Actores recordam vómitos, nervos e insónias nas filmagens de Judas and The Black Messiah
O filme conta a história do activista e revolucionário afro-americano Fred Hampton, líder do Partido dos Panteras Negras, que foi morto a tiro pela polícia em 4 de Dezembro de 1969, em Chicago, quando dormia com a namorada grávida, Deborah Johnson.
Os protagonistas de Judas and The Black Messiah, filme que venceu um Globo de Ouro em 28 de Fevereiro, recordaram o impacto físico e emocional sentido durante as filmagens devido ao peso da história verídica que inspirou a película.
“Quando chegámos à parte final das filmagens, na noite anterior eu tinha o estômago às voltas, o meu coração a bater muito rápido e uma sensação enorme de que algo terrível ia acontecer”, disse a actriz Dominique Fishback, que interpreta Deborah Johnson no filme, durante um evento da Cinemateca Americana, em Los Angeles.
O filme conta a história verdadeira do activista e revolucionário afro-americano Fred Hampton, líder do Partido dos Panteras Negras, que foi morto a tiro pela polícia em 4 de Dezembro de 1969, em Chicago, quando dormia com a namorada grávida, Deborah Johnson.
“Quando cheguei à réplica do apartamento, a energia era muito pesada”, afirmou Dominique Fishback, recordando a dificuldade de filmar a cena da invasão policial em que Hampton, o “messias negro”, foi morto. “Chegámos a dizer ao Shaka que se calhar devia contratar um psicólogo”, contou, referindo-se ao realizador e co-argumentista Shaka King.
Fred Hampton, que tinha apenas 21 anos quando foi assassinado, é interpretado neste filme por Daniel Kaluuya. O papel deu-lhe o Globo de Ouro de Melhor Actor Secundário nos prémios da Associação da Imprensa Estrangeira em Hollywood. “Foi muito difícil tomar decisões e ser tão afiado como queria, porque estava a sentir estas emoções pessoais”, disse Daniel Kaluuya. “Senti que foi o dia mais pesado, por causa de tudo o que estava a acontecer”.
A cena do assassínio foi filmada no dia em que se assinalaram 50 anos desde a morte de Fred Hampton, o que tornou o momento ainda mais carregado de simbolismo, pela importância que o movimento do Partido dos Panteras Negras teve para muitos afro-americanos.
“O LaKeith desfez-se naquele dia”, afirmou o realizador Shaka King, descrevendo a violenta reacção física que o actor LaKeith Stanfield (Get Out) teve ao interpretar William O'Neal, o informador que revelou ao FBI a localização de Fred Hampton.
“Dava para ouvir o coração dele a explodir nos nossos auscultadores, a bater de forma insanamente rápida”, revelou Shaka King. “Nunca tinha visto nada assim”, continuou o realizador, contando que o actor tinha passado a manhã a vomitar. “Esse dia não foi piada nenhuma”, reforçou Daniel Kaluuya.
Considerado potencial candidato ao Óscar de Melhor Filme na próxima edição dos prémios da Academia, que ainda não revelou a lista de nomeados, Judas and The Black Messiah está a ser bem recebido pela crítica e estreou ao mesmo tempo nas salas de cinema e no serviço de streaming HBO Max.
O filme foi produzido por Charles D. King e Ryan Coogler (Black Panther), e aborda os acontecimentos que levaram à morte de Hampton e vários outros líderes do Partido dos Panteras Negras, bem como a campanha de desinformação e dissidência concebida pelo FBI para conter o movimento.
“Estava entusiasmado por trazer à luz as ideias a que o chairman [líder] Fred aspirou”, disse Shaka King, explicando que quis fazer um filme holístico, entrecruzando várias narrativas sobre amor, política, sofrimento e traição, sobrepostas nos discursos revolucionários de Hampton.
Os criadores tiveram contacto com a então namorada de Fred Hampton, Deborah Johnson (interpretada por Dominique Fishback), com o filho do activista, Fred Hampton Jr., e com a viúva de William O'Neal, que viu o seu papel como infiltrado do FBI ser revelado em 1973.
Se Judas and the Black Messiah receber uma nomeação para Melhor Filme nos Óscares da Academia, será o primeiro título de um trio de afro-americanos (Shaka King, Ryan Coogler e Charles D. King) a consegui-lo.