Escolas abrem hoje e põem na rua mais de 1,5 milhões de portugueses

“Vai ser preciso um trabalho individualizado” para recuperar o atraso nas aprendizagens dos alunos do 1.º ciclo, defende o presidente da associação de directores.

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Daniel Rocha

A reabertura das escolas até ao 1.º ciclo, a partir desta segunda-feira, vai tirar de casa mais de 1,5 milhões de portugueses, entre estudantes, pais, professores e funcionários. O calendário de desconfinamento na educação começa pelos alunos mais pequenos que são “os que vão pagar a factura mais pesada” de dois anos lectivos conturbados, defende o presidente da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas (Andaep), Filinto Lima. “Vai ser preciso um trabalho individualizado” para recuperar o atraso nas aprendizagens.

São mais de 700 mil crianças que voltam às suas salas nesta segunda-feira – há 231 mil inscritos no pré-escolar e 372 mil no 1.º ciclo, segundo os dados oficiais mais recentes da Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência. Nas creches, que também reabrem no primeiro dia de desconfinamento, estão pelo menos 100 mil crianças, de acordo com a última Carta Social, que é de 2018. Se há 700 mil crianças a ir às escolas, há outros tantos pais que vão ter sair de casa para os transportar no início e final do dia. Ou seja, só entre alunos e encarregados de educação há cerca de 1,4 milhões de pessoas a movimentarem-se diariamente.

O regresso dos alunos do 1.º ciclo ao ensino presencial já tinha sido classificado como “urgente” pelo presidente da Andaep, que mostra preocupações em particular com os alunos do 1.º e 2.º anos que estiveram longos períodos em ensino remoto numa fase crucial do seu desenvolvimento. A recuperação necessária não se fará apenas no que falta deste ano lectivo: “Pelo menos enquanto estiveram no 1.º ciclo, estes alunos vão ter trabalho de recuperação a fazer.”

A “consolidação” que há a fazer implica um “trabalho fino”, defende o mesmo responsável. Isto é, adaptado às necessidades de cada um dos estudantes. Os alunos vão, por isso, necessitar de apoios individualizados para responder às carências que sejam detectadas nas suas aprendizagens. Será também útil colocar docentes coadjuvantes junto dos professores titulares nas salas do 1.º ciclo, propõe Filinto Lima.

Para isso, “são precisos mais recursos humanos”, defende. Neste ano lectivo, o Ministério da Educação (ME) reforçou os créditos horários às escolas e colocou centenas de tutores e técnicos especializados no âmbito de um programa de promoção de sucesso escolar. Esta aposta deve ser “reforçada” nos próximos anos, afirma Filinto Lima.

Para a contabilidade de 1,5 milhões de pessoas a movimentarem-se a partir desta segunda-feira contam também os professores (28 mil no 1.º ciclo) e educadores (15 mil no pré-escolar) além dos funcionários das escolas. Segundo as estatísticas oficiais há 3600 estabelecimentos de ensino no 1.º ciclo que têm “entre quatro e sete” assistentes operacionais, aponta Filinto Lima. O PÚBLICO usa a estimativa mais conservadora (4 assistentes operacionais por cada escola) para calcular um total de 15.000 funcionários de volta ao trabalho.

De regresso estão também os 29 mil funcionários das creches e os 20 mil docentes e técnicos envolvidos nas Actividades de Enriquecimento Curricular (AEC) no 1.º ciclo. Apesar de a generalidade dos trabalhadores das AEC não terem um vínculo com o ME – as actividades são promovidas por autarquias ou associações de pais, na maioria dos casos –, estes docentes e técnicos vão também ser testados, nos mesmos moldes dos professores e funcionários. Na terça-feira, e até 19 de Março, serão feitos testes rápidos de antigénio ao pessoal docente e não docente da educação pré-escolar e 1.º ciclo do ensino básico em todos os concelhos de Portugal continental.

Pelo menos nos primeiros dias de aulas presenciais, o uso de máscaras vai continuar a não ser obrigatório para crianças com menos de dez anos. O PÚBLICO questionou nos últimos dias a Direcção-Geral de Saúde tentando perceber se esta indicação iria ser mantida no momento em que os alunos mais novos regressam às aulas presenciais, mas não recebeu uma resposta.

No final da semana passada, o ME deu indicações às escolas para que comprem um kit com três máscaras comunitárias para entregar aos alunos do 1.º ciclo, à semelhança do que aconteceu no início do ano lectivo para os colegas mais velhos. A sua utilização é “voluntária”, cabendo “aos respectivos encarregados de educação a decisão”, definiu a tutela.

Os directores das escolas e os encarregados de educação divergem quanto à necessidade de utilização de máscara pelos alunos do 1.º ciclo. Enquanto a Associação Nacional de Directores de Escolas (ANDE) entende que medida pode reforçar a segurança, a Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap) não vê vantagens na sua adopção.

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