Lucro da VW cai 37,5% em 2020 e reforça urgência da mudança de rota
Modelo T-Roc, produzido em Portugal, foi oitavo mais vendido pela marca que continua a pagar caro o escândalo dieselgate: em 2020 custou 800 milhões.
Hardware, software, baterias e carregamento. Estas são as quatro palavras-chave da plataforma que a Volkswagen vai adoptar daqui em diante para tentar transformar-se no líder mundial na mobilidade eléctrica. Quem notou a ausência da palavra carro?
Na bolsa, a VW é uma das estrelas do dia. A cotação na bolsa de Frankfurt sobe cerca de 7%, por volta das 13h45, para perto dos 210 euros. É a maior subida do dia na praça alemã, cujo índice principal, o DAX, está a subir 0,8% nesta terça-feira. O objectivo de destronar a Tesla na mobilidade eléctrica, com forte redução nos custos e projectos para aumentar a eficiência operacional segundo os planos anunciados nas últimas 48 horas, entusiasmou investidores, apesar de nem tudo serem boas notícias.
Depois de anunciar um corte de milhares de postos de trabalho na Alemanha e de revelar que quer ter seis “gigafábricas” de produção de baterias na Europa (uma das quais pode vir para Portugal), o grupo alemão apresentou esta terça-feira as contas de 2020, com quebra de 11,8% nas receitas totais, para 222,8 mil milhões de euros, e uma significativa deterioração da margem líquida.
Como já se sabia, as entregas caíram 15,2% no primeiro ano da pandemia, com impacto nas contas: o lucro após impostos diminuíram 37,5% face a 2019, para 8334 milhões de euros. É muito dinheiro. Mas com uma margem líquida de 4,3% que tinha sido de 6,7% em 2019, o grupo alemão vai ter de melhorar bastante a sua eficiência para conseguir lidar com os desafios do sector. O objectivo é chegar a uma margem entre 7% e 8% até 2025.
“A electrificação e digitalização estão a mudar os carros de forma ainda mais veloz e radical do que antes. As economias de escala são absolutamente críticas para essas duas áreas. A nossa estratégia de plataforma vai melhorar a nossa posição e ajudar-nos a aproveitar todo o potencial do grupo”, comentou o presidente executivo, Herbert Diess, após a divulgação do relatório e contas.
No futuro, “todos os carros e serviços de todas as marcas do grupo vão assentar em pilares técnicos normalizados”, diz a VW. Neste momento, a plataforma utilizada nos carros eléctricos é a MEB, em uso na Europa, nos EUA e na China, e que deverá servir 27 modelos dentro de 24 meses.
No próximo ano, diz a administração, nascerá outra plataforma para os segmentos premium (PPE), com maiores acelerações, mais autonomia e menos tempo de carga. E por volta de 2025 terá a SSP (Scalable Systems Platform), para “a nova geração de eléctricos puros, totalmente digitais”, suficientemente ágil para poder ser usada em qualquer escala e em todos os modelos das diversas marcas do grupo. Este leque inclui Audi, Seat, Skoda, Bentey, Bugatti, Lamborghini, Porsche, Ducati e a VW Veículos Comerciais. No mercado de pesados, controla ainda a Scania e a MAN.
Na componente de software, 2020 marcou o nascimento de uma empresa própria, a Car.Software-Org, que desenvolveu a primeira versão do sistema operativo VW, o VW.OS. A versão 1.2 permitirá alavancar a partilha de software no grupo, elevando-a dos actuais 10% para 60%.
O plano de transformação é ambicioso – mas mais lento do que o dos concorrentes. Na segunda-feira, o grupo disse esperar que os eléctricos sejam 60% das vendas em 2030. Ora, a Ford e a Volvo têm como objectivo só vender eléctricos no mercado de ligeiros de passageiros nesse ano.
Quanto às vendas do ano passado, 5,1 milhões de carros entregues são da marca VW. A China foi o principal mercado (3,1 milhões de unidades). O modelo mais vendido da marca foi o Tiguan, com 754 mil unidades vendidas.
As vendas do T-Roc, cuja produção é exclusiva da Autoeuropa (com excepção para o mercado da China), em Portugal, ultrapassaram ligeiramente a fasquia dos 285 mil. Foi o oitavo modelo mais vendido, mas com uma quebra significativa (menos cerca de 40 mil unidades). Entre os dez modelos mais vendidos, apenas um vendeu mais em 2020, o T-Cross, produzido em Espanha (Pamplona).
Nos modelos eléctricos, no ano do lançamento do ID.3, o primeiro assente na plataforma MEB, a marca vendeu pouco mais de 64.259 unidades. A estes somam-se os 6487 exemplares do ID.4. No total, o grupo pretende vender um milhão de eléctricos em 2021.
O escândalo dieselgate (a que o relatório da marca alude como “a questão diesel"), continua a pesar nas contas: em 2020, custou 800 milhões de euros, ainda assim muito menos do que os 1900 milhões de 2019.