No Advento que Francisco Jarrin deseja, as mulheres são a “esperança para a cura humana”

Adventimento (advento, em português) retrata as mulheres como a esperança para uma reconstrução social, mas com a "cumplicidade dos homens, que, de um lugar de poder e hierarquia, tomaram o papel de todo-poderoso".

Francisco Jarrin
Fotogaleria
Francisco Jarrin

Nas fotografias de Francisco Jarrin, as mulheres carregam os homens — mas eles “não são uma carga”. Para perceber essa relação, é preciso prestar atenção aos detalhes na linguagem corporal dos pares binários de desconhecidos, amigos ou parceiros. Ela suporta-o, os dois pés bem assentes na terra, “segura, com poder, mas não zangada”, explica o fotógrafo equatoriano ao P3. “Mas as mãos dele sustêm-no e os olhos estão abertos. Ele está vivo e a dizer: ‘Ajuda-me, mas eu também estou aqui’.”

Francisco tinha muitas vezes esta conversa com a mãe, sobre um “desejo íntimo” de um novo advento. “Para mim, é a esperança para todas as coisas que os homens destruíram; agora é a oportunidade de restabelecer o foco”, explica.

 

Quando expressou esta “utopia” à namorada, Priscila B. Lombardo, Adventimento, a série fotográfica que aqui apresenta, apareceu. Um dia depois, fotografaram-se na banheira na casa onde vivem, em Buenos Aires, na Argentina. “É o sítio onde me sinto mais vulnerável. É a cumplicidade entre mim e ela e achamos que é o sítio perfeito para a fotografia.”

“Acreditamos que na época contemporânea as mulheres representam e actuam como uma força transformadora, o motor de uma mudança geracional sem precedentes. Acreditamos na igualdade de género, por isso neste projecto queremos mostrar os homens como cúmplices e apoiantes nesta nova era de empoderamento feminino, agarrando e abraçando a oportunidade de cura humana”, escreveram, na proposta do projecto que o fotógrafo assina, mas que menciona sempre no plural.

Não foi difícil entrar na casa de outras pessoas e juntar binómios. “No momento em que cada pessoa encaixa a outra no seu corpo foi muito estranho, porque nenhuma parelha fez o mesmo que outra. Foi totalmente natural e muito bonito, muito surpreendente”, relata.

Embora tenha sido fotografado sob a lente da “desconstrução dos papéis de género” e o desejo de uma “reconstrução social”, o projecto tem suscitado diferentes reacções desde que foi apresentado em 2020. Críticas sobre a ligação à maternidade, uma possível perpetuação do papel da mulher enquanto cuidadora e do género binário e a representação de uma “mulher adulta a sustentar um homem que não quer crescer” não convenceu alguns.

Francisco Jarrin também tem algumas questões sobre o tema e o próprio trabalho. Incluindo sobre os desafios de re-imaginar uma nova distribuição de poder: “Não se pode separar estas ideias porque são mensagens pré-concebidas que temos em relação à mulher. Mas se queres falar sobre tudo, acabas por não falar sobre nada. Por isso, focamo-nos nesta oportunidade.”

Francisco Jarrin
Francisco Jarrin
Francisco Jarrin
Francisco Jarrin
Francisco Jarrin
Francisco Jarrin
Francisco Jarrin
Francisco Jarrin
Francisco Jarrin
Francisco Jarrin
Francisco Jarrin
Francisco Jarrin
Francisco Jarrin
Francisco Jarrin
Francisco Jarrin