Selecção a conquistar o mundo? Só dominando primeiro a Europa
Fernando Santos, seleccionador nacional, não abdica de querer ser campeão do mundo, mas esfria esse ímpeto com a necessidade de levar muito a sério a fase europeia de qualificação. Portugal joga nesta quarta-feira frente ao Azerbaijão (19h45, RTP).
A frase em título permite resumir aquilo que a selecção portuguesa tem de fazer nesta quarta-feira, quando entrar em campo frente ao Azerbaijão (19h45, RTP), e nos próximos dias, quando defrontar Sérvia (sábado) e Luxemburgo (terça-feira). Portugal precisa de dominar a Europa – no caso, dominar o grupo de qualificação europeia para o Mundial 2022 - para ter a possibilidade de tentar confirmar o estatuto de candidato a campeão do mundo.
Fernando Santos, seleccionador nacional, não abdica de nenhuma das premissas: a de querer ser campeão do mundo e a de esfriar esse ímpeto com a necessidade de levar muito a sério a fase de qualificação.
Foi essa retórica que apresentou nesta terça-feira, na antevisão da partida que dá início à qualificação do grupo A para o Mundial 2022, no Qatar. “[Ser campeão] Não é um sonho. Sonhar é importante, mas o fundamental é acreditarmos que o sonho é possível. O que dizemos é que Portugal tem qualidade, capacidade e organização para lutar por qualquer competição em fases finais”, disparou, alertando, porém, que, antes disso, é preciso chegar à fase final.
Para isso, importa levar muito a sério o início de uma qualificação diferente do habitual. “Não quero que os jogadores dêem mais do que têm dado. Não podem é dar menos. Normalmente, Março é janela de jogos particulares. Nesta janela não só não é assim como temos três jogos de apuramento para o Mundial, num grupo que só tem oito. Cada um é uma final”.
Esta última ideia do seleccionador terá também um peso determinante. Habitualmente, as datas FIFA para jogos de selecções comportam, no máximo, duas partidas oficiais – algumas vezes nem isso, com as equipas a fazerem, por exemplo, um oficial e um particular. Agora, aumenta o número de jogos – três em vez de dois – e o perfil dessas partidas – todas “a doer”.
Tal equivale a dizer que, numa fase da temporada em que os jogadores já acumulam muita fadiga, o seleccionador nacional dificilmente poderá definir um “onze” para atacar estes jogos. Terá, inevitavelmente, tal como o próprio já chegou a assumir no momento da convocatória, de utilizar um lote alargado de atletas.
Patrício, Pepe e Guerreiro de fora
Para este jogo há algumas condicionantes com relevo, além da gestão física. Desde logo, o palco do jogo. Portugal recebe a selecção azerbaijana como visitado, mas fá-lo-á em Itália e não em território português – foi a forma de contornar as restrições de voos por culpa da covid-19.
Em Turim, Portugal terá, depois, de superar as baixas, algumas delas com peso. Rui Patrício, Pepe e Raphaël Guerreiro são três habituais titulares que, lesionados, vão ver a partida pela televisão.
No caso do guardião e do central a substituição pode não ser problemática: porque Portugal dificilmente passará muito tempo em processo defensivo e porque os substitutos naturais, Anthony Lopes e José Fonte, são jogadores de topo e com passado na equipa nacional.
Mais espinhosa é a substituição de Guerreiro. A precisar de atacar muito e bem, Portugal será melhor quanto melhor for a dinâmica ofensiva dos seus laterais. Se à direita parece clara a aposta em João Cancelo, à esquerda haverá lugar a um cenário incomum, dado que, entre Guerreiro e Mário Rui, a aposta tem sido em canhotos já “batidos”.
Frente ao Azerbaijão, jogará um rapaz de 18 anos, Nuno Mendes, em estreia absoluta na selecção – e um jogo frente aos azerbaijanos até pode ser o palco ideal para estrear o sportinguista – ou jogará Cédric, um lateral que não tremerá, mas que não terá um pé canhoto para oferecer ao corredor esquerdo da selecção.
Não será apenas esta a indefinição na equipa, já que William, recentemente o “8” de Fernando Santos, não está convocado. A posição poderá ser de João Moutinho, Sérgio Oliveira, Renato Sanches ou, num primeiro jogo de favoritismo claro, do próprio Bruno Fernandes.
A lateral-esquerda e a posição “8” serão as grandes dúvidas num “onze” que, pela falta de tempo de treino, dificilmente fugirá, daí para a frente, ao figurino habitual desenhado por Fernando Santos.
O plano, esse, é o habitual frente a equipas de poderio menor: saber penetrar num bloco denso e ter atenção aos contra-ataques. Fernando Santos detalhou-o.
“Eles vão jogar em 35 ou 40 metros, com um “muro” mais fixo, e temos de arranjar soluções para contrariar isso. Não basta andarmos a rodar a bola da direita para a esquerda. Temos de entrar nos espaços e tirá-los de posição. Perante uma floresta de pernas, às vezes não há espaço. É preciso pressionarmos o adversário e obrigá-lo a errar, porque é daí que podem vir os espaços. E temos de ter atenção ao contra-ataque do Azerbaijão”, explicou.