Covid-19 e a urgência da vacinação
Se a gestão errática desta pandemia tem tido fortes repercussões na economia portuguesa, é preciso perceber que é crucial que se acelere o processo de vacinação da população activa, permitindo que as pessoas regressem em segurança à actividade presencial laboral e lectiva.
Na sequência da trágica 3.ª vaga de covid-19 que atingiu o nosso país – elevando já para mais de 16 mil e quinhentas mortes por covid-19 desde o início da pandemia – e quando já se prepara o desconfinamento, o maior receio prende-se, justamente, com a ainda muito elevada percentagem da população portuguesa não vacinada.
Por exemplo, acautelando o aumento do contágio pela reabertura das escolas, em diversos países europeus – como em Espanha, Reino Unido ou Alemanha – este último que encerrou as escolas a 16 de Dezembro e só agora reabre em Março – a vacinação massiva de professores e educadores de infância foi identificada como condição de segurança para a reabertura das escolas, em especial considerando os receios de uma nova vaga de covid-19 nestes países causada pela propagação da denominada “variante do Reino Unido”.
Depois, e dado que os países europeus que melhor souberam gerir esta pandemia optaram por um rigoroso controlo de fronteiras, cabe reforçar e fiscalizar esse controlo. Por exemplo, no Brasil a média de óbitos diários está agora acima dos 1200, com tendência crescente, pelo que não se espera grande redução nos próximos meses. Acresce que a variante brasileira está causar um elevado números de reinfecções e, como referia há dias um artigo no The Guardian, o aumento galopante de covid-19 no Brasil tornou-se uma ameaça global, uma vez que pode gerar novas e ainda mais letais variantes. E o mundo deve estar alertado para os riscos que esta situação representa na luta contra a pandemia, pois de pouco adiantará resolver a pandemia na Europa ou nos EUA, se o Brasil continua a ser um terreno fértil para a transmissão do vírus. Com os hospitais à beira do colapso e o número médio de mortes semanais a atingir sucessivos recordes, a actual crise do Brasil representa um risco internacional, uma vez que apenas 3,3% da população do Brasil foi vacinada, em comparação com 15,2% nos EUA, 18% no Chile e 29,9% no Reino Unido. E se Portugal mantém forte proximidade ao Brasil, este alerta ganha especial importância para a gestão desta pandemia em Portugal, uma vez que pode possibilitar a entrada de novas variantes ainda mais transmissíveis e letais. Acresce que estas novas variantes têm levado a uma alteração no que respeita à gravidade da doença junto dos mais jovens, fazendo aumentar os internamentos da população em idade activa e mais jovem, inclusive nos cuidados intensivos.
Nos EUA – o país com maior número de mortes devido à covid-19 e também com mais casos de infecção – o Presidente Joe Biden anunciou há dias o seu propósito de vacinar toda população norte-americana até final de Maio. Esta meta representa uma antecipação em dois meses do prazo anteriormente previsto para a vacinação de todos os adultos norte-americanos. Segundo Biden, a vacinação dará prioridade aos professores e aos trabalhadores não docentes das escolas, para que possam receber pelo menos uma dose até ao final de Março.
Como é sabido, na Europa, muitos países limitaram a livre circulação – ou fechando as suas fronteiras, ou sujeitando as pessoas que entrem à realização de testes ou, ainda, impondo quarentenas – e sempre desencorajando as viagens “não essenciais”. No passado dia 1 de Março, a Comissão Europeia, receando que o retorno à normalidade não se verifique nos próximos meses veio anunciar uma proposta legislativa com o intento de criar um passaporte digital comum a todos os Estados-membros, sendo que o objectivo será permitir que gradualmente as pessoas se desloquem em segurança na União Europeia, em trabalho ou turismo. E se a gestão errática desta pandemia tem tido fortes repercussões na economia portuguesa, é preciso perceber que – para se atingir a imunidade de grupo, e assim responder à forte crise socioeconómica provocada pela pandemia – é crucial que em Portugal se acelere o processo de vacinação da população activa, permitindo que as pessoas regressem em segurança à actividade presencial laboral e lectiva.