Morreu James Levine, o maestro cuja carreira brilhante acabou num escândalo sexual

Durante décadas titular da orquestra da Ópera de Nova Iorque, dirigiu também formações em Boston e Munique. Morreu a 9 de Março, na Califórnia, aos 77 anos. A sua queda em desgraça iniciou-se no final de 2017, após várias acusações de abusos sexuais.

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James Levine esteve ligado à Ópera de Nova Iorque durante 47 anos SIGI TISCHLER/lusa

Não se conhece a causa da sua morte, nem a razão que levou o seu médico, Len Horovitz, a torná-la pública apenas esta quarta-feira, passados já oito dias. James Levine, 77 anos, maestro da Metropolitan Opera de Nova Iorque durante mais de quatro décadas, morreu a 9 de Março em Palm Springs, na Califórnia. 

Foi, lembra o diário norte-americano The New York Times, “um dos mais influentes e aclamados maestros do mundo”, até uma série de alegações de abusos sexuais – vários queixosos vieram a público a partir de Dezembro de 2017 – ter posto fim à sua carreira. 

A administração da Ópera de Nova Iorque suspendeu-o de funções ainda nesse ano, enquanto aguardava as conclusões de uma investigadora independente que contratou para averiguar da veracidade das acusações, e acabou por despedi-lo em 2018, aos 74 anos. James Levine (1943-2021) respondeu com um processo por difamação. Apesar da sua longa e brilhante carreira, as referências à sua conduta sexual, e à forma como terá usado a sua posição de poder para abusar de vários jovens músicos, alguns deles ainda adolescentes, não andam por isso longe das primeiras linhas dos obituários que a imprensa lhe dedica esta quarta-feira.

Antes do escândalo, Levine era visto como o maestro que ajudara a fazer da Ópera de Nova Iorque uma das mais respeitadas instituições culturais dos Estados Unidos, enriquecendo o reportório da sua orquestra e levando os seus músicos a tocarem ao mais alto nível, escreve Anthony Tommasini no New York Times

Levine foi também, entre 2004 e 2011, o grande responsável pela revitalização da Orquestra Sinfónica de Boston, fazendo dela uma referência na interpretação de obras contemporâneas, muitas delas encomendadas pelo próprio maestro.

Mas a Ópera de Nova Iorque e a Sinfónica de Boston são, apenas, dois dos pontos altos de um currículo que inclui colaborações com muitas outras formações, como as filarmónicas de Munique, Berlim e Viena, ou a Sinfónica de Chicago.

Uma lesão no ombro depois de uma queda em palco e outros problemas de saúde, entre eles um tumor nos rins, mantiveram-no afastado das salas de espectáculos durante longos períodos a partir de 2006, e empurraram-no, na Met Opera, para cargos fisicamente menos exigentes, embora a sua relação de 47 anos com a instituição só tenha terminado em 2018.

Quase 50 anos de Met

James Levine chegou à Metropolitan Opera com 28 anos, quase 29, e dirigiu pela primeira vez a orquestra em Junho de 1971. Tosca, de Puccini, estava em cartaz. Dois anos mais tarde tornou-se maestro principal e em 1976 assumiu a direcção musical. Haveria de dirigir a formação da casa em mais de 2500 apresentações, incluindo 85 óperas. Levine era director musical emérito quando o escândalo rebentou.

Alguns críticos diziam que faltava ao seu trabalho uma marca distintiva, lembra o principal crítico de música clássica do New York Times, mas, quando dirigia, as suas apresentações eram “lúcidas, ritmicamente incisivas sem serem obstinadas, e estruturadas de forma convincente, dando ainda às linhas melódicas espaço para respirarem”.

Acima de tudo, acrescenta Anthony Tommasini, Levine “valorizava a naturalidade, sem que nada soasse forçado, fosse uma explosão tempestuosa de uma ópera de Wagner ou uma passagem reflexiva de uma sinfonia de Mahler”.

Filho de um músico e de uma actriz, James Levine começou os seus estudos musicais pelo piano e continuou a tocá-lo, mesmo quando era já um maestro consagrado.

Quando o escândalo sexual que pôs fim à sua carreira começou a encher páginas de jornais, os rumores da sua conduta imprópria para com homens jovens já circulavam há décadas, sem que nunca tivessem sido confirmados. Foi na torrente criada pelo movimento #MeToo que quatro homens vieram a público denunciar os seus alegados abusos sexuais. Começou, então, uma batalha legal que opôs o maestro à Met Opera, com processos e contraprocessos. As duas partes chegaram a acordo no Verão de 2019, com a Ópera de Nova Iorque e a sua seguradora a pagarem ao maestro 3,5 milhões de dólares. Levine exigira 5,8 milhões por difamação.

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