Costa e Marcelo apoiam Guterres por carta e telefone
Numa carta de duas páginas enviada ao presidente da Assembleia-Geral da ONU, António Costa elogia o primeiro mandato de António Guterres e defende que os próximos anos exigem “continuidade” de quem já deu provas de estar à altura do cargo.
Foi com uma carta e um telefonema que São Bento e Belém expressaram ontem o apoio à recandidatura de António Guterres a secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU). António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa elogiaram o desempenho do antigo governante português nas Nações Unidas, durante um período especialmente “doloroso” e “desafiante”, argumentando que, no momento de incerteza que o mundo atravessa, a continuidade de alguém que “deu provas do seu compromisso" é a escolha certa para as adversidades dos próximos cinco anos.
Numa carta de duas páginas A4 endereçada ao presidente da Assembleia-Geral da ONU, o diplomata turco Volkan Bozkir, e à presidência do Conselho de Segurança, este mês assegurada pelo Reino Unido, António Costa vinca que é “indispensável que os candidatos já tenham demonstrado a sua capacidade de liderança e gestão” bem como “a sua extensa experiência em relações internacionais e diplomáticas”, o que “António Guterres demonstrou ter durante o seu actual mandato”.
O primeiro-ministro destaca que foram “cinco anos particularmente difíceis”, quer para a ONU quer para o mundo, e que Guterres demonstrou “um compromisso inabalável” na “manutenção da paz e segurança, na promoção de direitos humanos e no progresso pelo desenvolvimento sustentável”. Desafios que, argumenta o Governo português, exigem continuidade. “A pandemia covid-19 testou-nos a todos e as Nações Unidas não foram excepção”, argumenta Costa, acrescentando que a liderança de Guterres foi “fundamental”.
Em 2016, antes da eleição de António Guterres, o então secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, defendeu que o cargo deveria ser desempenhado por uma mulher – o que até agora nunca aconteceu. Ainda que não se conheça mais nenhum candidato ou candidata, a questão da representatividade e igualdade de género também é referida na carta assinada por António Costa. O primeiro-ministro defende que a luta pela igualdade de género “tem sido um pilar” na acção de Guterres, nomeadamente na defesa da paridade na própria ONU através das várias reformas que implementou enquanto secretário-geral.
Horas depois de a carta ter sido formalmente assinada, também Marcelo Rebelo de Sousa fez saber que já tinha ligado a Guterres para lhe transmitir o seu “caloroso apoio” a um novo mandato. Numa nota publicada no site da Presidência, o chefe de Estado afirmou que o antigo político português “é a pessoa certa para continuar a promover o imprescindível papel e a reforma” das Nações Unidas.
Guterres promete ser digno da confiança dos portugueses
Também o presidente da Assembleia da República, o socialista Eduardo Ferro Rodrigues, saudou a recandidatura, afirmando que o secretário-geral da ONU “ilustra bem o propósito nobre e universalista das Nações Unidas” enquanto “construtor de paz, trabalhador incansável em prol da dignidade e do valor da pessoa, defensor do Direito Internacional”. Ferro Rodrigues, que em 2002 sucedeu a António Guterres na liderança do PS, diz ser “uma honra para Portugal” que Guterres desempenhe este cargo e não poupou elogios ao “homem de modernidade, cidadão do mundo, construtor de pontes, empenhado nas grandes questões da agenda internacional, nas imediatas e nas estruturantes do nosso futuro comum”.
Em reacção à carta e ao telefonema, António Guterres disse estar “agradecido” pelo apoio e prometeu fazer “tudo o que puder para ser digno dessa confiança”. A mensagem foi transmitida por Stéphane Dujarric, porta-voz do secretário-geral da ONU, numa resposta enviada à agência Lusa.
António Guterres assumiu o cargo de secretário-geral da ONU em Janeiro de 2017 e verá o seu mandato terminar no final deste ano. O ex-primeiro-ministro já tinha comunicado à presidência da Assembleia-Geral e do Conselho de Segurança que estava “disponível para um segundo mandato como secretário-geral das Nações Unidas, se essa for a vontade dos Estados-membros”.
Em meados de Janeiro também o PSD manifestou o apoio à candidatura de António Guterres a um novo mandato como secretário-geral das Nações Unidas. Em comunicado, a comissão política não poupou elogios à forma como o antigo primeiro-ministro português exerceu o cargo internacional, destacando sobretudo o seu contributo para a paz.
O processo de eleição do próximo secretário-geral arrancou este mês, com um pedido das Nações Unidas aos 193 Estados-membros para que submetam os nomes de candidatos ao cargo.