Os algoritmos que nos controlam
Atualmente, uma parte substancial da nossa vida é já controlada por algoritmos, com tendência a crescer nos próximos tempos.
Aos poucos, e sem que lhe demos muita importância, a inteligência artificial está progressivamente mais presente no nosso quotidiano, em particular na gestão e distribuição de tarefas. Um dos exemplos mais correntes da utilização da inteligência artificial para a gestão autónoma e otimizada de recursos são as aplicações que fazem a distribuição de trabalho aos “estafetas” das plataformas digitais de entrega de comida como a UberEats ou a Glovo. A paisagem urbana das grandes cidades portuguesas e um pouco por todo o mundo, tem-se vindo a alterar com a circulação de motas e ciclistas que, de forma desenfreada disputam as ruas e estradas para entregar as encomendas efetuadas através destas aplicações.
Com a situação pandémica do último ano, a popularidade do serviço de entrega ao domicílio disparou, e em Portugal existem milhares de pessoas a trabalhar para estas plataformas. Na sua maioria, jovens à procura de um rendimento extra, mas com o aumento do desemprego dos últimos meses, cada vez mais pessoas optam por trabalhar para estas plataformas, em particular trabalhadores estrangeiros.
Com a crescente utilização dos modelos de negócio por subscrição, o número de plataformas digitais, em que o controlo e gestão está a entregue a algoritmos é também cada vez maior. A distribuição e entrega de comida ao domicílio é apenas uma das muitas aplicações desta tecnologia.
A vida controlada por algoritmos
O termo algoritmo, existente há bastante tempo, tem vindo recentemente a ser mais popularizado. Em particular, no seu significado relacionado com a informática, que define que um algoritmo é uma sequência de instruções que permite encontrar a solução para um problema num número finito de passos. E, é isso, descrevendo de forma simplista, o que os programas informáticos fazem – executam algoritmos de forma automatizada.
Atualmente, uma parte substancial da nossa vida é já controlada por algoritmos, com tendência a crescer nos próximos tempos. Senão vejamos: aplicações de monitorização de sono incluídas nos smartphones e smartwatches indicam e agendam alarmes de despertar de acordo com que o seu algoritmo considera um sono adequado, obviamente com as restrições indicadas pelo utilizador.
Os percursos de viagem que utilizamos para fugir ao trânsito ou para otimizarmos o tempo da nossa deslocação, são definidos em aplicações pelo Google Maps e outras, que se baseiam em algoritmos, que nos indicam o melhor trajeto. O mercado de anúncios online, que nos sugere e recomenda produtos, e que em grande parte das situações nos influencia inconscientemente na tomada de decisão com a apresentação de recomendações e reviews de produtos. Passando obviamente pelos algoritmos de assistência e condução autónoma de veículos, cada vez mais presentes nos automóveis, e, pelos filmes que assistimos em plataformas como a Netflix, ou as músicas que não conhecíamos e que agora ouvimos no Spotify, porque o seu algoritmo nos apresentou essas canções.
Existem inúmeras outras situações, que presentemente um algoritmo ou decide por nós, ou nos apresenta um conjunto de opções, que considera relevantes para tomarmos a decisão final. Isso acontece quando fazemos uma simples pesquisa no Google, e nos são mostradas páginas web que o algoritmo da Google considera mais adequadas, ou mesmo em aplicações médicas, que sugerem diagnósticos e procedimentos médicos de acordo com os sintomas e variáveis inseridas. Estes algoritmos baseiam-se fundamentalmente, em ações/instruções pré-programadas, que juntamente com a análise de (uma grande quantidade) de dados, permitem apoiar uma tomada de decisão mais rápida e eficaz.
Contudo, e não considerando evidentemente toda a evolução tecnológica que continuaremos a assistir continuamente, é no mercado laboral que os algoritmos vão ter uma preponderância mais relevante e serão completamente disruptivos nos próximos tempos. Desde a fase de recrutamento e seleção de recursos humanos, que serão otimizadas com a filtragem e adequação dos currículos às características das posições e preferências dos gestores, até à própria gestão de equipas e projetos.
Da mesma forma que os algoritmos das plataformas digitais distribuem tarefas pelos estafetas de entrega de comida, a breve prazo, tarefas e funções num projeto ou numa equipa de desenvolvimento, serão distribuídas por algoritmos que irão sugerir em que área cada colaborador tem maior probabilidade de exercer bem as suas capacidade e competências. E serão essas mesmas plataformas de gestão de projetos, que irão beneficiar ou penalizar os funcionários no desempenho das suas tarefas. Em última instância, o algoritmo será o nosso chefe.
Brevemente, competiremos com estes algoritmos para a realização de tarefas. Enquanto conseguirmos ser mais eficazes e eficientes (ou mais baratos), seremos nós a realizá-las. Porém, todas as tarefas que possam ser automatizadas, mais tarde ou cedo, vão acabar por ser realizadas por algoritmos de alguma máquina.
No futuro, faremos apenas aquilo que as máquinas não conseguirão fazer. Tarefas criativas, de pensamento crítico ou de análise intrinsecamente humana, algo que os algoritmos por mais artificialmente inteligentes que sejam, dificilmente conseguirão realizar. Provavelmente, enquanto o nosso trabalho depender destes algoritmos, trabalharemos tanto ou mais do que agora. No entanto, assim que nos desprendermos dessa gestão, iremos usufruir finalmente dessa liberdade de termos as máquinas ao nosso serviço e a sociedade evoluirá para um cenário em que o trabalho humano será valorizado de outra forma. Até lá, as empresas poderão contar com o melhor recurso que algum dia conseguirão ter, as pessoas.