Irão liberta britânica após cinco anos de pena mas prepara nova acusação

Um ex-chefe do Foreign Office diz que pela primeira vez está em cima da mesa o pagamento de uma dívida histórica de Londres a Teerão.

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O marido de Nazanin Zaghari-Ratcliffe, Richard, e a filha, Gabriella, protestam junto da embaixada iraniana em Londres pela sua libertação FACUNDO ARRIZABALAGA/EPA

A britânica de origem iraniana Nazanin Zaghari-Ratcliffe está a ter um momento de liberdade com o anúncio de que lhe foi retirado o dispositivo no tornozelo que controlava os seus movimentos depois de ter cumprido cinco anos de pena de prisão – o último em prisão domiciliária por causa da pandemia da covid-19.

Mas as autoridades iranianas anunciaram logo que ela teria de estar de novo presente em tribunal a 14 de Março para responder por novas acusações.

Zaghari-Ratcliffe, que trabalha para a Fundação Thomson Reuters, um ramo da agência dedicado a questões humanitárias, foi detida no aeroporto de Teerão em Abril de 2016 quando regressava do país, onde tinha ido com a filha de 22 meses, para que os seus pais a conhecessem.

Mas o regime acusou-a de estar a levar a cabo acções de formação com jornalismo, e uma afirmação do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, de que ela “só estava a fazer o seu trabalho de jornalista” só deu força às acusações iranianas – Johnson depois disse ter errado e que ela só estava no país de férias.

Desta vez, explicou o advogado de Ratcliffe, Hojjat Kermani, as acusações são de “propaganda contra o sistema da República Islâmica por ter participado numa manifestação em frente à embaixada iraniana em Londres em 2009 e ter dado uma entrevista à BBC persa nessa altura”, disse a um site iraniano, citado pela Reuters. Kermani tem, no entanto, esperança de que “este caso seja encerrado, tendo em conta a investigação anterior”.

Antonio Zappulla, CEO da Fundação Thomson Reuters, disse que a organização estava muito satisfeita por “a pena de prisão ter terminado” e que Nazanin Zaghari-Ratcliffe lhe tinha dito que estava “felicíssima” por poder sentar-se num café. Agora, “tem de ter a sua liberdade, como prometido”, declarou.

Boris Johnson disse que “tem de ser libertada de modo permanente para que possa voltar para a sua família no Reino Unido”. “Vamos continuar a fazer todos os possíveis para chegar a este fim”, disse.

Em declarações à emissora BBC um ex-responsável do Foreign Office que saiu do cargo no Verão, Lord McDonald, disse que pela primeira vez Londres está a tentar pagar uma dívida ao Irão de uma venda de armas em meados dos anos 1970. “Reconhecemos que é dinheiro iraniano e que tem de regressar ao Irão. Uma complicação central é que o Irão está sujeito a sanções muito completas e por isso o modo como o dinheiro vai ser pago é parte da história.”

McDonald declarou que acha que é possível que a cidadã regresse ao Reino Unido, onde estão o marido e a filha, dentro de não muito tempo.

É geralmente aceite que Zaghari-Ratcliffe e outros britânicos de origem iraniana em prisões iranianas estarão ali até o Reino Unido pagar a dívida que diz respeito a uma venda de armas ao Xá do Irão em meados dos anos 1970.

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