Rua das Pretas no Coliseu vai estrear-se como série televisiva

Num Coliseu de Lisboa vazio, o projecto musical animado por Pierre Aderne está a gravar episódios com convidados para uma série a transmitir semanalmente na RTP1. Estreia-se na próxima segunda-feira, dia 15 de Março, às 23h45.

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Rua das Pretas no Coliseu, num momento das gravações NICOLE SANCHEZ

A associação do projecto Rua das Pretas com o Coliseu dos Recreios de Lisboa, iniciada com um concerto em Junho de 2020, atinge agora novo patamar: vazia pelo confinamento ditado pela pandemia, a mítica sala da Rua das Portas de Santo Antão está a servir de palco e cenário a uma série de doze episódios que se estreará na RTP1, no dia 15, às 23h45. O cantor e compositor brasileiro Pierre Aderne, criador do projecto e seu animador desde que se instalou em Lisboa há anos, explica ao PÚBLICO que a ideia é manter a estrutura da Rua das Pretas, como tertúlia musical, mas com convidados especiais:

“A gente gravou os seis primeiros episódios no Coliseu, há quinze dias, dois por dia para optimizar a produção e para minimizar custos. E os outros seis vamos filmá-los ainda este mês.” Precisamente no mês em que a série se estreia: “Para ter o simbolismo do Coliseu, sem público, com as salas ainda fechadas.”

“A ideia é manter aquela mesma estrutura, a da Rua das Pretas, com aquela sociologia de botequim, com Lisboa capital da música de língua portuguesa, contando histórias pelo meio das canções e recebendo convidados com maior projecção em Portugal.” Foi essa lógica que presidiu à escolha dos primeiros seis: “O Paulo de Carvalho e o Tito Paris são os dois primeiros”, diz Pierre. “Depois vêm a Maria João, a Rita Redshoes, o Pedro Moutinho e o Tiago Nacarato.” Com Paulo de Carvalho foi, para Pierre, um primeiro encontro: “E foi fantástico, incrível. Começou por perguntar: ‘A gente vai começar por um samba ou por uma bossa?’ Aí o Fred Martins começou a tocar o Desafinado e ele a cantar, com sotaque brasileiro… Depois seguiram-se os Meninos do Huambo, Lisboa menina e moça…”

“É como jogar num Maracanã vazio”

Nos vários episódios há um grupo de músicos que se mantém em permanência: além de Pierre, esse grupo integra Fred Martins, Walter Areia, Nilson Dourado, Augusto Britto, Rui Poço, Joana Amendoeira e Karla da Silva. “O que foi muito interessante foi pegar essa turma toda, fragilizada, e ter a oportunidade de jogar num Maracanã vazio. Porque no palco do Coliseu de Lisboa pisou todo o mundo que a gente ama, desde João Gilberto, Caetano, Amália. No repertório buscámos um pouco dessas referências, recriámos com Paulo de Carvalho Uma casa portuguesa [que Amália cantou e João Gilberto também, precisamente no Coliseu, em 1984] e, além da Joana Amendoeira, tivemos participações de algumas fadistas da nova geração, como a Matilde Cid, a Diana Vilarinho e a Sara Paixão.”

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NICOLE SANCHEZ

Para Maria João criaram até uma canção nova, inspirada numa história que se passou com ela: “Eu fiz essa canção para a Maria João, com Francis Hime, chamada Pé-de-meia, a partir de uma conversa com o Carlos do Carmo teve com ela no Coliseu: ‘Então, já fizeste o teu pé-de-meia?’ E ela postou isso no Facebook: ‘Senhor Carlos do Carlos, nós no jazz não temos condições de fazer pé-de-meia.’ Achei tão curioso aquilo, que escrevi uma letra e o Francis Hime musicou. Também temos umas parcerias com o Gabriel Moura, com o Pedro Luís, enfim, criámos ali algumas dinâmicas e divertimo-nos durante alguns dias.”

Réplica dos formatos anteriores, este agrada especialmente a Pierre Aderne: “É um formato com que sempre sonhei: ocupar esses teatros gigantes com a nossa brincadeira íntima. A ideia é filmar depois a segunda temporada já com os teatros abertos, para que gente possa ter uma visão de como era sem gente e como será já com a participação das pessoas.”

Novo disco colectivo em 2021

A organização da série envolveu, além do Coliseu e da RTP, também outras parcerias, acrescenta Pierre: “A gente fez uma parceria com a BRO filmes, do Mário Patrocínio, e eu sou co-realizador da série junto com o André Caniços, que é um jovem realizador da BRO que tem feito videoclipes para essa turma mais pop portuguesa, a Carolina Deslandes, o Carlão e outros. E o Carlos Fuchs, carioca a viver no Porto, que produziu os discos do Pedro Miranda e do Pedro Luís, faz toda a parte de áudio e mistura.”

E esse trabalho, num projecto que lançou o primeiro disco colectivo em 2018 e o segundo em Janeiro passado, abriu possibilidade para o lançamento de um terceiro disco da Rua das Pretas, a partir dos actuais registos: “O som ficou tão bom que resolvemos lançar um álbum Rua das Pretas Coliseu, com 12 faixas. No dia seguinte a cada episódio vamos lançar um single, durante as 12 semanas que durar a transmissão televisiva. E criámos um crowdfunding independente para que as pessoas possam contribuir para esse projecto no site da Rua das Pretas.”

NOTA: Quando este artigo foi originalmente publicado, ainda não estava definida a data de estreia da série. Mas foi agora anunciada oficialmente pela RTP, pelo que foi também acrescentada no artigo, actualizando-o.

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