Estado francês vai mudar lei para restituir quadro de Klimt aos seus herdeiros legítimos

Rosiers sous les arbres, que o artista terá pintado em 1905 e actualmente está no Musée d’Orsay, em Paris, vai ser restituído à família de Nora Stiasny, uma das vítimas do Holocausto, anunciou a ministra da Cultura francesa depois de o projecto de lei ser aprovado pelo Parlamento.

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A ministra da Cultura francesa Roselyne Bachelot ao pé do quadro de Gustav Klimt Reuters/POOL

O Ministério da Cultura francês está a preparar um projecto de lei que permitirá que o único quadro de Gustav Klimt (1862-1918) presente nas colecções públicas francesas, Rosiers sous les arbres, que o artista terá pintado em 1905 e que actualmente está no Musée d’Orsay, em Paris, seja restituído à família de Nora Stiasny, uma das vítimas do Holocausto.

Na segunda-feira, durante uma conferência de imprensa, a ministra da Cultura francesa, Roselyne Bachelot, anunciou a intenção do Estado francês de devolver este quadro aos herdeiros da família do industrial judeu Victor Zuckerkandl, que foi o primeiro comprador do quadro, e da sua sobrinha Nora Stiasny, que na época o herdou.

“Um acto de justiça”, chamou-lhe a ministra da Cultura, que a seu lado tinha o quadro, dominado por tons verdes, e onde estão representadas flores e árvores. Gustav Klimt foi um pintor simbolista austríaco, líder do Movimento da Secessão de Viena e é o autor do famoso quadro O Beijo.

A obra Rosiers sous les arbres tinha sido vendida por Nora Stiasny sob coacção, na época em que a Áustria foi anexada pela Alemanha sob o regime nazi, e nos anos 80 foi legalmente comprada no mercado de arte pelo Estado francês.

Alfred Noll, o advogado que representa a família austríaca, estava também presente na conferência de imprensa e, segundo o The New York Times, afirmou que a família está “muito satisfeita e muito grata” com o fim deste processo de restituição que foi iniciado por Ruth Pleyer, uma especialista em arte austríaca. Foi em 2018 que o embaixador austríaco informou as autoridades francesas de que o quadro tinha sido vendido sob coacção. Desde aí foram feitas investigações para que se pudesse confirmar esta história.

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"Rosiers sous les arbres" de Gustav Klimt Reuters

Rosiers sous les arbres, conta o jornal Le Monde, foi comprado pelo Musée d’Orsay em 1980 através da galeria Peter Nathan, em Zurique, na Suíça, com a ajuda de uma doação anónima de mecenato canadiano. Já depois da aquisição, descobriu-se que o quadro que tinha sido apresentado à galeria Nathan para venda havia sido comprado por uma ninharia em 1938 por um austríaco simpatizante nazi a Nora Stiasny. Esta tinha visto os seus bens imobiliários serem apreendidos antes de, em 1942, ter sido deportada para os campos de concentração da Alemanha nazi na Polónia sob ocupação com a sua mãe, marido e filho, onde nenhum deles sobreviveu. Esse austríaco simpatizante do III Reich, amigo de infância de Nora, conservou esta obra de arte até à sua morte, em 1960. Afirma o The Art Newspaper que foi uma namorada dele a vender o quadro através da galeria Nathan.

Lembra ainda o The New York Times que, em 2017, a Áustria devolveu outra pintura de Klimt, Apple Tree II, aos herdeiros de Stiasny, mas percebeu-se que tinha sido um erro. Houve uma confusão entre dois quadros e voltou-se atrás na decisão. Era Rosiers sous les arbres o quadro que devia ter sido devolvido a esta família. E agora está mais perto de o ser. 

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