E a lagoa de Santo André abriu-se ao mar
Uma vez por ano, a abertura das lagoas ao mar é um acontecimento. E em Santo André, é sempre uma festa, com muita gente a querer ver ao vivo. A tradição cumpriu-se, mas este ano o espectáculo, como tantos, foi sem público.
Todos os anos, a tempo de receber a Primavera, a lagoa de Santo André, tal como a vizinha de Melides e outras pelo país, é aberta ao mar. A operação, que decorreu na sexta-feira na lagoa do concelho de Santiago do Cacém, destina-se a melhorar a qualidade da água e a renovar as espécies.
A tradição repetiu-se, mas com um detalhe novo, marcado, obviamente, pelas restrições relacionadas com o controlo da pandemia: ao contrário de outros anos, em que muitas centenas de interessados acorrem ao local para assistir aos trabalhos, não houve público. Para “evitar aglomerações de pessoas”, o acesso ao local da intervenção foi “limitado exclusivamente aos operacionais relacionados com a mesma e às viaturas de serviço e de emergência”, indicava o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).
Foi assim, “sem a multidão que habitualmente se juntava nas margens do canal para assistir ao espectáculo da natureza”, como refere, por seu lado, a autarquia local, que se cumpriu a operação, destinada à “renovação do sistema lagunar de extrema importância para o habitat das várias espécies que aqui vivem”. A lagoa é também, sublinha-se, “importante para a comunidade piscatória e toda a actividade económica que resulta da pesca”.
A escolha desta época do ano está associada ao equinócio da Primavera, com “marés de grande amplitude que permitem renovar as massas de água que entram nas lagoas, melhorar a qualidade da água e contribuir para a manutenção da fauna”, como explicava, no ano passado, a Administração da Região Hidrográfica do Alentejo, integrada na Agência Portuguesa do Ambiente.
Esta última entidade é responsável pelo processo ao lado do ICNF e da Polícia Marítima.
A abertura da lagoa decorre, explica o ICNF, “através do rompimento da barra arenosa que separa a lagoa do mar naquela zona húmida”. Uma obra “essencial” para a qualidade da água e “manutenção dos valores naturais que dela dependem, como é o caso da enguia-europeia, que em Portugal tem o estatuto de conservação de ‘Em Perigo’”.
Abre-se um “canal profundo perpendicular ao mar, com recurso a meios mecânicos, escavado abaixo da cota de fundo do corpo lagunar, para que o esvaziamento seja eficiente”. Promove-se, assim, “o arrastamento dos sedimentos lodosos do fundo”.