A Greve Internacional Feminista está convocada para a próxima segunda-feira, 8 de Março, Dia Internacional da Mulher. A crise pandémica exige criatividade, mas, mesmo assim, o protesto terá expressão no espaço público. Haverá concentrações em seis cidades.
A Rede 8 de Março – que reúne colectivos, associações, organizações políticas, sindicatos e activistas a título individual e que organizou o protesto nos últimos dois anos – agendou concentrações de Norte a Sul do país e ilhas: Faro (mercado municipal, 11h30), Coimbra (Praça 8 de Maio, 17h), Lisboa (Praça D. Pedro IV, 18h), Ponta Delgada (Portas da Cidade, 18h), Braga (Avenida Central, 18h30) e Porto (Avenida dos Aliados, 19h). A assembleia nacional online está marcada para as 18h.
Desta vez, em vez de um manifesto, há uma longa lista de reivindicações agrupadas em blocos temáticos. Em traços largos, a acção faz-se contra a precariedade, a violência machista, a objectificação dos corpos, o racismo, a extrema-direita. E pelo direito à autodeterminação de género, à saúde, à habitação, à educação.
A organização desafiou as duas centrais sindicais a aderirem a esta paralisação, que, como de costume, assenta em quatro pilares: greve laboral, greve aos cuidados, greve ao consumo, greve estudantil. Ao que diz Aline Nunes, da organização, só o Sindicato dos Trabalhadores de Call Center e o Sindicato de Todos os Professores responderam à chamada. O Sindicato Nacional dos Técnicos Superiores de Saúde das Áreas de Diagnóstico e Terapêutica far-se-á representar na assembleia online. O Sindicato Independente dos Profissionais de Enfermagem diz-se solidário, embora a pandemia o leve a não convocar greve.
A nova plataforma Greve Feminista Internacional, que reúne colectivos e associações de feminismo interseccional, vai concentrar a sua acção online, mas não quis deixar de marcar presença no espaço público. Às 16h30, haverá uma emissão em directo no canal de YouTube Greve Feminista PT desde a Praça Luís de Camões, em Lisboa, e da Praça do Marquês de Pombal, no Porto.
“No dia 7, às 23h59, vamos lançar as nossas contas nas redes sociais (@grevefeminista.pt) e um site (grevefeminista.pt) e com isso começar a manifestação online da greve feminista de 2021”, diz Andreia Quartau, uma das porta-vozes. “Para dar liberdade total às pessoas para se manifestarem, convidados a partilhar uma foto com #grevefememinsita2021 e #8marco2021 e #senosparamosomundopara. “Para ajudar nessa criatividade, vamos lançar nas redes um kit manifestação com várias ideias, mas as pessoas vão ter liberdade total. Podem fazer um vídeo a cantar, a dançar, a pôr música...”
Na chamada há um lembrar das “diferentes jornadas de trabalho que a maioria das mulheres acumula”. “O objectivo fundamental da greve, em plena pandemia de covid-19, é colocar a vida no centro, “reclamando a valorização do trabalho de cuidados e doméstico – trabalho este desvalorizado aos olhos da sociedade, executado maioritariamente por mulheres (90%), mas imprescindível para a sobrevivência de todas e todos nós.”
As iniciativas multiplicam-se por estes dias um pouco por todo o lado. A UMAR – União de Mulheres Alternativa e Resposta, que integra a plataforma Greve Feminista Internacional, lançou a sua própria lista reivindicativa. Reclama, por exemplo, “direito a uma habitação digna”, “campanhas contra a mentalidade machista”, maior aplicação de medidas de “afastamento dos agressores de violência doméstica”, “fim dos despedimentos com base na discriminação de género”, “igualdade salarial e salários dignos”, “direitos iguais no acesso ao emprego para mulheres imigrantes, sem discriminação de cor ou classe social”, “direitos para as/os cuidadoras/es informais, nos serviços de apoio e domésticos”, “valorização do trabalho de reprodução social, com estímulo para a partilha de tarefas e para a criação de serviços públicos de apoio”.
Os sindicatos não se puseram de fora da data, apesar de não convocarem greve. Entre 8 e 12, a CGTP-IN promove a Semana da Igualdade. Ao que disse Fátima Messias, da Comissão Executiva, citada pela Agência Lusa, estão marcadas cerca de 900 iniciativas e ainda estão a ser organizadas umas quantas, pelo que o número total deverá chegar a um milhar. “Mesmo em fase de pandemia vamos ter iniciativas por todo o país, sobretudo na rua, para garantir o distanciamento social (...) e queremos que sejam os trabalhadores os protagonistas destas acções”, declarou.