George Orwell: o presente de 1984 continua a ser agora
A data é simbólica. 1984, o derradeiro romance de George Orwell, refere-se a um lugar, a um mundo ameaçado pela censura, pelo terror, pela ausência de pensamento. O objectivo é manter o poder do Grande Irmão à custa do apagamento do passado, através da mentira. 1984 é agora? Fazer a pergunta, alto, é uma forma de detectar sinais de ameaça.
Quando se está livremente a ler 1984 é porque não se está no mundo de 1984. Mas, quando o lemos, estamos cientes do aviso, do alerta, das ameaças à democracia, às liberdades pessoais, à defesa dos direitos humanos que qualquer espécie de ismo pode representar. 1984 — ou Mil Novecentos e Oitenta e Quatro, como foi publicado originalmente —, não é um panfleto político, nem uma tentativa de prever o futuro, nem um manifesto datado ou sequer uma profecia. É uma exortação em forma de especulação literária construída ao ponto de poder ser aplicada a cada momento da História desde que foi publicada, em 1949, catorze anos depois de George Orwell, recém-regressado da Guerra Civil Espanhola, ter dito ao seu amigo, o jornalista e activista Arthur Koestler, que a História tinha acabado em 1936, o ano em que o terror e o totalitarismo tomou conta de Espanha. “A história acabou, e começava Mil Novecentos e Oitenta e Quatro”, escreveu Doryan Lynskey em The Ministry of Truth, biografia do romance de Orwell, escrita quando passavam 70 anos da sua publicação, em 2019.
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