Chef Ljubomir Stanisic não será julgado por suspeita de subornar polícia com álcool para furar confinamento
O juiz Ivo Rosa considerou que Ljubomir Stanisic não era inicialmente visado na investigação. Arquivamento das suspeitas dos crimes de corrupção e de desobediência às regras do estado de emergência apenas se baseou em questões formais.
Ljubomir Stanisic não irá a julgamento por causa das suspeitas de ter subornado um polícia com bebidas alcoólicas para furar o o confinamento na Páscoa passada, decidiu esta quarta-feira o juiz de instrução Ivo Rosa.
O chef mora em Lisboa mas queria ir passar a Páscoa com a família à zona de Grândola, onde tem também casa. Temendo ser apanhado pelas autoridades por causa das medidas decretadas no âmbito do combate à pandemia covid-19, recorreu ao irmão de um amigo seu, o polícia Nuno Marino, para atravessar a ponte 25 de Abril, local onde costumam ser montadas operações stop nestas ocasiões, descrevia o despacho de acusação do Departamento Central de Investigação e Acção Penal. A 3 de Abril passado terá atravessado a ponte com a família no seu carro, enquanto o agente da PSP seguia à sua frente noutro veículo, para lhe abrir caminho. Mas afinal nem era preciso: não havia operação policial nenhuma montada no local.
Em troca da ajuda, ofereceu uma gratificação a Nuno Marino, descreve a acusação: duas garrafas de vinho e uma de rum ou conhaque. “Aquilo é, mano é tão bom, não dá ressaca no dia seguinte”, gabava-se Ljubomir Stanisic ao telefone. O que não podia adivinhar é que o seu interlocutor estava sob escuta por ser suspeito de tráfico de estupefacientes, num processo que nada tinha que ver consigo e no qual era protagonista o dono de alguns restaurantes da Rua dos Correeiros, em Lisboa, que ficaram conhecidos por apresentar contas exorbitantes aos turistas.
Dias depois da travessia com escolta policial, o chef foi apanhado foi outra vez ao telefone a pedir ao mesmo polícia outro favor do mesmo género, mas desta vez para um dos seus melhores amigos, que queria que fosse ter com ele ao monte no Alentejo. Também lhe terá solicitado que acedesse à base de dados da PSP para descobrir a identidade dos titulares de determinados números de telefone: “Verifica-me isso (...) são os números de telefone dum amigo meu, só para estar a ver se está activo ou não”. O outro disse-lhe que o iria fazer.
O principal argumento usado pelo juiz Ivo Rosa para não levar o chef a julgamento foi o de que Ljubomir Stanisic não era inicialmente visado na investigação, tendo sido apanhado nas escutas de forma fortuita. Descartado por este motivo o crime de corrupção activa, sobrava ainda o de desobediência às normas do estado de emergência. Mas também neste ponto o magistrado entendeu que a travessia da ponte nas circunstâncias em que sucedeu não configurou afinal uma actuação punível pelas leis destinadas a minorar a pandemia - além de que, tratando-se de um crime de menor gravidade, não permitia que o suspeito fosse alvo de escutas.
No que diz respeito aos restantes 26 arguidos do processo, Ivo Rosa considerou não haver indícios suficientes do delito de associação criminosa, o mais grave de que estavam acusados os membros da rede de tráfico de droga. Ainda assim, a grande maioria dos suspeitos irão a julgamento, embora por outros crimes menos graves, venda de estupefacientes incluída.
Antigo carteirista do eléctrico 28, o dono dos restaurantes da Rua dos Correeiros, José Cardoso, mais conhecido por Xula, viu esta quarta-feira o Tribunal Central de Instrução Criminal ilibá-lo do crime de contrafacção de moeda de que também era suspeito. De acordo com o Ministério Público, desta rede criminosa faziam também parte um filho seu e uma avó deste, já seputagenária.
O gang contava com a cumplicidade não só do agente da PSP conhecido do chef como de um segundo polícia. Forneciam fardas ao gang para que os seus membros se pudessem fazer passar por agentes da autoridade quando lidavam com traficantes rivais, com o objectivo de os assustarem e de lhes roubarem a droga.