Melhorar a presença online e saber fazer perguntas: as dicas de Ricardo Lima para arranjar emprego
O Festival P, que celebra os 31 anos do PÚBLICO, juntou quatro colunistas do P3 e Ricardo Lima, head of startups da Web Summit. Eles quiseram saber que passos devem dar aqueles que não se cansam de perguntar: “Arranjas-me um emprego?”
Ricardo Lima, head of startups da Web Summit, não arranjou empregos, mas deu dicas úteis para quem está à procura de um. Beatriz Meneses Moutinho, Francisco Lampreia, Inês Santos Silva e João Marecos, colunistas da secção Megafone do P3, quiseram saber o que devem fazer os recém-licenciados depois de acabar a faculdade, que competências ter além de um curso ou quais os desafios e oportunidades que a pandemia trouxe. Aqui ficam os conselhos que resultaram da conversa Arranjas-me um emprego?, que se realizou na tarde deste sábado, 6 de Março, inserida no programa do Festival P que se prolonga até este domingo.
O que fizeste antes da universidade importa
Antes de pensar nos primeiros passos a dar no mercado de trabalho, é importante ir preparando o futuro durante a faculdade. Numa altura em que o curso “é quase garantido”, conseguir destacar-se no mercado de trabalho passa por “fazer o máximo possível durante o curso”, diz Ricardo Lima. Seja em actividades de voluntariado, estágios internacionais ou no país ou, simplesmente, viajar e conhecer novas realidades.
É também assim que se desenvolvem competências essenciais como a da “escuta activa": saber ouvir e saber perguntar. E, claro, saber comunicar. Ter curiosidade e capacidade de adaptação são também factores cruciais: “Não é preciso saber tudo, mas é importante ter vontade de aprender.”
E aprender também significa investir em competências pessoais (e, tantas vezes, subvalorizadas), como saber trabalhar com diferentes programas. “Há quem diga que o Excel domina o mundo”, brinca Ricardo. Esta ferramenta — e outras que apoiam na gestão de empresas — pode ser uma mais-valia determinante.
Acabei o curso. E agora?
A presença online é uma das principais ferramentas a serem trabalhadas. Interessa, por isso, melhorar o perfil de Linkedin, sem esquecer valências: o que já fizeste? O que desempenhaste nessa posição? Quais os teus pontos fortes? Depois disso, pede feedback a amigos. Pode estar a escapar-te alguma coisa.
Se te vais candidatar a uma determinada empresa, “não há mal em fazer questões a quem trabalha nessa empresa” e está na posição à qual te vais candidatar, aconselha Ricardo. É útil saber mais sobre o que estás à procura — e também sobre o que podes esperar: “O que aconteceu à pessoa que estava na posição à qual nos estamos a candidatar? Foi promovida? Há possibilidade de crescimento na empresa?”
O que fazer numa entrevista de emprego?
Também na entrevista é importante questionar. Fazer perguntas sobre o cargo, a empresa ou expectativas demonstra interesse e ajuda-te a perceber se é mesmo aquele o trabalho que queres. “A empresa também se está a vender”, relembra Ricardo Lima. E fazer perguntas é uma “postura que distingue candidatos”.
Sim, também podes falar de dinheiro. Apesar de o medo de falar sobre a remuneração ser “uma questão cultural”, não é preciso ter medo de negociar. Afinal, estás à procura de trabalho, mas a empresa também está à procura de talento. Dica: se não sabes o que responder quando te perguntam quanto esperas receber, lança primeiro a pergunta — um conselho sugerido, e aprovado, por João Marecos. E talvez ajude consultar a lista colaborativa de transparência salarial da comunidade Portuguese Women in Tech, fundada por Inês Santos Silva.
E não tenhas receio de mostrar o que vales. A entrevista é o momento para falares dos teus pontos fortes. “Que tipo de problemas já resolveste em experiências anteriores? Que aprendizagens fizeste?”
Antes, é relevante fazer uma boa preparação. Investir tempo a saber mais sobre a empresa e o cargo. Escrever uma boa carta de motivação (não vale usar a mesma em todas as candidaturas — quem está a recrutar nota à distância o copy paste, assegura Ricardo).
Se a tua candidatura não for aceite, não desesperes. “Ser rejeitado não é o fim do mundo.” Trabalha os erros e volta a tentar.
Pandemia e trabalho remoto: que oportunidades e desafios?
O teletrabalho veio mostrar que podemos estar em Portugal e trabalhar no Japão. E isso muda também o próprio recrutamento: “Passamos a ter acesso a talento global.” Quem procura emprego, também já não presta tanta atenção aos limites geográficos. Mas, se por um lado isso abre um novo leque de escolhas, também aumenta a competitividade.
Por isso, há que investir no CV e trabalhar, mais do que nunca, a rede de contactos — eles podem trazer grandes oportunidades. Antes da pandemia, frequentar eventos relacionados com a área de interesse eram uma óptima forma de conhecer pessoas que já estão nessa mesma área. Mas, ainda agora, há muito a acontecer virtualmente. Ricardo dá alguns exemplos: “No Twitch, eventos como o Festival P ou a Web Summit online”.
Outra ideia pode passar por escrever de forma voluntária para algum site: seja um jornal, um blogue ou o Linkedin. Quando partilhamos algo na Internet, isso pode chegar a qualquer parte do mundo.
Os cinco conselhos de ouro do Ricardo
As dicas já mencionadas vão ajudar-te a fortalecer o teu CV, a perceber as competências que tens e o como podes fazer um brilharete numa entrevista. Mas, se tivesse que escolher cinco conselhos de ouro, estes eram os que Ricardo Lima dava a qualquer pessoa que estivesse à procura de emprego:
- Não ter medo de falar com pessoas que trabalham na empresa para onde queres ir;
- Trabalhar a presença online;
- Enviar, depois da entrevista, um email ao entrevistador. Mencionar o que retiraste da entrevista e demonstrar interesse em prosseguir com a candidatura;
- Não ter medo de fazer uma candidatura a uma posição, mesmo não cumprindo todos os requisitos (convém cumprir a maior parte, vá);
- Pedir a amigos para fazerem uma simulação de uma entrevista de emprego. Vai ajudar-te a manter a calma quando estiveres na entrevista real.