Professores e auxiliares do pré-escolar e 1.º ciclo vacinados a partir do final de Março
Levantamento dos profissionais das escolas, das creches e de institutições de solidariedade a vacinar contra a covid-19 está em curso. Só os professores e funcionários das escolas do sector público e privado são mais de 200 mil.
É mais um grupo a juntar à já longa lista dos grupos prioritários a vacinar contra a covid-19. Os professores e os funcionários das escolas e os profissionais de respostas sociais (como creches e centros de dia) foram incluídos na primeira e segunda fases da campanha de vacinação em curso, ao lado das forças de segurança, dos militares e dos bombeiros. E as pessoas com trissomia 21 passaram para a primeira fase, como já tinha sido anunciado.
As novidades foram reveladas pela Direcção-Geral da Saúde (DGS) no comunicado em que deu conta da actualização da norma sobre a vacina da AstraZeneca – que passa a ser recomendada sem limite de idade, portanto também acima dos 65 anos. “No âmbito da resiliência do Estado, serão também vacinados o pessoal docente e não docente dos estabelecimentos de ensino e educação e das respostas sociais de apoio à infância dos sectores público, privado e social e cooperativo, de acordo com o plano logístico que será implementado”, enumerou a DGS. A norma dos grupos prioritários foi igualmente actualizada para passar a incluir este novo grupo.
A vacinação “de professores e auxiliares dos ensinos pré-escolar e primeiro ciclo público e privado” deverá decorrer entre finais de Março e início de Abril “, adiantou mais tarde o Ministério da Saúde. Este novo grupo, explicou, enquadra-se “no aumento da resiliência do Estado” para o qual está reservada na fase 1 do plano “10%” do total das doses a administrar – os outros 90% são para “salvar vidas” (além dos profissionais de saúde, as pessoas a partir dos 80 anos e os doentes de maior risco entre os 50 e os 79 anos).
O PÚBLICO sabe que, antes disso, irá ser feito um teste com professores e auxiliares e que este novo grupo será vacinado com doses da vacina da AstraZeneca, uma vez que as doses das vacinas da Pfizer e da Moderna estão reservadas sobretudo para as pessoas a partir dos 80 que estão a ser inoculadas com grande rapidez para se poder cumprir a meta recomendada pela Comissão Europeia – ter pelo menos 80% dos mais idosos inoculados com a primeira dose até ao final deste mês.
Por enquanto, Portugal ainda se debate com o problema de escassez de vacinas, mas nos últimos dias de Março vão chegar cerca de 600 mil doses, remessa que permitirá começar a vacinar este novo grupo sem atrasar a vacinação dos idosos e doentes de maior risco. Seja como for, a vacinação dos professores, funcionários e profissionais de respostas sociais vai prolongar-se pela segunda fase do plano, fase esta que inclui grupos muito numerosos, como o dos diabéticos, dos hipertensos e dos obesos, além de todas as pessoas a partir dos 65 anos.
As escolas estão a enviar as listas dos professores e funcionários e, no capítulo das respostas sociais, só esta semana começou a ser feito o levantamento dos profissionais a vacinar. Na segunda-feira, o Instituto da Segurança Social (ISS) “enviou um e-mail para todas as instituições do sector solidário e lucrativo que desenvolvem as respostas sociais Serviço de Apoio Domiciliário, Centro de Actividades Ocupacionais, Ama e Creche, a solicitar o envio de listas dos profissionais”. O ISS explica que esta informação vai ser depois remetida à task force “para efeitos de planeamento dos possíveis grupos a serem considerados para a vacinação”.
Vacinação vai sofrer atrasos com esta inclusão?
Quantos são, afinal, os novos profissionais a vacinar? Segundo os dados mais recentes do Conselho Nacional de Educação (2019), há 146.992 professores e 70.310 não docentes nos sectores público e privado. A estes terão que ser somados os profissionais das respostas sociais. É um grupo muito numeroso, portanto, que se junta agora ao das forças de segurança, militares e bombeiros. E que vão ter que ser vacinados em simultâneo com os mais idosos e os doentes de maior risco associado a covid-19 entre os 50 e os 79 anos, ainda que a sua imunização se vá estender à segunda fase do plano.
Esta inclusão não vai atrasar a vacinação dos grupos mais vulneráveis? O coordenador da comissão técnica de vacinação da Direcção-Geral da Saúde, Valter Fonseca, acredita que não. “O planeamento vai ser feito de acordo com a disponibilidade das vacinas e prevê-se um aumento da chegada das doses em breve, pelos que estes ajustes não comprometem as metas definidas”, assegurou ao PÚBLICO, acrescentando que o plano logístico para a operacionalização desta medida é da competência da task force.
Não foi a comissão técnica de vacinação contra a covid-19 da DGS que sugeriu a inclusão dos professores. Os especialistas levam em conta para as suas recomendações a idade, as patologias e a exposição ao risco, se há ou não risco agravado de doença grave ou morte, explica Manuel Carmo Gomes, que integra esta comissão e que teme que a inclusão deste novo grupo implique um atraso da vacinação dos mais vulneráveis, a não ser que haja um grande aumento de vacinas em breve. “Então aí o problema já não se põe”, admite.
Na norma agora actualizada, foram também incluídos os estudantes do último ano dos cursos de medicina e enfermagem. Também passou a ficar expressamente definido que a selecção das pessoas a vacinar nos grupos dos 50 ou mais anos com doenças de maior risco e a partir dos 80 anos deve respeitar “o critério de precedência por faixa etária” e, “quando clinicamente fundamentado, a gravidade clínica das comorbilidades definidas”.
O coordenador da task force, o vice-almirante Henrique Gouveia e Melo, mostrou-se convicto de que, não havendo nova falha na entrega prevista de vacinas, será possível “cumprir os objectivos”. À margem de uma cerimónia de entrega de viaturas para a vacinação móvel por parte da Fundação Calouste Gulbenkian, disse que “haverá vacinas suficientes para fazer um ataque em paralelo a todas as necessidades e não um ataque alternado.” Até porque, recordou, se até ao final de Março vão chegar “2,3 ou 2,4 milhões de vacinas”, no segundo trimestre deveremos ter “nove milhões”.
Para o secretário de Estado da Saúde, Diogo Serra Lopes, esta é a altura para se começar “a pensar nas consequências e questões para lá dos riscos específicos de comorbilidades”, já que a primeira fase definida no plano deverá estar concluída “muito pouco depois do final do primeiro trimestre”. O governante saudou a inclusão do pessoal das escolas entre as prioridades, assumindo que esta decisão não pode ser dissociada do plano de desconfinamento que deve ser conhecido esta quinta-feira. com Patrícia Carvalho