Água
O dia em que odiei água!
Com um dos mestres do jornalismo, António Arnaldo Mesquita, hoje aposentado a tratar das suas vinhas, tive a infelicidade de testemunhar umas das piores tragédias em Portugal. No dia 4 de Março de 2001, pelas 21h15, ouvi na rádio que a ponte Hintze Ribeiro, em Entre-os-Rios, tinha colapsado. A caminho de Castelo de Paiva, numa silenciosa e angustiante viagem, soubemos que o rio engolira 59 pessoas. Um pesadelo, do qual julgo nunca ter despertado. Junto do que sobrava da ponte, no breu da noite, o Douro teimava em seguir o seu curso num silêncio aterrador. Ficámos a noite inteira acordados a olhar para aquele caudal que corria como se nada fosse. Sentíamo-nos como se procurássemos notícias de familiares. Partilhámos uma vontade hercúlea de esvaziar todo aquele rio. Com o amanhecer, a brutalidade da tragédia revelou-se: uma sensação de vazio e comoção pela ausência humana, transmitida por toda aquela amálgama fria de betão e metal incapaz de suportar pessoas.
Foi um dos mais desoladores dias da minha vida profissional.