Adiar segunda dose permitiria vacinar “mais 200 mil” idosos até final de Março
Coordenador da task force para plano de vacinação contra covid-19 adianta que está a ser equacionada a possibilidade de vacinar numa fase mais precoce estudantes de Medicina, de Farmácia e “todos os que operam em contexto hospitalar” porque também estão em risco.
O coordenador da “task force” do plano de vacinação contra a covid-19, vice-almirante Henrique Gouveia e Melo, adiantou esta quarta-feira que o adiamento da administração da segunda dose das vacinas “até às duas semanas” está a ser estudado pela Direcção-Geral da Saúde e o Infarmed a pedido do seu grupo de trabalho.
Este alargamento permitiria inocular mais 200 mil idosos a partir dos 80 anos até ao final de Março, especificou durante uma audição na Comissão de Saúde na Assembleia da República. E vacinar “uma ou duas semanas mais tarde praticamente não vai” implicar “grande variação no processo de defesa da pessoa” que já tomou a primeira dose, justificou.
O PÚBLICO sabe que está também em estudo a hipótese de este alargamento ser inferior, apenas uma semana, menos do que foi proposto pela Comissão Técnica de Vacinação contra a covid-19 da DGS, que em Janeiro recomendou um adiamento de três semanas da vacina da Pfizer, ou seja, 42 dias no total. A segunda dose da vacina da Pfizer está a ser dada com um intervalo de três semanas, enquanto a da Moderna é administrada com um intervalo de quatro.
Em Janeiro, o ex-coordenador da “task force” para o plano de vacinação contra a covid-19, Francisco Ramos, explicou que a proposta da comissão técnica da DGS não tinha passado porque Portugal estava a aguardar a avaliação da Agência Europeia do Medicamento (EMA, na sigla em inglês) sobre a vacina da Pfizer. A EMA recomendou entretanto que se respeite o que está estipulado na bula da vacina, por ser escasso o número de pessoas sujeitas a um maior intervalo entre doses nos ensaios clínicos levados a cabo pela farmacêutica.
Face à escassez de vacinas que vão chegando a Portugal na primeira fase do plano, esta possibilidade volta agora a ser equacionada a pedido da “task force”. A antecipação da vacinação, considerou Gouveia e Melo durante a audição parlamentar, é “um princípio bom” porque permitirá dar “protecção de 70%” a milhares de idosos e ficar mais perto da meta da Comissão Europeia – vacinar 80% as pessoas com mais de 80 anos até ao final de Março.
Lembrou, a propósito, que há um “constrangimento” suplementar que impede a vacinação mais rápida deste grupo prioritário na primeira fase do plano, o facto de a vacina da AstraZeneca – cuja segunda dose é dada com um intervalo bem mais alargado, de 12 semanas – não poder, por enquanto, ser administrada a pessoas acima dos 65 anos.
"Desviar” enfermeiros para postos de vacinação rápida
Quanto à última previsão de entrega de vacinas, Gouveia e Melo repetiu que chegarão a Portugal 2,5 milhões de doses no primeiro trimestre, nove milhões no segundo, 14,2 no terceiro e 9,5 milhões no último. Se as entregas se confirmarem, voltou a dizer que Portugal pode atingir “a imunidade de grupo”, com “70%” de pessoas vacinadas, no “início de Agosto”. Questionado sobre os anunciados atrasos na entrega de vacinas pela AstraZeneca, admitiu que poderá ser preciso ajustar o plano actual.
Adiantou ainda que pediu às administrações regionais de saúde “metodologias para levar as vacinas às pessoas” idosas isoladas ou acamadas e reiterou que as prioridades definidas servem em primeiro lugar para “salvar vidas” e, depois, para ganhar “resiliência na resposta do Estado” e libertar e a economia e a sociedade. “Olho mais para isto do que para as fases”, afirmou, justificando a concentração de esforços no objectivo de vacinar primeiro os mais idosos.
Revelou também que está a ser equacionada a possibilidade de vacinar numa fase mais precoce os estudantes de Medicina, de Farmácia e “todos os que operam em contexto hospitalar” e que estão igualmente em risco: “Estamos a estudar as listas para depois os priorizar”.
Como os centros de saúde estão sob grande pressão com outras tarefas, o vice-almirante explicou que há agora duas hipóteses em análise: ou mantê-los como estão actualmente a funcionar, vacinando as pessoas ao ritmo que conseguem; ou “desviar” enfermeiros dos centros de saúde e pô-los em postos de vacinação rápida. Mas assegurou que há “abertura” para contratar mais recursos para a operação e que também se poderá recorrer às farmácias.
Os 30% de enfermeiros dos centros de saúde que podem ficar alocados à vacinação contra a covid-19 conseguirão fazer entre 40 mil a 70 mil inoculações por dia, este último valor em “esforço”, mas é preciso chegar às 100 mil no segundo trimestre, avisou. Por isso é necessário encontrar alternativas para quando começarem a chegar grandes quantidades de doses a Portugal.
Questionado pelos deputados, garantiu que a vacinação dos profissionais de saúde do sector privado – já foram inoculados 17% – vai ser aumentada “fortemente” em breve. “O grande problema é organizar a administração das vacinas” neste grupo, explicou.