Não há inquéritos em atraso. Cerca de 90% dos mortos no Alentejo tinham mais de 70 anos
Situação epidemiológica no país é calma, mas equipas de rastreadores e estruturas de retaguarda mantêm-se em prontidão para responder a um eventual aumento de casos de covid-19.
A situação epidemiológica no país é calma, mas as equipas e as estruturas de apoio estão em “prontidão” para evitar que se repita o atraso de milhares de inquéritos epidemiológicos, garantiram os cinco secretários de Estado que desempenham funções de coordenadores regionais para o controlo da pandemia, numa audição conjunta na comissão eventual de acompanhamento à covid-19.
Segundo Duarte Cordeiro, secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares e coordenador regional para Lisboa e Vale do Tejo, esta região chegou a ter “em Janeiro dezenas de milhares de inquéritos em atraso”, o que levou a que por essa altura tivesse havido uma alteração da metodologia usada e um reforço dos recursos humanos para esta função. “Já não há inquéritos em atraso”, disse, referindo que se mantêm equipas “em prontidão”. “O que foi feito foi reforçar os recursos com um grande apoio das Forças Armadas e das autarquias e também contratando em diversas áreas. Neste momento, temos um conjunto de equipas preparadas para reforçar a resposta. Em Lisboa e Vale do Tejo chegámos a ter 1000 rastreadores entre tempo parcial e tempo total”, afirmou o responsável.
O pico de novos casos da região registou-se a 26 de Fevereiro com 8230 casos. “À data temos cerca de 200 novos casos por dia”, referiu. “Lisboa e Vale do Tejo tem 102 casos por 100 mil habitantes. Está na zona verde, apesar de ter uma incidência ligeiramente superior ao resto das regiões. O pico de Lisboa foi mais alto do que o de outras regiões”, justificou, acrescentando que “há 12 concelhos de Lisboa e Vale do Tejo que têm uma incidência superior a 120 casos por 100 mil habitantes”. Quanto à testagem, disse que na última semana realizaram-se 71 mil testes na região e que a “tendência é para aumentar por causa dos rastreios” a realizar em escolas e creches, mas também em locais em que se verificaram mais surtos no passado. Já em relação à vacinação, Duarte Cordeiro admitiu que que esta começou na região “com um critérios de aleatoriedade” mas que agora o “critério de idade está a ser aplicado em todo o território”.
Metade dos surtos em lares
Também no Alentejo “não há atrasos neste momento” nos inquéritos epidemiológicos, mas a seguir ao Verão chegaram a ser “mais de mil”, disse Jorge Seguro Sanches, secretário de Estado Adjunto e da Defesa Nacional. O também coordenador regional para o Alentejo lembrou que esta é uma região envelhecida – dos cerca de 460 mil habitantes mais de 92 mil têm 70 e mais anos - e que por isso a grande preocupação foi proteger as pessoas mais frágeis.
“Das 965 pessoas que faleceram no Alentejo, cerca de 90% têm mais de 70 anos. A questão de encontrarmos as melhores soluções para os mais idosos é, de facto, aquilo que é mais importante”, afirmou. Segundo o responsável, realizaram-se mais de 375 mil testes à população. Ainda assim, dos “255 surtos que se registaram, mais de metade foram surtos em lares”, o que levou à activação das brigadas rápidas para dar uma melhor resposta à situação.
Jorge Seguro Sanches referiu que as equipas multidisciplinares, com elementos da protecção civil, segurança social, saúde, fizeram “mais de 1100 visitas a cerca de 300 lares”. E que foi feito igualmente um trabalho de sensibilização que permitiu que as desconformidades detectadas sejam agora muito menos.
