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As últimas crianças de uma ilha sul-coreana
Há 40 anos não faltavam crianças na ilha de Nokdo, na Coreia do Sul. Hoje, Lyoo Chan-hee, as duas irmãs e o amigo Si-hu são as únicas entre os 100 habitantes.
Nas imagens, as crianças brincam num enorme pátio com o mar em pano de fundo. Saltam à corda, brincam com raquetes, acenam aos barcos, vão para a escola, correm, andam de baloiço. Assistimos ao seu dia-a-dia. É um dia normal. Nada salta à vista porque nada distingue estas crianças dos restantes rapazes e raparigas espalhados pelo mundo e das suas brincadeiras. Ou será que distingue? Lyoo Chan-hee, de dez anos, as duas irmãs mais novas e o amigo vivem na ilha de Nokdo, na província de Jeolla do Sul, a 75 minutos de ferry da parte ocidental da Coreia do Sul. Em Jeolla do Sul existem quase 2000 ilhas. Muitas estão desabitadas, contrastando com a capital Seul ou qualquer outra zona do país onde a população atinge os milhões. Mas Nokdo é diferente: num universo de 100 habitantes, só existem quatro crianças.
O que hoje aqui se vive é uma realidade totalmente diferente da que se vivia há 40 anos, quando as praias da ilha estavam repletas de crianças e os habitantes as celebravam num ambiente de festa, onde não faltava vinho de arroz. Se Chan-hee tivesse nascido nesse tempo não lhe faltariam amigos para brincar. Por outro lado, não teria a “amizade improvável” de Kim Si-young, de 66 anos. Jogam futebol e badminton com vitória certa para Chan-hee. Mas o contrário também acontece, especialmente quando se trata de culinária. “Ele [Kim] telefona-me e partilha sempre que tem algo delicioso”, revela à Reuters.
Brincadeiras à parte, Kim quer proteger a pitoresca vila piscatória que o viu nascer, "mas é deprimente ver cada vez menos pessoas", revela. A urbanização nacional e uma longa campanha contra a natalidade fizeram de Nokdo a região com a quarta maior queda demográfica na Ásia e, de acordo com o Banco Mundial, a sociedade mais envelhecida do mundo em 2020.
Lyoo, pai das crianças e único pastor da ilha, também está preocupado com o futuro deste “lugar celestial”. "O meu filho mais velho [Chan-hee] precisa de ir para uma escola básica daqui a dois anos... Quero dar alguma esperança (às pessoas da ilha), encontrando uma forma de dar educação de nível médio a Chan-hee a partir daqui", revelou.
Para Chan-hee, com ou sem amigos da sua idade, Nokdo é o sítio onde quer ficar. "Seul é tão cheia, barulhenta e o ar não é bom. Nokdo não tem trânsito, não é barulhento e o ar é limpo. Posso brincar mais activamente lá fora, por isso gosto disto aqui."
Texto editado por Ana Maria Henriques