Suu Kyi vista pela primeira vez desde o golpe militar na Birmânia
Líder deposta a 1 de Fevereiro pelos militares apresentou-se em tribunal e viu a sua acusação ser reforçada, ao mesmo tempo que as forças de segurança voltavam a reprimir os protestos nas ruas do país. Advogados dizem que aparenta estar bem de saúde.
Um tribunal da Birmânia apresentou, esta segunda-feira, mais duas acusações contra Aung San Suu Kyi, ao mesmo tempo que milhares de pessoas voltavam a desafiar as forças de segurança, nas ruas, com um protesto contra a repressão do fim-de-semana, que fez 18 mortos.
A líder do país, que foi deposta há um mês num golpe militar, surgiu em vídeo numa audição num tribunal da capital, Naypyidaw, e conversou com a sua equipa de defesa, disse à agência Reuters a advogada Min Min Soe.
A líder da Liga Nacional para a Democracia ainda não tinha sido vista em público desde o golpe contra o seu Governo, a 1 de Fevereiro.
“Eu vi ‘a mãe’ no vídeo e ela parece estar bem de saúde”, disse a advogada, referindo-se a Suu Kyi pelo termo carinhoso que é usado pelos seus apoiantes. Suu Kyi começou por ser acusada de importar ilegalmente seis rádios. Mas tarde, seria acusada de violar uma lei de confinamento e distanciamento social de combate à pandemia de covid-19.
Esta segunda-feira, foi acrescentada contra ela uma acusação de divulgação de informação que pode “causar medo ou alarme” ou “afectar a paz pública”; e uma acusação de usar equipamento de telecomunicações sem licença.
A próxima audição de Aung San Suu Kyi foi marcada para 15 de Março.
Os protestos começaram na Birmânia após a tomada do poder pelos militares, a 1 de Fevereiro, num golpe contra a alegada fraude nas eleições de Novembro, ganhas de forma esmagadora pelo partido de Suu Kyi.
Ao mesmo tempo que Suu Kyi prestava declarações ao tribunal através de videoconferência, a polícia usava granadas de gás lacrimogéneo para dispersar os manifestantes em Rangum, a maior cidade do país.
Para além do protesto contra o golpe militar, os manifestantes voltaram a desafiar as forças de segurança por causa da repressão de domingo, que fez pelo menos 18 mortos e 30 feridos em vários pontos do país.
“Temos de continuar a protestar, aconteça o que acontecer”, disse Thar Nge, um representante das Nações Unidas, à Reuters. “Este é o meu bairro. É um bairro tranquilo, mas agora ouvimos tiros e não nos sentimos seguros em casa.”
A junta militar ainda não comentou os acontecimentos de domingo e a polícia e os porta-vozes do Exército não responderam a chamadas telefónicas.
"Mundo tem de agir"
O golpe travou o que parecia ser um caminho lento, mas seguro, em direcção à democracia na Birmânia, ao fim de quase 50 anos de ditadura militar. No último mês, centenas de milhares de pessoas foram para as ruas em protesto, e o golpe – e a repressão violenta que se seguiu – foi condenado pelos países ocidentais.
O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, denunciou a “violência aberrante” das forças de segurança, e o ministro dos Negócios Estrangeiros do Canadá, Marc Garneau, disse que o uso da força pelos militares birmaneses é “horrível”.
Tom Andrews, um dos observadores das Nações Unidas que fazem o acompanhamento da situação dos direitos humanos na Birmânia, disse ser claro que o ataque da junta militar vai continuar, e apelou a uma resposta mais firme da comunidade internacional.
O responsável propôs um embargo à venda de armas e o reforço das sanções contra os líderes militares, para além de recomendar ao Conselho de Segurança da ONU que remeta o caso para o Tribunal Penal Internacional.
“As palavras de condenação são bem-vindas, mas são insuficientes. Temos de agir”, disse Tom Andrews num comunicado.
“O pesadelo que está em curso na Birmânia debaixo dos nossos olhos vai ficar pior. O mundo tem de agir.”