Inspira, Portugal!
O ciclismo de recreio e o turismo com bicicleta apresentam um assinalável potencial de aproveitamento do património natural e humano do nosso país, valorizando as excelentes condições com que Portugal presenteia quem gosta de pedalar.
Num momento particularmente desafiante das nossas vidas, em que todos fomos forçados a alterar comportamentos devido ao contexto pandémico, a bicicleta e o ciclismo permitem encarar com otimismo os próximos tempos.
Se, até agora, já assistíamos a uma tendência crescente de valorização social daquela que é uma das mais grandiosas invenções da humanidade, nomeadamente nos domínios da mobilidade urbana, da prática desportiva amadora e do turismo, tornou-se ainda mais evidente que o apelo das atividades de ar livre sairá reforçado da crise global provocada pela covid-19. Por um lado, devido ao menor risco sanitário associado aos ambientes exteriores, e ao incremento da adoção de estilos de vida ativos, responsáveis e saudáveis; mas também pela necessidade de estimular a retoma económica, de forma sustentável, mesmo em territórios de baixa densidade.
Neste enquadramento, o ciclismo de recreio e o turismo com bicicleta apresentam um assinalável potencial de aproveitamento do património natural e humano do nosso país, valorizando as excelentes condições com que Portugal presenteia quem gosta de pedalar, sobejamente reconhecido e até já sinalizado pelo Estado – embora pouco mais do que isso, até ao momento (!) – na Estratégia Nacional para a Mobilidade Ativa Ciclável (ENMA).
Para quem esteja atento, é evidente que a recuperação da economia e do emprego no período pós-pandemia deverá passar por investir decisivamente nesta área: no desenvolvimento e regulamentação de produto turístico, na sua promoção e ativação, mas também capacitando os agentes envolvidos nesta cadeia de valor ainda pouco explorada.
A Federação Portuguesa de Ciclismo tem consolidado a sua posição no setor do turismo, na medida em que este se sobrepõe com o estímulo da prática desportiva e ciclismo de recreio. Tal desiderato tem sido compatível com a realização de competições nacionais e internacionais (das quais a Volta ao Algarve é o expoente máximo), com a promoção de estágios desportivos (com epicentro no Anadia Cycling Centre), ou no apoio à organização de eventos de massas na vertente “Ciclismo para Todos”.
Também a rede Cyclin’ Portugal que, em finais de 2020, ascendeu a um recorde de 35 projetos homologados e mais de 12.000 quilómetros de percursos mapeados (BTT, estrada e “gravel”), demonstra a relevância de regular a implementação das iniciativas que surgem um pouco por todo o país, mas também que é possível integrar, num mesmo pelotão, entidades privadas, públicas e associativas em prol de objetivos comuns.
Em termos qualitativos, destaque-se o trabalho realizado no apoio à estruturação, mapeamento e classificação turístico-desportiva da rede de percursos cicláveis das Aldeias Históricas de Portugal, numa ação particularmente rigorosa, colaborativa e inovadora pela amplitude da recolha e tratamento técnico da informação, bem como pelos conteúdos produzidos.
As centenas de participações no recente II Fórum Cyclin’ Portugal reforçam o interesse suscitado por esta área de atividade, e a importância da formação e partilha de conhecimento no seio de uma rede crescente que abrange profissionais, praticantes e entusiastas voluntários.
No âmbito deste evento, a publicação da primeira edição do Anuário Cyclin’ Portugal representa mais uma etapa na consolidação desta rede e das suas ambições e propostas, visando sistematizar a oferta regulada pela Federação Portuguesa de Ciclismo num formato concebido para alcançar o público interessado em pedalar pelos caminhos de Portugal com conforto e em segurança. Espera-se também que seja a matéria-prima com a qual agentes e operadores turísticos possam inspirar cada vez mais ciclistas nacionais e estrangeiros a usufruírem da diversidade e qualidade da nossa oferta.
Façamos todos votos para que, em 2021, seja possível voltar a pedalar, e não mais parar de inspirar o ar puro por esse país fora!
Coordenador do projeto Cyclin’ Portugal e vice-presidente da Federação Portuguesa de Ciclismo
O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico