Agricultores protestam há 100 dias na Índia pela reversão das leis agrárias

Desde Novembro que os agricultores estão acampados nos arredores de Nova Deli, exigindo a retirada da legislação. Para sábado está prevista uma barricada numa das auto-estradas mais movimentadas da região.

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Os agricultores indianos protestam nos arredores de Deli desde Novembro. RAMINDER PAL SINGH/EPA

Os protestos dos agricultores na Índia vão atingir a marca dos 100 dias no sábado. Para assinalar esta data, os agricultores planeiam montar uma barricada numa das maiores auto-estradas perto de Nova Deli, durante um período de 5 horas.

Desde Novembro que milhares de agricultores indianos se encontram acampados em três zonas nos arredores da capital, em protesto contra a reforma agrária introduzida em Setembro pelo Governo de Narendra Modi. Ao abrigo das três novas leis, que acabam o sistema de apoios estatais à venda de produtos agrícolas, os agricultores dizem que ficam à mercê das empresas privadas.

Os protestos ainda não têm dado frutos, uma vez que os agricultores exigem que as leis sejam revertidas e o Governo ainda não deu esse sinal. Porém, os 100 dias são um marco que está a alimentar a esperança de um restabelecimento do contacto com o executivo.

Segundo Darshan Pal,​ porta-voz da Frente Unida dos Agricultores, citado pela Reuters, “acreditamos que após estes 100 dias, o nosso movimento vá exercer uma pressão moral sobre o Governo para aceder às nossas exigências”.

O plano dos agricultores para sábado é impedir o tráfego numa das auto-estradas mais movimentadas do país, a Leste de Nova Deli, das 11h até às 16h, para apelar à atenção do Governo.

Os agricultores, espalhados pelos acampamentos em Singhu, Tikri and Ghazipur, têm-se manifestado há mais de três meses sob duras condições meteorológicas que “vão ainda piorar”. Ainda que as altas temperaturas, que podem atingir os 45 graus, não lhes facilitem os protestos, são também um dos motivos que lhes dá esperança por criarem um alerta que “enfraquece o Governo”, fazendo com que este tenha de “se sentar connosco novamente para falar”, como diz o porta-voz da Frente Unida dos Agricultores.

Perto de 250 pessoas morreram durante os protestos, sobretudo por questões de saúde ou suicídios, de acordo com os dados divulgados pela própria organização dos agricultores.

A luta das centenas de milhares de agricultores pela reversão das medidas agrárias embate na opinião do Governo, que considera que a reforma os beneficia e que é necessária para a evolução do sector.

Se por um lado “o país precisa de desenvolver a produtividade e o controlo da qualidade dos produtos” para poder apostar numa maior exportação, como afirma Rahul Bajoria, economista na multinacional Barclays Plc, sediada na Índia, ouvido pelo Times of India, alterar, por outro lado, a reforma agrária é um aspecto delicado para o país. Pelo menos metade das 1,3 mil milhões de pessoas que vivem na Índia ganha a vida no sector da agricultura, pelo que os agricultores vêem um risco demasiado grande em estarem dependentes das grandes empresas.

 “As companhias privadas não nos vão pagar a tempo”, receia um dos manifestantes na zona de Singhu, Balwinder Singh, também segundo o jornal indiano. Temem que as empresas abusem do poder, controlando os preços em prol do seu benefício próprio. 

Até agora, a oferta do Governo é adiar a implementação da reforma, mas os agricultores não estão abertos a aceitar esses termos.

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