Conseguimos mudar o nosso estilo de vida?

Precisamos que todos – cidadãos, empresas e governos – implementem e cumpram planos ambiciosos de redução de emissões. Precisamos de muito mais do que aquilo que estamos a fazer.

Foto
Adriano Miranda

Conseguimos mudar o nosso estilo de vida intenso em carbono? Sim, conseguimos, basta percebermos que a grande maioria dos recursos que extraímos, produzimos, transportamos, consumimos e reciclamos são intensos no que toca a emissões de carbono para a atmosfera. Basta deixarmos de pressionar os limites do planeta, objectivo que só atingiremos se os nossos estilos de vida – dos cidadãos, das empresas, dos governos e dos países desenvolvidos – contribuírem para reduzir emissões de carbono. Sem tomarmos esta decisão, vamos continuar a viver incêndios aterradores, ondas de calor, inundações, tornados e a assistir a migrações de pessoas.

Quando e como começou este problema? Na Revolução Industrial. Em meados do século XVIII, nos tempos pré-industriais, o círculo de carbono da Terra estava equilibrado, ou seja, as florestas, árvores e plantas absorviam praticamente a mesma quantidade de carbono que era emitida. Depois, criámos a base da economia moderna – a queima dos combustíveis fósseis – e o nosso estilo consumista originou um aumento das emissões de carbono que estão a aquecer o planeta em demasia. Desde os tempos pré-industriais que o planeta já aqueceu 1,2 graus e a cada década que passa, estamos a aquecê-lo mais 0,2 graus. Esta “ligeira” subida tem consequências devastadoras, como, aliás, já estamos a experienciar. Foi por isso que em 2015 assinámos o Acordo de Paris e nos comprometemos a não deixar que o planeta aqueça mais do que 1,5 a 2 graus até 2050.

Mas afinal, quanto custa resolver o problema das alterações climáticas? O professor William Nordhaus da Universidade de Yale, simplificou a resposta: reparar as consequências das alterações climáticas vai custar-nos 5% do PIB mundial, enquanto pôr-lhes um travão custa 2% do PIB mundial.

Há esperança? Apesar de estarmos longe de atingir os objectivos do Acordo de Paris e de 2020 ter sido o ano mais quente de sempre, há esperança. Aprendemos com os confinamentos impostos pela covid-19 que as quedas acentuadas das emissões de carbono provenientes da queima de combustíveis fósseis são possíveis: entre 2019 e 2020, reduzimos as emissões de carbono em 7%. Se é certo que as nossas acções tiveram impacto directo e imediato na temperatura global do planeta, também é certo que não queremos que estas reduções tenham o impacto social e económico que a pandemia está a ter.

Esta redução anual de carbono é suficiente? Não, para limitar o aquecimento global do planeta precisamos de cortes muito maiores. Precisamos retomar, urgentemente, o equilíbrio entre as emissões que produzimos e as que eliminamos da atmosfera.

O que falta? Trabalhar em conjunto. Precisamos de um sistema de prevenção e resposta que, guiado pela ciência, integre várias áreas: saúde, física, química, biologia, engenharia, política, economia, finanças, fiscalidade, comunicação e tantas outras. Precisamos que todos – cidadãos, empresas e governos – implementem e cumpram planos ambiciosos de redução de emissões. Precisamos de muito mais do que aquilo que estamos a fazer.

Quero reduzir as minhas emissões de carbono e ser mais sustentável – por onde começar? Todos nós enfrentamos escolhas diárias que acarretam custos no clima, mas enquanto consumidores podemos tomar decisões sobre quase tudo o que fazemos e compramos e, assim, contribuir para a mudança. Conseguimos ser mais sustentáveis exactamente com o mesmo espírito e solidariedade com que nos temos protegido da covid-19: escutando as recomendações da ciência e agir em conformidade.

O nível de sacrifício que as alterações climáticas nos trarão nos próximos anos é inaceitável, por isso só temos um caminho: reaprender a viver num planeta finito e fomentar a prosperidade através do equilíbrio das emissões de carbono.

Sugerir correcção
Ler 4 comentários