Antiga biblioteca do Marquês reactivada para fins culturais a partir da próxima semana

Com o nome original, a Biblioteca Popular de Pedro Ivo retorna à Praça do Marquês de Pombal, no Porto, a 29 de Março, no âmbito de um projecto de reactivação com quatro fases. A primeira está a cargo do Museu da Cidade, que até 15 de Maio terá ali instalada a sua Rádio Estação, com um programa de leituras diárias para pais e filhos portuenses.

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Miguel Nogueira

Após vários anos de portas fechadas e do imbróglio das várias hastas públicas a que esteve sujeita, a Biblioteca Popular de Pedro Ivo vai ser, finalmente, devolvida à cidade, com o nome original e uma função muito próxima daquela com que se instalou na Praça do Marquês de Pombal, no Porto em Janeiro de 1948 – foi a única biblioteca popular da cidade e começou por ser um satélite da Biblioteca Pública Municipal do Porto (BPMP) para dar apoio, na leitura, às camadas menos instruídas da população, tendo mais tarde mais tarde orientado o seu trabalho para o público infanto-juvenil. A partir da próxima segunda-feira, miúdos e graúdos vão poder voltar a embrenhar-se nas mais diversas histórias, uma vez que o espaço será reactivado, de forma faseada, até ao final do ano, assumindo-se com uma programação cultural multidisciplinar.

Face aos constrangimentos impostos pela pandemia, este será o “ano zero da programação de reactivação do espaço”, introduziu Nuno Faria, director artístico do Museu da Cidade, em apresentação na reunião camarária desta segunda-feira. A biblioteca não abrirá, exactamente, ao público, mas irá recebê-lo em segurança através da programação repleta da Rádio Estação, eixo sonoro do Museu que ocupará fisicamente o espaço de 43m² entre 29 de Março e 15 de Maio. Durante a primeira fase do projecto, a rádio nómada emitirá em FM, “sobretudo para aquela zona”, programas como Confabulações, leituras diárias de fábulas provenientes de várias épocas e latitudes; Trabalhar Cansa, episódios relacionados com histórias da esfera industrial do Porto; Inventário, conjunto de leituras sobre as diferentes partes da cidade, que incluirá uma sessão especial dedicada à própria Praça do Marquês.

Portuenses chamados a programar

Já a segunda fase decorrerá entre 17 de Maio e 10 de Julho e será coordenada pelo Teatro Municipal do Porto (TMP). A biblioteca será transformada numa plataforma de divulgação para dois artistas em residência no Porto no âmbito do Moving Borders [projecto europeu que envolve sete cidades e instituições culturais europeias e se ocupa de migrações]. Durante a terceira fase de reactivação, entre 16 de Julho e 12 de Setembro, a Biblioteca Popular de Pedro Ivo servirá de extensão à Feira do Livro do Porto e as suas actividades serão planeadas em torno do escritor que lhe dá nome, o portuense Pedro Ivo (1842-1906), cuja obra foi largamente influenciada por Júlio Dinis, que será a figura homenageada da edição de 2021 da Feira do Livro. A fase final de reabertura da biblioteca será dirigida pelo Batalha Centro de Cinema, que entre Outubro e Dezembro deverá apresentar naquele espaço um filme comissariado a um projecto cooperativo de cinema da cidade. De acordo com Nuno Faria, a obra “documentará este projecto e a envolvente cultural e social daquela zona [da Praça do Marquês]”.

Para 2022, prevê-se que a Biblioteca Popular de Pedro Ivo se volte para a comunidade em busca de propostas para a sua programação, que se manterá no domínio cultural. Depois de um primeiro ano de “aquecimento do espaço”, a ideia é que este seja “posto à disposição da sociedade civil” que, por meio de concurso de ideias e a título sazonal ou anual, poderá “propor projectos que sejam escolhidos e calendarizados com apoio do município”. As sugestões deverão enquadrar-se no espírito original da biblioteca e ter em conta conceitos como “memória”, “arquivo” ou “comunidade”.“Há aqui uma dupla devolução do equipamento à cidade”, salientou Nuno Faria. Está prevista, também, entre outras colaborações, a articulação com a Fundação Instituto Marques da Silva (FIMS), instituição que detém o espólio do arquitecto da biblioteca original, Bernardino Basto Fabião.

Manuel Pizarro, vereador socialista, quis “saudar esta decisão e o projecto” e realçou a sua “satisfação” face à utilização do espaço como equipamento cultural, “mais útil para a cidade que o seu [anterior uso] como equipamento de hotelaria e restauração, de que há várias alternativas nas redondezas”. Também Ilda Figueiredo, vereadora da CDU, afirmou que o projecto “corresponde” àquilo que o partido “sempre” defendeu para o espaço, cujo “exemplo deveria ser multiplicado na cidade”. “Ir ao encontro das pessoas para incentivá-las à leitura é uma questão central”, rematou.

Cartão “Porto.” agrega serviços e descontos

Também esta segunda-feira, já durante a ordem do dia, o executivo municipal apresentou o cartão “Porto.”, “um cartão físico e uma experiência digital [em website próprio e aplicação para telemóvel, a última a ser desenvolvida]” que será lançado a 5 de Abril, destinando-se aos munícipes com domicílio fiscal e estudantes com quarto ou casa arrendada na cidade. 

Com o objectivo de “agregar serviços, facilitando a interacção entre o município e os munícipes e promovendo o espírito de cidadania”, o cartão “Porto.” assumirá as funções de cartões existentes anteriormente para as bibliotecas, piscinas municipais e teatros municipais. Os aderentes poderão beneficiar de um desconto de 50% nas piscinas, no acesso às instalações e na prática da modalidade, e nos teatros, em todos os espectáculos e apresentações nos dois pólos do TMP, Teatro Rivoli e Teatro do Campo Alegre.

Existem, ainda, outras vantagens associadas, como a entrada livre em todos os espaços do Museu da Cidade, a utilização gratuita do Funicular dos Guindais, o desconto de 50% nas actividades culturais organizadas pelo município ou o desconto de 50% no aparcamento de bicicletas no Parque da Cidade. 

A adesão poderá ser feita online ou de forma presencial, no Gabinete do Munícipe, nas bibliotecas municipais, no Teatro Rivoli e nas piscinas municipais.

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