Volkswagen vai cortar até 5000 postos de trabalho

Acordo entre administração e trabalhadores envolve reformas, parciais ou antecipadas, e saídas negociadas. Cortes afectam apenas a Alemanha.

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Reuters/Fabian Bimmer

O grupo alemão Volkswagen quer cortar entre 4000 e 5000 postos de trabalho nos próximos 24 meses, segundo diversas agências de notícias noticiaram no domingo. Não haverá despedimentos (que estão proibidos até 2029), pelo que a solução passa por negociar saídas, reabrir programas de reformas, parciais e antecipadas, e congelar a contratação de trabalhadores em 2021. Este pacote aplica-se apenas às unidades de produção alemãs, como salienta fonte da Autoeuropa, a fábrica que o grupo germânico tem em Palmela, com 5282 trabalhadores.

O emagrecimento começará na marca Volkswagen, segundo o acordo feito entre a administração e os representantes dos trabalhadores. Pode depois estender-se a outras marcas do grupo. O comunicado divulgado entretanto no site não refere o número total de saídas pretendidas.

As reformas parciais vão ser oferecidas aos trabalhadores com 57 anos (nascidos em 1964). Aqueles com 59 ou 60 anos (nascidos em 1961 ou 1962) também terão acesso ao programa da reforma reforma parcial e os que têm entre 61 e 65 anos (nascidos entre 1956 e 1960) podem pedir a reforma antecipada. 

Neste intervalo de idades entre os 57 e 65 anos, estão cerca de 11.500 trabalhadores do grupo, lê-se no comunicado. “Baseados na experiência, a empresa espera a adesão de até 900 trabalhadores à reforma antecipada; para a reforma parcial, um número baixo de quatro dígitos”, lê-se no comunicado.

Segundo a agência Reuters, que cita fontes não identificadas da fabricante alemã, a empresa espera cortar até 4000 postos de trabalho. Já segundo a Bloomberg, que cita o jornal económico alemão Handelsblatt, que revelou o plano em primeira mão, serão 5000.

O comunicado não detalha esse número, anunciando que a administração e a comissão de trabalhadores acertaram “um conjunto de linhas mestras especificando componentes adicionais para a transformação do grupo no corrente ano fiscal”.

As fontes da Reuters acrescentam 3000 a 4000 postos de trabalhos serão extintos no âmbito deste programa aplicável nas seis fábricas VW na Alemanha, que empregam cerca de 120 mil pessoas (107 mil, sem estagiários, diz o Handelsblatt). 

O custo com este programa de saídas dependerá do número de adesões. Fonte não identificada citada nas notícias de domingo estima que pode ascender aos 500 milhões de euros.

O comunicado oficial anuncia ainda que o congelamento das contratações, que só deveria durar no primeiro trimestre, será estendido a todo o ano. As vagas existentes terão de ser preenchidas com a prata da casa. E poderão haver novas entradas apenas para posições alinhadas com a aposta na produção de software, de carros eléctricos e de baterias.

O responsável dos Recursos Humanos na equipa de gestão afirma ser necessário continuar com uma “gestão disciplinada dos custos” para poder assim “financiar os investimentos requeridos no futuro, continuar a ser competitivo e, acima de tudo, proteger empregos no longo prazo”.

“Este pacote inclui as medidas certas para esses objectivos. Estamos a reforçar a transformação interna da nossa força de trabalho e a criar emprego em áreas de futuro. Para tal, iremos reforçar o orçamento em formação com 40 milhões de euros”, diz Gunnar Kilian. Este orçamento sobe assim para os 200 milhões de euros.

Bernd Osterloh, presidente do Conselho do Trabalho (órgãos existentes no grupo em que têm assento a equipa de gestão e os trabalhadores), diz, por seu lado, que se está a apostar numa receita que “já deu provas de que funciona”.

A reforma parcial na VW tem sido usada desde 2017. Os trabalhadores abrangidos não saem imediatamente da empresa, podendo estender-se por seis anos. Segundo o Handelsblatt, se 3000 trabalhadores aderirem a esta medida, o grupo incorrerá em custos com pensões e subsídios salariais que podem ascender a 300 milhões de euros.

Na reforma antecipada, quem tem 61 anos, por exemplo, pode tirar licença, ficar com um contrato de meio tempo por dois anos, recebendo 75% do salário, reformando-se dois anos antes. Cabe ao grupo compensar parcialmente o pagamento de pensões. 

Nas contas da redução da força laboral entram ainda cerca de 1000 saídas voluntárias, estima a VW.

O grupo mostrará hoje como e quanto do seu futuro vai depender das baterias e da mobilidade eléctrica, durante uma iniciativa chamada Power Day, com transmissão global através da Internet.

Em Janeiro, o grupo anunciou que as vendas de 2020 recuaram cerca de 15%, em termos homólogos. O grupo todo (que inclui diversas marcas) vendeu mais de nove milhões de carros, com a maior fatia a serem da marca VW. 

A empresa tem os olhos postos num novo modelo de desenvolvimento, tal como está definido no programa Accelerate, apresentado há menos de duas semanas. Pretende ser mais parecida com a Tesla, aproximando-se do cariz de empresa tecnológica. Para tal precisa de financiar um enorme programa de transformação, para o qual contribuirão este e outros programas de cortes de custos fixos que, no caso das fábricas alemãs, é superior do que no resto do grupo.

Em Janeiro, tinha sido anunciado um plano de redução, a dois anos, de 5% nos custos gerais e de 7% nos fornecimentos.

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