Portugal só esteve no “verde” que permite desconfinar durante um quarto da pandemia

Portugal esteve mais de metade da pandemia nos quadrantes amarelos da matriz de risco. Zona vermelha só foi “pisada” a partir da segunda vaga.

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Matriz de risco apresentada por António Costa vai determinar se Portugal avança ou não no processo de desconfinamento LUSA/ANTÓNIO COTRIM

Portugal dá esta segunda-feira os primeiros passos no plano de desconfinamento apresentado na quinta-feira por António Costa. No ano que já dura a pandemia, o país esteve 98 dias – cerca de 25% do total – na zona verde do gráfico revelado pelo primeiro-ministro que vai permitir avaliar se é possível avançar com a reabertura ou se terá de se estagnar – ou mesmo fazer recuar – as medidas.

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O rectângulo dividido por cores e quadrantes que servirá de base de avaliação da reabertura tem em conta dois indicadores: a incidência cumulativa a 14 dias – com um limite de 120 novos casos por 100 mil habitantes – e o índice de transmissibilidade, ou R(t), que terá de manter-se abaixo de 1. Se os limites de incidência ou do Rt forem atingidos, o país entra em zona amarela – que aconselha um travão ao desconfinamento. Se ambos forem atingidos em simultâneo, Portugal entra no vermelho – e o processo de desconfinamento pode voltar atrás.

Considerando como ponto de partida o primeiro dia com registo do R(t), feito pelo Instituto Nacional Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), Portugal teve no dia 21 de Fevereiro de 2020 um R(t) de 1,75, iniciando aí um primeiro período no quadrante amarelo que durou 41 dias até a transmissibilidade ter baixado de 1 a 2 de Abril – resultado do primeiro confinamento iniciado a 18 de Março.

Seguiu-se um período de 50 dias durante o qual o país estaria dentro da zona de conforto agora estipulada, até 21 de Maio. Nessa altura, iniciou-se um período intermitente de momentos nos quadrantes verde e amarelo, com oscilação da transmissibilidade entre 0,8 e 1,1 durante todo o Verão e até ao final de Setembro. Esta oscilação está em linha com as declarações do matemático Óscar Felgueiras, que referiu este domingo ser impossível manter o R(t) sempre abaixo de 1.

O especialista em epidemiologia, cujas propostas serviram para elaborar o plano de reabertura agora em marcha, referiu ser importante manter uma incidência baixa do novo coronavírus, mas notou que é “impossível ser atingido de forma permanente”.

“A certa altura vamos ter poucos casos e basta uma pequena variação para termos necessariamente o R(t) acima de 1, mas o objectivo é claro: queremos uma incidência baixa” disse numa conferência promovida pela Sociedade Portuguesa de Matemática.

Dos 388 dias desde 21 de Fevereiro de 2020, Portugal passou mais de metade do tempo na zona amarela (219 dias, 56%) e um quarto dos dias na zona de conforto fixada: 98 dias até esta segunda-feira.

O país está nesta altura com um R(t) de 0,83 (dados do INSA divulgados na sexta-feira relativos ao dia 7 de Março) e uma incidência cumulativa de 93 novos casos por cem mil habitantes. Apesar de estar na zona verde em termos nacionais, Portugal tem 69 concelhos com incidência superior a 120 novos casos – são menos 75 do que na semana passada, mas ainda assim quase um quarto dos municípios (cerca de 22%) que englobam um terço da população (3,4 milhões de pessoas).

Portugal soma 72 dias com a combinação de mais de 120 novos casos por 100 mil habitantes e índice de transmissão acima de 1, nunca tendo estado na zona vermelha da matriz de risco até à segunda vaga de infecções, que começou em Outubro.

O primeiro dia no quadrante mais crítico da matriz de risco acontece a 10 de Outubro. Por essa altura o R(t) já estava acima do limite há 56 dias, e a esse indicador somou-se o primeiro valor de incidência cumulativa a 14 dias superior a 120 novos casos por 100 mil habitantes (123). Na primeira vaga, o valor máximo de incidência cumulativa foi registado a 10 de Abril, com 109 novos casos por cem mil habitantes.

Foram 41 dias com o semáforo vermelho entre 10 de Outubro e 19 de Novembro. Aí, a incidência continuou bem acima dos 120 novos casos (804 a 20 de Novembro), mas o índice de transmissibilidade passou a estar abaixo de 1. Voltou a ultrapassar esse tecto depois do Natal, a 26 de Dezembro, dando início a um segundo momento no vermelho – que, com o plano agora traçado, obrigaria a fazer marcha-atrás no desconfinamento.

Este segundo período durou 31 dias, até o R(t) baixar de 1 novamente a 26 de Janeiro, já com o segundo confinamento mais severo a decorrer. Apesar desta diminuição, a incidência cumulativa continuou a aumentar até Portugal atingir um máximo de 1670 novos casos por cem mil habitantes, entre os 14 dias de 17 a 30 de Janeiro.

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