Groundforce: Alfredo Casimiro “não comprou empresa nenhuma, recebeu dinheiro para a ter”
O ministro das Infra-estruturas afirmou no Parlamento que o maior accionista da empresa de assistência em terra recebeu 7,6 milhões entre 2012 e 2018, e que só depois disso é que pagou 3,7 milhões pela maioria do capital que adquiriu.
O ministro das Infra-estruturas, Pedro Nuno Santos, afirmou esta quarta-feira que Alfredo Casimiro, maior accionista da Groundforce, “provou que não é sério” durante o processo negocial que envolveu a TAP e o Governo. E explicou, no âmbito de uma audição parlamentar, que o empresário, que ficou com maioria do capital em 2012 (50,1%), pagou 3,7 milhões de euros por essa posição em 2018. Pelo meio, “recebeu 7,6 milhões de euros”, divididos entre 5,4 milhões de comissões de gestão até 2016 e outros 2,2 milhões entre 2017 e 2018. Alfredo Casimiro, disse, “não comprou empresa nenhuma, recebeu dinheiro para a ter”. “É uma vergonha o que aconteceu”, acrescentou, em respostas ao deputado do CDS João Gonçalves Pereira.
Na sua intervenção inicial, o ministro começou por dizer que, na sequência da crise da covid-19, a empresa de assistência em terra, detida a 50,1% pela Pasogal de Alfredo Casimiro (o resto é da TAP), pediu um empréstimo de 35 milhões com garantias públicas mas que sofreu atrasos devido à falta de entrega de informação financeira. A TAP, disse, começou a fazer adiantamentos à Groundforce em Agosto, que chegaram aos 12,4 milhões de euros. Foi então, acrescentou, que se chegou a um ponto em que tiveram de ser pedidas garantias à empresa, as quais passavam pelas acções de Alfredo Casimiro.
Aqui começaram a críticas ao empresário por parte de Pedro Nuno Santos, que admitiu que foi à última hora, na recta final de um processo negocial, que soube que as acções já tinham sido usadas como penhor junto do Montepio e parte até estava junto de outro credor. Este foi, disse, “um momento infeliz de um empresário português, que decidiu enganar o Estado e os trabalhadores”. “Deste caso podemos tirar muitas ilações sobre como se fazem privatizações em Portugal, e como alguns empresários em Portugal vivem nas costas do Estado”, adiantou, apontando o dedo ao PSD.
“Estamos a falar de um empresário que esteve a mentir e a enganar o Estado até ao fim e que, a determinada altura, ainda grava uma reunião com um ministro, cometendo um crime – é público, aliás, que fiz uma queixa-crime – e não podemos fazer de conta de que não se passou nada, de que estamos perante um empresário normal”, acrescentou.
Depois de mencionar a proposta da TAP em aumentar o capital da Groundforce de forma exclusiva, Pedro Nuno Santos sublinhou que Alfredo Casimiro não aceitou, porque “perdia o controlo” da empresa. Em vez disso, propôs acompanhar o aumento de capital, um plano que, de acordo com o ministro, “não pode ser levado a sério”, já que tem “dezenas de milhões” em dívida. Para Pedro Nuno Santos, o plano era apenas o de “empurrar a situação com a barriga”.
Referindo que ainda se está a procurar soluções para a situação financeira da empresa, o ministro sublinhou que Alfredo Casimiro “não está vendedor, mas não tem dinheiro para lá meter”. Num contexto de claro conflito entre accionistas (o Ministério das Infra-estruturas tem a tutela da TAP), Pedro Nuno Santos não deixou de classificar a actual situação como “um impasse”, pelo facto de o Estado deter uma posição minoritária na Groundforce. “Espero que nas próximas semanas possa haver novidades”, adiantou, depois de ter vincado que não há margem nem para mais adiantamentos nem para um novo negócio como o da compra de equipamentos por parte da TAP após Abril.
Sobre o empréstimo de 30 milhões de euros que envolve a CGD e o Banco de Fomento (que dá as garantias públicas), e se houve atrasos na análise do processo, o ministrou afirmou que a informação completa “só chegou a 4 de Março, “mas ainda assim falta um plano de reestruturação que dê confiança às instituições bancárias” e que prove que “a empresa tem viabilidade”. Por parte de Alfredo Casimiro, acrescentou em resposta a questões da deputada do PAN Inês de Sousa Real, o empresário tem justificado que “não faz o plano de reestruturação enquanto não conhecer o plano da TAP”. “Mas [Alfredo Casimiro] conhece pelo menos a situação de dificuldade e de insuficiência financeira da Groundforce, pelo que tem de o fazer [o plano de reestruturação]. Ninguém vai emprestar dinheiro sem ter este conjunto de garantias e de informação disponível”, adiantou Pedro Nuno Santos.
Antes, tinha afirmado ao deputado do PCP, Bruno Dias, que a nacionalização não era uma solução, até porque seria sempre uma estratégia provisória uma vez que o Estado já detém a maioria do capital da TAP, e que isso não seria aceite pela Comissão Europeia.
Em paralelo, deixou claro que a TAP, no âmbito do processo de corte de custos que está a atravessar, “terá de rever o contrato que tem com a Groundforce”, baixando os preços. De acordo com o ministro, a TAP, que vale mais de 70% das receitas da Groundforce, tem pago um preço acima do mercado.