Menina migrante de dois anos morre após resgate em Espanha
A criança, resgatada na semana passada nas Ilhas Canárias, terá sofrido uma paragem cardíaca abordo do navio que partiu sobrelotado da costa do Saara Ocidental. Foi reanimada pela Cruz Vermelha no local e encaminhada para o hospital, onde viria a falecer no domingo.
Uma menina de dois anos de Mali, reanimada durante o resgate de um barco sobrelotado na semana passada, nas Ilhas Canárias, em Espanha, acabou por falecer no hospital dias depois, avançaram as autoridades locais. Ficou conhecida na comunicação social como “Nabody”, embora esse não fosse o seu verdadeiro nome, corrige a agência Efe. A rota de travessia pelas Canárias soma 19 vítimas mortais desde que começou o ano.
O navio foi encontrado na passada terça-feira no oceano Atlântico, junto à Ilha Gran Canária, depois de ter partido de Dakhla, na costa do Saara Ocidental, cinco dias antes. A bordo seguiam 52 pessoas de países da África subsaariana, entre as quais nove crianças. O grupo foi encaminhado pelo serviço de resgate marítimo espanhol para o porto de Arguineguin.
As equipas de resgate levaram a menina inconsciente até uma equipa de enfermagem da Cruz Vermelha, que a conseguiu reavivar ainda no porto. Apressou-se, então, a transferência da criança para um hospital em Las Palmas, onde viria a falecer no domingo, disse uma porta-voz do departamento de Saúde do governo regional do arquipélago atlântico.
“Nabody” estava em estado crítico na unidade de cuidados intensivos do hospital. Segundo os media locais, a menina, que estava acompanhada pela mãe e pela irmã mais velha, sofreu uma paragem cardíaca durante a tentativa de travessia. Há ainda relatos de passageiros que sofreram de hipotermia grave e necessitaram, também, de cuidados hospitalares.
O resgate dramático da criança preencheu várias capas de jornais espanhóis, realçando a situação das pessoas que fogem da violência ou procuram uma vida melhor na Europa. O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sanchez, comentou o sucedido nas redes sociais. “Não há palavras para descrever tanta dor. Agradeço de coração a todos aqueles que lutaram até o fim para salvar a vida dela. É uma pancada na consciência de todos nós. Nabody tinha 24 meses”, escreveu no Twitter.
No hay palabras para describir tanto dolor. Gracias, de corazón, a quienes han luchado hasta el final por salvar su vida. Es un aldabonazo en la conciencia de todos nosotros. Nabody tenía 24 meses. https://t.co/UrQ1wDk62g
— Pedro Sánchez (@sanchezcastejon) March 21, 2021
As Ilhas Canárias são uma entrada chave para os migrantes que tentam chegar à Europa. Em 2020, um total de 23.023 migrantes desembarcaram nas ilhas, um número oito vezes superior aos 2687 que chegaram em 2019. Desde o início do ano, cerca de 2600 pessoas já chegaram às Canárias de barco.
Na ligação mais curta, a travessia marítima da costa marroquina para as ilhas é de mais de 100 km (60 milhas). No entanto, é uma rota notoriamente perigosa devido às fortes correntes, que se torna ainda mais arriscada pelo facto de os navios estarem normalmente sobrelotados e em más condições. Segundo o Projecto de Migrantes Desaparecidos da agência de migração das Nações Unidas, no ano passado 849 pessoas foram declaradas mortas ou desaparecidas.
A agência Lusa avança que, de acordo com a Associação Pro-Direitos Humanos da Andaluzia (APDHA), pelo menos 1717 pessoas morreram ou foram dadas como desaparecidas ao tentar alcançar as costas espanholas em 2020 — o maior número registado desde 1989. Deste total de vítimas, apenas 637 corpos foram resgatados e a maioria ocorreu nas Ilhas Canárias (1239).
Diego Boza, o coordenador da APDHA, afirmou, em declarações à comunicação social, que o papel do governo tem sido “decepcionante”, referindo que o executivo se limita a expressar condolências, sem tomar medidas para assumir a responsabilidade pelo que está a acontecer. A APDHA antevê que 2021 irá registar um aumento de chegadas de migrantes, devido às consequências económicas da actual pandemia.