da Comédias do Minho, em forma de teatro radiofónico.

Quilómetros para contar

A escolha da Comédias do Minho para se apresentar no Palácio de Belém no Dia Mundial do Teatro foi recebida pela companhia com particular satisfação. “Afirmar formalmente as periferias como ‘centrais’ tem significado, porque descentralizar não chega. Importa olhar para o país como um território complexo, diversificado, composto de múltiplas realidades e centralidades”, escreve a directora artística Magda Henriques em comunicado enviado à imprensa. “Cabe-nos assim, também, celebrar o teatro e todos aqueles que o tornam possível. São tantas as estruturas culturais, mais ou menos invisíveis, que existem por esse país fora. Tantas pessoas. Tantos profissionais”.

A carrinha velha que dá título ao espectáculo será a escolha ideal para falar da vida itinerante da Comédias do Minho e do que essa itinerância envolve, como se explica na apresentação do espectáculo: “É esta Ford que faz de carro de som e anuncia os espectáculos pelas aldeias. É nela que se transportam cenários e figurinos, por montanhas e vales, para chegar às aldeias mais isoladas do território. Pelo caminho, acontecem romances e desavenças. No final do dia, são os seus faróis que permitem a desmontagem do espectáculo”.

Depois de anos a percorrer as estradas do Minho, a carrinha viajará agora até mais longe. No Dia Mundial do Teatro, no Palácio de Belém, terá muito que contar sobre os tantos quilómetros percorridos.

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