Holandeses votam na continuidade, mas a extrema-direita nunca teve tantos votos
Partido do actual primeiro-ministro Mark Rutte foi o mais votado e começa agora à procura de parceiros de Governo. Em segunda posição ficarm os liberais progressistas, e pró-europeus, do D66.
Os holandeses voltaram a dar uma vitória ao Partido para a Liberdade e Democracia (VVD, de centro-direita), do actual primeiro-ministro Mark Rutte, que deverá voltar a liderar uma coligação governamental. Num contexto amplamente marcado pela pandemia e pelos seus efeitos sociais e económicos, as forças políticas centristas foram as grandes vencedoras das eleições legislativas nos Países Baixos, mas os partidos de extrema-direita aumentaram a sua representação.
Segundo os resultados quase finais, o VVD parece ter garantido 35 lugares no Parlamento de 150 deputados, em linha com o que era antecipado pelas sondagens, representando um reforço da força parlamentar do partido.
Rutte, no poder há uma década, agradeceu o “esmagador voto de confiança” dado pelo eleitorado que lhe irá permitir ser o chefe de Governo holandês com maior longevidade no cargo. O primeiro-ministro reconheceu que “nem tudo correu bem nos últimos dez anos”, mas garantiu que tem “energia para outros dez anos”.
“A principal questão em cima da mesa para os próximos anos é a reconstrução do país a partir do coronavírus”, declarou Rutte.
As eleições foram antecipadas na sequência da demissão do Governo em Janeiro depois de se tornar público um escândalo ligado à denegação de abonos de família a 26 mil candidatos que tinham “sobrenome estrangeiro”.
A grande surpresa da noite eleitoral foi o bom resultado obtido pelo D66, partido liberal progressista e europeísta, que alcança o segundo lugar e consegue eleger 23 deputados, mais quatro do que nas últimas eleições, em 2017. A performance foi celebrada pela líder do partido, Sigrid Kaag, com uma dança em cima da mesa. O resultado, disse, é “uma grande responsabilidade”.
O D66 consegue destronar a aliança dos democratas-cristãos (CDA) como o segundo parceiro mais poderoso da futura coligação governamental. Os democratas-cristãos, do actual ministro das Finanças, Wopke Hoekstra, perderam quatro lugares no Parlamento.
A promoção dos liberais progressistas pode alterar a correlação de forças no próximo executivo e alguns analistas antecipam que venha a adoptar uma postura menos ortodoxa em questões europeias (tendo também em conta que o partido pró-europeu Volt elegeu 3 deputados). O papel de Hoekstra como ministro das Finanças era fundamental para colocar os Países Baixos entre os países “frugais” na União Europeia.
Os resultados parciais indicam que uma coligação entre os três partidos mais votados não tem deputados suficientes para garantir uma maioria parlamentar, obrigando a negociações com formações mais pequenas. E Rutte excluiu, de novo, qualquer entendimento com os partidos de extrema-direita. A história mostra que este período de negociações pode levar vários meses – em 2017 foram precisos 208 dias para que fosse formado um executivo.
O Partido da Liberdade (PVV, de extrema-direita), de Geert Wilders, foi penalizado nas urnas e perdeu três lugares. No entanto, esta família política nunca esteve tão representada no Parlamento holandês. O Fórum da Democracia, outra formação extremista, garantiu oito deputados e outro partido recém-fundado, o JA21, elegeu três. A oposição destes partidos às medidas de confinamento, que levaram a manifestações violentas no início do ano, terá sido um dos factores por trás do seu sucesso.
Os mais penalizados foram os partidos de esquerda, que no seu conjunto não devem ir além dos 25 lugares no Parlamento. Os trabalhistas do PvdA mantiveram uma bancada de nove deputados, mas o Partido Socialista e a Esquerda Verde foram reduzidos a metade. “Os Países Baixos escolheram e não foi a esquerda”, admitiu a líder dos socialistas, Lilian Marijnissen.
As primeiras eleições legislativas na União Europeia desde o início da pandemia decorreram ao longo de três dias, por causa das medidas de contenção sanitária. Nos primeiros dois, o voto foi reservado à população de risco, idosos e doentes.