99% da população dos lares com uma dose da vacina
Na região Centro, “em meados de Janeiro tínhamos 1747 casos por 100 mil habitantes e agora 60 casos por 100 mil habitantes, numa taxa de incidência a 14 dias”. “Encontram-se ocupadas 49% das camas em enfermaria contra 88% de ocupação no dia 14 de Fevereiro e estão ocupadas 38% de camas em cuidados intensivos contra 95% a 14 de Fevereiro”, afirmou João Paulo Rebelo, secretário de Estado da Juventude e do Desporto e coordenador regional da zona Centro. Quanto às estruturas de retaguarda, “nem todas chegaram a ser activadas” e não há agora pessoas nestas estruturas.
Há ainda 15 lares com surtos activos de um universo de cerca de 700. João Paulo Rebelo adiantou que 99,5% da população das estruturas residenciais para idosos já está vacinada com uma dose e 55% com duas doses”. 50% das forças de segurança também está vacinada. Está prevista a vacinação de 10 mil professores e pessoal não docente de escolas e creches públicas e privadas. Questionado sobre as equipas domiciliárias que apoiam idosos e doentes, o secretário de Estado disse que “na região Centro todos estes serviços estão mapeados” e “serão consideradas pessoas a incluir nesta primeira fase”.
“Existem zero inquéritos em atraso, apesar de estarem mobilizadas três equipas das Forças Armadas para ajudar se necessário”, afirmou, explicando que as Forças Armadas tiveram na região 250 pessoas activadas para o rastreamento. “Se acrescentarmos o número de pessoas que estiveram a fazer rastreamento cedidos por municípios, mais os trabalhadores da saúde pública que já o faziam, chegamos facilmente a um número que não deve andar muito longe do número que referiu a nível nacional” - os cerca de 1100 rastreadores que foram apontados pelo governo e que serviram de base à pergunta da deputada do PSD Sandra Pereira.
2% de ocupação das estruturas de retaguarda
Segundo Eduardo Pinheiro, secretário de Estado da Mobilidade e coordenador regional da zona Norte, das oito estruturas de retaguarda, apenas Braga e Valongo se mantêm abertas. As restantes, explicou, ficam suspensas mas prontas para serem activadas se for necessário. “A taxa de ocupação é de 2%”, mas por estas 285 camas passaram “meio milhar de doentes”. Além das estruturas de retaguarda, a região contou também com o apoio das Forças Armadas “com 50 camas de enfermaria no pólo do Porto” e do sector social e privados com 490 camas (162 das quais para doentes covid-19).
Foi em Outubro, com o aumento de casos, que houve um “incremento de inquéritos por realizar”, apesar do reforço das equipas. Foi nessa altura que implementaram uma nova metodologia de inquéritos que permitiu reduzir o tempo de realização dos mesmos, “libertando os profissionais de saúde pública para surtos”. A medida permitiu ter a situação regularizada, realizando-se cerca de 60 mil inquéritos através desta colaboração. O mesmo processo colaborativo está a ser aplicado para a testagem em massa, com uma experiência que já se realizou em Santa Maria da Feira. Segundo o responsável há capacidade de testagem na região, referindo que houve dias com mais de 20 mil testes realizados.
Já no Algarve o objectivo foi garantir que os serviços de saúde não entravam em ruptura, “o que foi conseguido”, disse Jorge Botelho, secretário de Estado da Descentralização e da Administração Local e coordenador regional do Algarve. O Portimão Arena, referiu, “recebeu 170 doentes, dos quais 104 eram pessoas oriundas de outras zonas”, como Alentejo e Lisboa e Vale do Tejo.
Quantos aos inquéritos epidemiológicos existiram “alguns atrasos que se resolveram recorrendo a profissionais dos agrupamentos de centros de saúde”. O pico na região registou-se a 20 de Janeiro deste ano, quando tiveram 447 novos casos e 267 doentes internados (29 em cuidados intensivos, dos quais 13 ventilados). A taxa de incidência a 14 dias chegou a ser de 1032 por 100 mil habitantes. Actualmente, é de 43,8 por 100 mil habitantes e estão internados 17 doentes, dois em cuidados intensivos.