Netanyahu adia uma vez mais a visita aos Emirados Árabes Unidos

Estava planeada para esta quinta-feira, mas um impasse com a Jordânia fez com que Israel adiasse a viagem pela quarta vez consecutiva. A duas semanas de novas eleições, a visita de Netanyahu é vista como parte da sua campanha.

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O primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, adiou esta quinta-feira a sua viagem aos Emirados Árabes Unidos. POOL/Reuters

A viagem do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, aos Emirados Árabes Unidos (EAU), que estava para acontecer esta quinta-feira, foi novamente adiada, desta vez devido a um desentendimento com a Jordânia em torno do seu espaço aéreo.

Ainda não é desta que Netanyahu levará a cabo o seu plano de visitar os EAU - uma visita que já fora planeada por três outras vezes, desde os acordos de normalização diplomática assinados entre eles em Setembro do ano passado, todas canceladas devido às restrições provocadas pela pandemia e a impasses políticos.

Nenhum dos dois países tinha confirmado formalmente a visita, que só fora anunciada na quarta-feira. Netanyahu planeava encontrar-se com Mohammed bin Zayed Al Nahyan, o príncipe herdeiro de Abu Dhabi, apenas por duas horas, numa visita sem precedentes no historial dos primeiros-ministros israelitas.

Mas dificuldades que surgiram com a Jordânia, provocadas pelo “cancelamento da visita do príncipe herdeiro da Jordânia ao Monte do Templo [na quarta-feira], na sequência de uma disputa sobre os acordos de segurança no local”, segundo um comunicado do primeiro-ministro, levaram a um novo adiamento da visita.

Na quarta-feira, o príncipe da Jordânia levara mais seguranças consigo do que o número previamente acordado com Israel. Reagindo à decisão israelita, que proibiu a entrada dos seus seguranças, o príncipe não chegou a realizar a visita à mesquita de Al-Aqsa.

Como explicou o ministro dos Negócios Estrangeiros da Jordânia, Ayman al-Safadi, citado pelo jornal israelita The Jerusalem Post, “Israel queria impor coisas novas e mudar os planos à última da hora”.

Como consequência deste desentendimento, o Governo da Jordânia bloqueou a passagem de Israel pelo seu espaço aéreo. E ainda que, horas mais tarde, nesta quinta-feira, tenha chegado a comunicar a Israel que autorizava a sua passagem, Netanyahu já tinha avançado com a decisão, em conjunto com Mohammed bin Zayed Al Nahyan, de adiar a viagem.

Além do conflito com a Jordânia, também o estado de saúde da mulher do primeiro-ministro israelita motivou a sua decisão, uma vez que esta se encontra hospitalizada, desde quarta-feira à noite, diagnosticada com apendicite.

Consolidar as relações diplomáticas

Esta já é a quarta viagem de Netanyahu aos EAU a ser adiada desde Setembro do ano passado, sendo que a anterior estava para acontecer em Fevereiro. Nessa altura, o primeiro-ministro afirmou que a viagem era “segura” e que tinha “importância nacional e internacional”, segundo o The Jerusalem Post.

A urgência que Netanyahu vê nesta visita tem por base as relações diplomáticas recentemente estabelecidas entre Israel e os EAU, numa tentativa de as cimentar.

Foi ainda sob a Administração Trump que se procedeu à assinatura dos acordos de normalização de relações diplomáticas entre o Governo de Israel e dois estados árabes do Golfo – os Emirados Árabes Unidos e o Bahrein. Até então, o Egipto e a Jordânia eram os únicos estados árabes com acordos de paz assinados com Israel, em 1979 e 1994, respectivamente.

O acordo diplomático entre os países ficou mais consolidado com a recepção dos respectivos embaixadores – em Janeiro do embaixador israelita e mais recentemente, no dia 1 de Março, do embaixador dos EAU em Israel.

O Presidente de Israel, Reuven Rivlin, durante a inédita recepção, glorificou o dia da troca de embaixadores, onde “a bandeira dos Emirados voa ao lado da bandeira israelita sobre a residência do Presidente em Jerusalém”, segundo o The Times of Israel.

Eleições na mira

A duas semanas de enfrentar eleições pela quarta vez em dois anos, Netanyahu vê também na viagem aos EAU uma oportunidade de melhorar a sua imagem, como é referido por analistas, a fim de catapultar a sua reeleição. É também por esta razão que o primeiro-ministro faz tanta questão de acelerar a visita – sendo-lhe assim conveniente que esta seja realizada ainda antes de o país ir às urnas.

Foi no início de Março que o primeiro-ministro israelita telefonou ao príncipe herdeiro de Abu Dhabi a voltar a propor uma visita. A proposta foi recebida com hesitação pelos EAU, pelo exacto motivo de ser vista como uma possível interferência sobre as eleições a 23 de Março.

Como adianta o site de notícias Axios, segundo fontes próximas do Governo israelita, Netanyahu enviou depois o director da agência secreta israelita Mossad, Yossi Cohen, aos EAU  ue preferiam adiar a visita para depois das eleições – para pressionar o Governo a anuir, o que acabou por acontecer.

Ao mesmo tempo que segue uma das campanhas de vacinação mais bem-sucedidas do mundo, Israel também batalha pela sua economia e bem-estar da população, numa altura em que os níveis de desemprego estão a disparar e os pequenos negócios lutam pela sobrevivência.

Uma recente sondagem divulgada na quarta-feira, segundo o The Times of Israel, mostra que o Likud de Netanyahu se encontra na frente com uma previsão de 28 lugares no Parlamento, mas nem o grupo de partidos pró-Netanyahu nem o grupo contra o primeiro-ministro somam os 61 deputados necessários para uma maioria.

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