“Devíamos reflectir sobre a guerra colonial”, diz Ramalho Eanes
Em entrevista à TVI24, o antigo Presidente da República defendeu que não há guerras limpas e propôs ainda uma discussão conjunta sobre o passado colonial. Mandato da Presidência da República deveria ser de sete anos, sustentou Ramalho Eanes.
O antigo Presidente da República Ramalho Eanes defendeu esta segunda-feira que não há guerras limpas, em entrevista à TVI24, quando questionado por Miguel Sousa Tavares a propósito do passado colonial português. “Qual foi a guerra que não teve danos colaterais nem crimes de guerra? Qual foi a guerra limpa?”, questionou Ramalho Eanes.
“Na nossa guerra, obviamente, que houve exageros”, admitiu Ramalho Eanes na mesma entrevista ainda a respeito da guerra colonial, acrescentando que “os que fizeram a guerra, compreendem a guerra”.
“Devíamos reflectir sobre as questões profundas e fundamentais, nomeadamente da guerra colonial, e devíamos fazê-lo com os países de língua oficial portuguesa” numa situação de paz, propôs ainda, ao mesmo tempo que excluiu que a discussão se fizesse no momento presente de pandemia.
Numa entrevista em que defendeu um mandato de sete anos para a Presidência da República, Ramalho Eanes mostrou-se agradado pela reeleição de Marcelo Rebelo de Sousa para um segundo mandato presidencial.
O antigo Chefe de Estado (entre 1976 e 1986) tomou uma posição recente quanto à remoção dos brasões da Praça do Império com alusão às ilhas e às ex-colónias portuguesas, em Belém. Ramalho Eanes disse que a discussão se trata, na verdade, de um “o desrespeito desta esquerda festiva em relação ao passado do país e que é uma atitude indesejável”.
Em declarações ao semanário “Nascer do Sol”, Eanes defende que o património do país deve ser respeitado. “Sem império dificilmente teríamos mantido a independência em certas épocas. Seríamos uma Catalunha ‘menos’. O império fez com que conseguíssemos manter-nos soberanos nos momentos mais difíceis”, nota.
A discussão em torno dos brasões da Praça do Império surgiu no seguimento de uma petição contra a remoção daqueles símbolos. Fernando Medina, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, já reagiu e classificou a questão de “absurda” até porque os arranjos florais em questão já não existem há décadas.
Pelo contrário, Ramalho Eanes sustenta que “acabar com a memória do passado não é correcto, é desnecessário e é indesejável”.