Brasil ultrapassa duas mil mortes diárias em três dos últimos cinco dias
Peritos preocupados com possibilidade de mais variantes enquanto as infecções, e mortes, sobrem a pique nas últimas duas semanas.
A pandemia da covid-19 continua a progredir no Brasil, com cada vez mais peritos a expressarem preocupação com o papel de uma transmissão descontrolada do vírus em novas variantes. Durante três dias seguidos, o país registou mais de 2 mil mortes, um número que só desceu no sábado, quando se registaram 1940 óbitos. O pico da semana foi na quarta-feira, com 2349 mortes.
“Por outras palavras”, dizia o jornal Folha de São Paulo nesse dia, “a cada cinco minutos, oito brasileiros morrem por causa do coronavírus”. O registo de quarta-feira representa um aumento de 20% em relação ao pico anterior, as 1954 mortes da véspera.
Se as variações diárias são normais, e é mais prudente ir vendo o evoluir da situação pela média móvel a sete dias, a tendência de crescimento, tanto de mortes, como de infecções, é notória, com uma linha a subir a pique a partir de meados de Fevereiro, quando se registavam cerca de 1000 mortes diárias.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) disse que a situação no Brasil é “surpreendente e preocupante”. O director-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, falava numa conferência de imprensa quando foi questionado por um jornalista brasileiro sobre a situação no país. “É muito surpreendente, e muito preocupante, não só porque está a aumentar o número de casos, como o de óbitos”, comentou.
Um dos problemas – além da gestão política da pandemia, com um Presidente que tem desvalorizado a doença e promovido remédios sem provas dadas contra a covid-19 – é agora uma das variantes do vírus SARS-CoV-2, de transmissão mais fácil, e que poderá também reinfectar mais facilmente pessoas que já tenham estado doentes.
A nova variante detectada no Amazonas já era responsável, no final de Janeiro, por 91% das amostras testadas no estado. No final de Fevereiro, havia relatos de presença desta variante em 21 dos 26 estados do Brasil.
Mas os cientistas brasileiros não têm meios suficientes para fazer um bom retrato da situação e do papel das variantes. Anderson Brito, virologista na Universidade de Yale, disse ao New York Times que o seu laboratório faz sensivelmente metade do número de sequenciações genéticas feitas em todo o Brasil.
O médico Miguel Nicolelis avisou, por seu lado, em declarações à agência Lusa, que o Brasil é “um celeiro” de novas estirpes do vírus que provoca a covid-19, e poderá produzir um novo vírus se a doença não for controlada, um ‘SARS-CoV-3’.
“O perigo”, explicou Nicolelis, “é que estamos a dar hipótese para o coronavírus se replicar e [infectar] entre 70 mil e 80 mil pessoas por dia, e isto gera um número incrível de mutações no vírus”, declarou. O perigo é de novas variantes e “no limite, a mistura do material genético de diferentes variantes pode gerar um novo vírus, um SARS-Cov-3.”