Agência de Medicamentos promete avaliação da vacina da AstraZeneca na quinta-feira. Até lá, benefícios ultrapassam riscos

Na quinta-feira, a EMA vai divulgar o parecer dos peritos que estão a analisar os casos de formação de coágulos após a vacinação. “Uma situação como esta não é inesperada. Não é raro que possam verificar-se efeitos adversos”, diz Emer Cooke.

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Falta provar uma relação causal entre o uso da vacina da AstraZeneca e a formação de coágulos Reuters/IRAKLI GEDENIDZE

“Continuamos convencidos, com base nas provas que temos, de que os benefícios da vacina da AstraZeneca contra a covid-19 ultrapassam os riscos.” A directora da Agência Europeia de Medicamentos (EMA), Emer Cooke, repetiu em quase todas as respostas de uma conferência de imprensa online a mensagem que a sua instituição quer transmitir. Pelo menos até quinta-feira, quando estará concluída a análise científica sobre os casos de formação de coágulos sanguíneos em pessoas imunizadas, que levaram a uma vaga de suspensão desta vacina por toda a União Europeia.

“Uma situação como esta não é inesperada. Não é raro que possam verificar-se efeitos adversos”, disse Emer Cooke. Mas, para responder a esta situação de emergência, ao comité de farmacovigilância da EMA, composto por peritos dos vários Estados-membros da União Europeia, estão também a ser convocados “especialistas em episódios tromboembólicos e representantes dos países”.

O foco é a vacina da AstraZeneca, mas está também a ser dada atenção a relatos de casos que parecem semelhantes ocorridos noutros países europeus, e nos Estados Unidos, com as vacinas da Pfizer-BioNtech e da Moderna, disse Emer Cooke. “Estamos a ver surgir números de efeitos adversos associados com as vacinas em todo o mundo. Isso será avaliado pelos peritos”, afirmou a directora da EMA.

Nesta terça-feira, há uma reunião dos peritos para avaliar os dados relevantes, que podem incluir a análise dos dossiers preparados pelas empresas farmacêuticas para a aprovação das suas vacinas pela EMA e outras agências reguladoras do medicamento, mas também dados epidemiológicos sobre a incidência de problemas em torno da formação de coágulos, explicou Peter Arlett, responsável pelo departamento de farmacovigilância da EMA.

Os casos com “características raras”, verificados pelo menos na Noruega e na Alemanha, de pessoas que tiveram coágulos sanguíneos e muito poucas plaquetas no sangue, são o principal foco de interesse. Por exemplo, na Alemanha, registaram-se sete casos de “tromboses venosas cerebrais” (seis mulheres, um homem), a que se juntava essa característica do número reduzido de plaquetas e sangramento, pouco tempo depois da vacinação. Estas pessoas eram jovens, tinham entre 20 e 50 anos, e três delas morreram, segundo a informação do Instituto Paul Ehrlich de Vacinas e Medicamentos Biológicos. 

As plaquetas são activadas quando há danos nas paredes de um vaso sanguíneo: mudam de forma e aderem à parede do vaso, para formar um tampão, evitando o derramamento de sangue. Interagem com outras proteínas para formar coágulos que tapam a ruptura e, num organismo saudável, esta reacção só vai até certo ponto, até estarem reparados os danos. Mas alguns medicamentos, por exemplo, podem interferir nesse processo, aumentando o risco de formação de coágulos.

“Apesar de número elevado de vacinações com a AstraZeneca (1,6 milhões no total, estes sete casos são cima da média”, diz um comunicado do Ministério da Saúde alemão citado pelo jornal Financial Times. O normal seria 1 a 1,4 casos numa população desta dimensão, nos 14 dias após a vacinação – não sete casos.

Estes casos clínicos vão ser estudados atentamente, para tentar perceber se fazem parte de algum subgrupo de risco, explicou Emer Cooke. “Mas, antes disso, temos de saber se há alguma relação causal entre a toma da vacina e a formação dos coágulos”, recordou Peter Arlett.

No entanto, apesar do espírito de abertura, de prestar informação aos cidadãos europeus, não foi propriamente avançada informação nova pela EMA relativamente aos casos de formação de coágulos sanguíneos em vários locais do organismo, após a imunização com a vacina contra a covid-19 da AstraZeneca, que levaram tantos países europeus a decidir suspender o uso desta vacina, por precaução – ainda que isso atrase os respectivos programas de vacinação.

Por exemplo, interrogada sobre o número actualizado destes casos, Emer Cooke reconheceu que não os iria avançar. “Reparam que eu estou a ser muito cautelosa para não dizer números concretos”, alertou. Isso é porque continuam a chegar dados, actualizações de vários países, que podem desactualizar-se a todo o momento. “Os números com que temos trabalhado são relativos a 10 de Março, e são de 30 casos em cinco milhões de pessoas vacinadas. Mas sei que, neste momento, já não está actualizado.”

Para ter uma “avaliação com base na ciência”, prometida por Emer Cooke, será preciso esperar por quinta-feira, quando a seguir à reunião dos peritos a EMA divulgará as suas conclusões sobre se a formação de coágulos sanguíneos após a imunização com a vacina da AstraZeneca é uma coincidência ou algo real, em relação ao qual os peritos farão recomendações.

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