Sindicato acusa Zoo de Lisboa de forçar despedimentos, empresa admite saídas por “mútuo acordo”

Zoo nega despedimento colectivo e diz que está a decorrer “uma reestruturação da empresa com alguns dos seus funcionários por mútuo acordo”. Sindicato diz que estão a ser dispensados funcionários com mais anos de casa.

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Andreia Gomes Carvalho

Um sindicato acusou esta terça-feira o Jardim Zoológico de Lisboa de estar a forçar dezenas de trabalhadores a despedirem-se, acusações negadas pela empresa, que admite que está a decorrer uma “reestruturação”, mas “por mútuo acordo”.

De acordo com Rui Matias, do Sindicato dos Trabalhadores da Agricultura e das Indústrias de Alimentação, Bebidas e Tabacos de Portugal (SINTAB), “a empresa está a fazer um despedimento encapotado”, reunindo com trabalhadores “para dizer que têm de se despedir”, dando-lhe um prazo de dias para darem uma resposta.

“Estão a forçar os trabalhadores a despedir-se com a ameaça de que ou se despedem ou a empresa inicia um processo de extinção do posto de trabalho, acabando com a profissão que o trabalhador eventualmente tenha naquele local de trabalho”, disse.

Rui Matias destacou que estão a ser chamados trabalhadores de todas as áreas, desde bilheteiras, tratadores de animais - nomeadamente do “delfinário” e “reptilário" — e da manutenção. “São entre 30 a 40 trabalhadores que a empresa até este momento já contactou para fazer o seu despedimento compulsivo”, afirmou.

Pelo seu lado, em resposta à Lusa, o Jardim Zoológico destacou que “não efectuou até à data nenhum despedimento colectivo”, mas admitiu que está a decorrer “uma reestruturação da empresa com alguns dos seus funcionários por mútuo acordo”.

O Zoo de Lisboa assegurou também que os valores apresentados para que os trabalhadores deixem a empresa “estão perfeitamente enquadrados dentro da actual legislação” e são “acordados com os funcionários”.

A empresa lembrou ainda que “o Jardim Zoológico encerrou portas pela segunda vez no decorrer desta pandemia, não tendo tido qualquer tipo de apoios até ao momento”, mas, mesmo assim, “não iniciou um processo de despedimento colectivo, assumindo como prioridade inegável os interesses e segurança dos seus colaboradores e animais”.

No entanto, para o sindicalista, a empresa está a evitar recorrer à extinção dos postos de trabalho porque “depois não consegue contratar ninguém durante um período de tempo para aquele posto extinto”.

“Imaginemos um tratador dos felinos - e há esses casos. A empresa extingue o tratador dos felinos e depois como vai ser? O Jardim Zoológico vai deixar de ter felinos ou não vão ser tratados pelos tratadores certificados?”, exemplificou.

Para Rui Matias, o que está em causa é “uma limpeza de quadros, para mandar embora aqueles trabalhadores que eles consideram indesejáveis, os que neste período reivindicaram alguns direitos, aqueles trabalhadores que estão com um salário um pouco mais alto, no topo das carreiras”.

“Se fosse um despedimento colectivo, evidentemente eram colocados uma série de procedimentos e a empresa não controlava quem despedia. Desta forma, está a escolher quem tem mais peso na empresa”, defendeu.

O sindicalista considerou ainda que as propostas que a empresa está a apresentar para que os trabalhadores rescindam são valores na ordem do que receberiam “se fosse um despedimento colectivo”, que considerou “não serem dignos nem valerem a pena para que um trabalhador se reforme mais cedo”.

“As propostas que estão a fazer aos trabalhadores são baixíssimas e posso dar um exemplo: tenho acompanhado isto há cerca de 12 dias, mas ontem [segunda-feira] foram chamados seis trabalhadores. Um deles tem cerca de 29 anos de Jardim Zoológico e a proposta que lhe fizeram foi a de receber 12 mil euros para sair”, disse, acrescentando que o Jardim Zoológico tem à volta de 150 trabalhadores efectivos, além de colaboradores no âmbito de estágios.